Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Iasha Nur Oliveira Salerno (UFSCar)

Minicurrículo

    Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos, é bacharel em Audiovisual pela mesma universidade. Foi bolsista Pibic/Cnpq de Iniciação Científica com o projeto intitulado “Desconstruindo para construir: Análise do documentário musical Fabricando Tom Zé”. Seus estudos dedicam-se à cinematografia brasileira contemporânea e a sua relação com a música. Também produz conteúdos audiovisuais na área de fotografia e vídeo.

Ficha do Trabalho

Título

    O céu reluzente e ressoante: o brega de Hermila

Resumo

    Partindo do filme O Céu de Suely (Karim Ainouz, 2006) analisaremos de que maneira o uso da canção brega constrói o universo da protagonista. Para isso, nos propomos a realizar um mapeamento dos caminhos que as canções fazem pela cultura e pelo mercado, como suas características estéticas e seus aspectos sociológicos se conjugam à narrativa fílmica e quais as contradições e potências extraídas do diálogo entre as canções utilizadas na trilha musical e o existir feminino de Hermila.

Resumo expandido

    A presente comunicação é parte da dissertação de mestrado intitulada “Trajetórias femininas musicadas pelo brega: Análise dos filmes O Céu de Suely (2006) de Karim Ainouz e Amor, Plástico e Barulho (2015) de Renata Pinheiro”, atualmente em fase de desenvolvimento. Neste recorte iremos abordar o início das investigações acerca do diálogo que se estabelece entre o uso das canções bregas e o universo da protagonista Hermila, em O Céu de Suely.
    Em consonância com os estudos musicais no cinema que clamam por análises musicais que levem em consideração a interação com a cultura e o mercado, nos propomos a não só entender os efeitos das canções dentro da narrativa fílmica, mas que mecanismos e estratégias são utilizadas nas composições e que camadas de significados são agregadas ao filme a partir dos caminhos que elas fazem antes, durante e após o encontro com o cinema. Assim, a partir da análise de sequências e canções específicas buscamos entender o que é a música brega e como a canção brega presente no filme nos é apresentada, quais os seus aspectos estéticos e musicais e de que maneira se dá o diálogo entre as características históricas e mercadológicas desse segmento musical e o seu uso dentro da esfera fílmica.
    Além dessa primeira aproximação, passamos a observar também os aspectos sociológicos que atravessam a música brega. Não só as marcas de classe e a valoração negativa que historicamente recebeu, mas também o encontro entre amor, práticas românticas e o mercado. Adentrando o campo da sociologia do amor, utilizamos como principal referência a socióloga Eva Illouz (2009). A partir da trajetória traçada pela autora, é possível situar historicamente a recorrência do amor em produtos que circulam pela cultura e entender que essa recorrência não está livre de questões econômicas e políticas. O amor narrado, encenado e cantado alimenta mercados e ao mesmo tempo que molda, é moldado pela interação que vai se estabelecendo entre as pessoas e esses mesmos mercados. Compreender o popular ligado à expressão dos sentimentos, e não ao retraimento, como coloca Barbero (2007), também nos dá dicas para entender a explicitação de condutas amorosas e sexuais próprias das temáticas bregas. Dando sequência às investigações, analisaremos, então, de que maneira essas questões sociológicas, próprias ao segmento musical, aparecem no filme. A personagem deixa transparecer algum ideal de amor ou vida romântica? Se sim, de que forma ele é explorado pelas canções que acompanham a narrativa? Qual o papel dessas canções na apresentação da protagonista? Como se dá essa apresentação? Como é construido o diálogo entre essas canções e o existir feminino de Hermila? Há contradições entre as canções utilizadas e a sua personalidade? Quais as tensões e potências que podem ser extraídas dessas contradições?
    Estas questões, em conjunto com a análise de sequências específicas do filme, serão discutidas a partir de duas chaves, a da análise musical, seguindo, principalmente, os paradigmas colocados por Jeff Smith (1998) e Anahid Kassabian (2001) e a dos estudos feministas, como os de Teresa de Laurentis (1987) e Judith Butler (2003).
    É, portanto, nosso intuito, levantar questões e encontrar possíveis caminhos de interpretação para a relação que se estabelece entre a trilha musical e a protagonista do filme, ou seja, de que forma e em que medida a canção brega dialoga e constrói o universo de Hermila.

Bibliografia

    ARAÚJO, Paulo César. Eu não sou cachorro não: Música Popular Cafona e Indústria Cultural. Rio de Janeiro: Record, 2005, 5ª ed.
    BUTLER, Judith. Problemas de gênero – Feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2003.
    ILLOUZ, Eva. El consumo de la utopia romântica: el amor y las contradiciones culturales del capitalismo. Buenos Aires: Katz Ediciones, 2009.
    KASSABIAN, Anahid. Hearinf film: Tracking Identifications in Contemporary Hollywood Film Music. New York/London: Routledge, 2001.
    LAURENTIS, Teresa de. The Technology of Gender In: Technologies of gender. Indiana University Press, 1987, pp. 1-30.
    MARTIN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações – comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: EdUFRJ, 2007, 7ª ed.
    SMITH, Jeff. The Sounds of Commerce: Marketing popular film music. New York: Columbia University Press, 1998.
    SOARES, Thiago. “Ninguém é perfeito e a vida é assim”: a música brega em Pernambuco. Recife: Carlos Gomes, 2017.