Ficha do Proponente
Proponente
- Patricia de Oliveira Iuva (UFSC)
Minicurrículo
- Professora do Curso de Cinema, na Universidade Federal de Santa Catarina. Doutora em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Bacharel em Publicidade e Propaganda pelo Curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Maria. Áreas de interesse: semiótica crítica, paratextos audiovisuais (trailers, making ofs), montagem cinematográfica, teoria do cinema, cinema queer.
Ficha do Trabalho
Título
- Desvelando o espaço da dupla autoria nos making ofs documentários
Seminário
- Teoria dos Cineastas
Resumo
- A proposta deste trabalho discute o encontro entre as instâncias diretivas autorais na expressão artística do making of documentário, tomando como horizonte teórico a construção social da autoria (Bourdieu) e a noção da dialética do olhar proposta por Didi-Huberman (2010). Analisamos o espaço autoral do diretor do MDoc sob a perspectiva de uma relação de dupla distância com o filme – a qual evoca sentidos que reverberam no estabelecimento do que estamos considerando uma noção de dupla autoria.
Resumo expandido
- A proposta desta apresentação encerra um ciclo de trabalhos apresentados nos encontros anteriores da Socine, referente à tese de doutorado intitulada “Encontros possíveis: as relações de autoria entre instâncias diretivas no campo do making of”. O objeto da pesquisa, os making ofs documentários (MDocs), enquanto produtos extrafílmicos presentes nos DVD’s/BD’s colecionáveis, suscita diversas questões acerca do audiovisual. Na perspectiva deste trabalho a reflexão recai sobre a dimensão da relação que ocorre no nível da autoria, considerando a hipótese de uma noção de dupla autoria que se instaura num processo dialético do olhar entre o diretor autor do making of e o diretor auteur do filme. Tendo como ponto de partida a natureza relacional (e metatextual) dos making ofs documentários com o filme, assumo destarte a diferenciação entre o diretor autor do making of e o diretor auteur do filme por dois motivos: (1) pela posição que os diretores auteurs dos filmes ocupam no campo do cinema ficcional, já legitimados e reconhecidos; (2) e como uma escolha metodológica a fim de facilitar o leitor, situando o mesmo de forma clara e diferenciada para saber quando estivermos falando da autoria do making of e da autoria do filme. Compreendo que o espaço autoral do diretor do MDoc se constrói socialmente e se define no seu modo de olhar o outro (o filme e seu diretor auteur). Ou seja, diz respeito a um processo que localiza a construção social da autoria para, posteriormente, analisar como se dá a relação desse encontro entre as instâncias diretivas autorais na expressão artística do making of documentário, tomando como horizonte teórico a noção da dialética do olhar proposta por Georges Didi-Huberman (2010). Em outras palavras, do mesmo modo que o diretor autor do making of olha ao filme e seu diretor auteur, ambos o olham de volta, numa relação de dupla distância. Nesse jogo, o MDoc constitui, em diferentes níveis, uma imagem crítica do filme, sob a qual se entrelaçam discursos, variações de pontos de vista dos agentes e processos produtivos, memórias de uma dada experiência e condições históricas de sua possibilidade. A abordagem metodológica opera a análise de um fenômeno cultural com viés sociológico– o MDoc – ao mesmo tempo em que aponta para uma reflexão que considera as relações imbricadas a partir da produção das imagens. Entendo que o modo como o diretor autor constrói seu olhar está diretamente relacionado com o modo como o diretor auteur do filme se deixa olhar nessa relação. Isto é, o sujeito da câmera tem sua ação modulada pela forma como o sujeito que se coloca para a câmera se autorrepresenta. O diretor auteur do filme se constitui enquanto sujeito para a câmera, visto que ele se confronta com sua própria história no fazer de um determinado filme; o diretor autor do making of se apresenta enquanto sujeito da câmera, cujo olhar e voz inscritos na montagem das cenas denotam os limites das suas possibilidades, as quais dizem respeito à sua posição social no campo. Sendo assim, desse encontro vislumbra-se a possibilidade de dois tipos de relação que se assumem enquanto instância de mediação da dialética do olhar: autor voyeur – auteur exibicionista e autor flâneur – auteur dândi. A fim de dar conta dos procedimentos analíticos dessa relação, o corpus se constitui da seguinte forma: Burden of Dreams (de 1982, direção de Les Blank) – making of do filme Fitzcarraldo (de 1982, dirigido por Werner Herzog); Dangerous Days: making Blade Runner (2007, direção de Charles de Lauzirika) – making of do filme Blade Runner (de 1982, direção de Ridley Scott). Trata-se reconhecer de que no escopo da problemática da pesquisa – a noção de dupla autoria –, importam tanto as obras e seus autores quanto seu contexto produtivo, uma vez que é através dessas complexas relações que vislumbro a possibilidade de se desvelarem princípios revisionistas acerca do funcionamento da autoria no campo do cinema.
Bibliografia
- BENJAMIN, Walter. [et al.]. Benjamin e a obra de arte – técnica, imagem, percepção. Rio de Janeiro: Editora Contraponto, 2012.
_________________. A modernidade e os modernos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2000.
BOURDIEU, Pierre. Razões práticas – sobre a teoria da ação. 7ª Ed. Campinas, SP: Papirus, 1996b.
CAUGHIE, John. Authors and auteurs: the uses of theory. In: Donald, J. and Renov, M. (eds.) The SAGE Handbook of Film Studies. Sage, London, UK, 2007.
DIDI-HUBERMAN, Georges. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Editora 34, 2010.
________________________. Diante da imagem. São Paulo: Editora 34, 2013.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Apagar os rastros, recolher os restos. In: Walter Benjamin – rastro, aura e história. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012.
GRAY, Jonathan. Show Sold Separately: Promos, Spoilers, and Other Media Paratexts. New York University Press, 2010.
LUCCHESI, Ivo. Do flâneur ao voyeur: a crise da(s) modernidade(s). Revista Tempo Brasileiro, número 141: RJ, 2000.