Ficha do Proponente
Proponente
- Lucas Procópio Caetano (UNICAMP)
Minicurrículo
- Graduado em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), onde desenvolveu pesquisa de Iniciação Científica com o grupo GEMInIS (Grupo de Estudos Sobre Mídias Interativas em Imagem e Som) em colaboração com o OBITEL (Observatório Iberoamericano de Ficção Televisiva, núcleo UFSCar). Mestrando no Programa de Pós-Graduação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Possui interesse no campo de História e Teoria do Cinema com ênfase no estudo de gêneros cinematográficos.
Ficha do Trabalho
Título
- Medos imaginados: o modo horror no cinema brasileiro contemporâneo
Resumo
- A partir do recente e significativo aumento na produção de longas-metragens que exploram as possibilidades do horror no cinema brasileiro, este trabalho visa discutir brevemente o que aparenta ser uma espécie de eixo de filmes que se aproximam dos elementos do gênero de novas maneiras, sem necessariamente obedecer as estruturas estabelecidas.
Resumo expandido
- Este trabalho é uma extensão da pesquisa de mestrado realizada no Programa de Pós-Graduação em Multimeios da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), intitulada “Medo de novo: os filmes de horror no cinema brasileiro contemporâneo”, cujo foco é a produção de filmes de horror brasileiros recentes.
Em 6 de julho de 2017, o jornalista Steve Rose, do jornal britânico The Guardian, publicou o texto How post-horror movies are taking over cinema, no qual ele propõe o termo pós-horror para designar filmes que ‘quebram as regras’ do gênero ao não corresponderem determinadas expectativas que o gênero nutre no público. Imediatamente o artigo foi rebatido por outros jornalistas e nas redes sociais. A principal queixa seria de que o termo proposto por Rose dá a entender que o gênero horror já havia sido superado e os tais filmes de ‘pós-horror’ seriam superiores a outros exemplares do gênero. Estas são críticas válidas, mas afinal, de onde partiria esta percepção que tanto causou polêmica?
Adaptando a questão para o cinema brasileiro, nota-se um significativo aumento na produção de longas-metragens que em maior ou menor grau dialogam com o horror, na qual identifica-se primordialmente dois eixos. O primeiro seria composto por filmes que se indexam como pertencentes ao gênero horror e o fazem de forma inequívoca – nesta categoria, podem ser incluídos títulos como “O Rastro” (J.C. Feyer, 2017) e “Condado Macabro” (Marcos DeBrito e André de Campos de Mello, 2015). Já o segundo eixo é caracterizado por obras cuja relação com o horror se dá de forma menos óbvia, onde elementos flagrantes do gênero podem ser identificados, porém com certa recusa a modelos estruturais estanques.
No texto “Horrores do Brasil”, publicado na 61ª edição da revista Filme Cultura, intitulada “O cinema de gênero vive!”, a pesquisadora Laura Loguercio Cánepa tenta compreender estes filmes que, segundo ela, privilegiariam temáticas sociais em narrativas que articulam certos elementos consagrados do gênero e com ele estabelecem proximidades com o intuito de refletir as agruras da sociedade brasileira contemporânea. Contudo, não se trataria do “horror-gênero, mas daquele entendido como representação do que sentimos diante de ameaças de explosões de violência” (CÁNEPA, 2014, p.37).
Alguns dos temas retratados são a herança escravocrata, o medo da classe média e as dinâmicas tóxicas nas relações de trabalho capitalistas. Alguns dos filmes que podem ser citados são “Os Inquilinos” (Sergio Bianchi, 2009), “O Fim da Picada” (Christian Saghaard, 2009), “Trabalhar Cansa” (Juliana Rojas e Marco Dutra, 2011) e ainda “O Som ao Redor” (Kleber Mendonça Filho, 2012).
Esta análise será focada em três filmes essencialmente. O primeiro será “Mate-me Por Favor” (2016), de Anita Rocha da Silveira, sobre um assassino de jovens mulheres que interrompe o pacato cotidiano de um grupo de adolescentes de classe média da capital carioca; “Aquarius” (2016), de Kleber Mendonça Filho, onde uma mulher luta para que o edifício onde mora não seja demolido para dar lugar a um novo empreendimento imobiliário; e “As Boas Maneiras”, filme dirigido por Juliana Rojas e Marco Dutra e que narra a trajetória de duas mulheres de classes sociais diferentes que geram e criam um menino que se transforma em lobisomem em noites de lua cheia.
A partir desta constelação de filmes, este trabalho visa discutir o que chamaremos de modo horror, termo tributário ao conceito de modo melodramático que o autor Peter Brooks trabalha em seu livro The melodramatic imagination: Balzac, Henry James, Melodrama, and the Mode of Excess. Trata-se da ideia de que estas obras abordariam o horror a partir de uma imaginação compartilhada do que seriam suas principais marcas, mas sem fazer uso de estruturas genéricas convencionais. Desta forma, buscamos aqui elaborar aportes que nos permitam discutir novas percepções acerca do gênero.
Bibliografia
- BROOKS, P. The melodramatic imagination: Balzac, Henry James, Melodrama, and the Mode of Excess. New Haven and London: Yale University Press, 1995.
CÁNEPA, Laura. Medo de quê? Uma história do horror nos filmes brasileiros. Tese de doutorado (Multimeios) – Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, SP, 2008.
CÁNEPA, Laura. Horrores do Brasil. Filme Cultura 61, novembro 2013 – janeiro 2014, p. 33-37.
NEALE, Stephen (1980) Genre. In: JANKOVICH, Mark (Org.). Horror, the film reader. Londres: Routledge, 2002.
PIEDADE, Lúcio F. Reis. O pasteleiro: um exercício de sexo e horror no cinema brasileiro. In: LYRA, Bernadette; SANTANA, Gelson. Cinema de bordas. São Paulo: Editora a Lápis, 2006.
SOUTO, Mariana. O que teme a classe média brasileira? Trabalhar Cansa e o horror no cinema brasileiro contemporâneo. In: Revista Contracampo, nº25, 2012. Niterói: Contracampo, 2012. p. 43-60.