Ficha do Proponente
Proponente
- Geovany Hércules Mendes Limão (UAM)
Minicurrículo
- Formado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Anhembi Morumbi (2015),
atualmente é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da
Universidade Anhembi Morumbi e bolsista CAPES/PROSUP (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior/Programa de Suporte à Pós-graduação de
Instituições de Ensino Superior) com a pesquisa “A representação das periferias no
cinema de Carlos Reichenbach: um olhar de afeto”, orientado pela Professora e Doutora
Sheila Schvarzman.
Ficha do Trabalho
Título
- Produção de presença nos filmes sobre periferias de Carlos Reichenbach
Resumo
- Este artigo observa a representação das periferias de Carlos Reichenbach em três de seus
filmes que abordam esse universo, Anjos do Arrabalde – As Professoras (1987), Garotas
do ABC – Aurélia Schwarzenega (2003) e Falsa Loura (2007), através dos conceitos do
teórico da literatura Hans Ulrich Gumbrecht, como produção de presença, stimmung e
acoplagem. O objetivo é demonstrar que a produção de presença é elemento fundamental
na representação humana e afetiva das periferias de Reichenbach.
Resumo expandido
- A representação da periferia é um dos grandes focos de interesse do cinema
brasileiro. Geralmente entende-se que o termo periferia se refere às áreas ao redor de um
centro urbano e muita das vezes ele é empregado para se referir às favelas ou comunidades
que ocupam esse espaço. É comum também carregarem o sentido do termo de
negatividade por causa da notória desigualdade entre as áreas periféricas de uma cidade
em comparação ao seu centro, a precariedade da infraestrutura urbana somada à carência
de educação, saúde, segurança, cultura e opções de lazer, revelam o contraste das regiões
periféricas em relação aos bairros nobres (DOMINGUES 1995, p. 5). Muito do olhar que
o cinema brasileiro lançou para esse universo a partir do século XX, e principalmente
XXI, oscilou entre visões criminalizadas, marginalizadas, românticas e paternalistas da
periferia, várias delas bem-intencionadas, no entanto com problemas e ressalvas. Grande
parte dessas representações espelham mais o imaginário daqueles que as produzem,
deixando de representar a grande maioria das pessoas que vivem nesses espaços que,
mesmo inseridos numa realidade mais adversa, enfrentam essas dificuldades e buscam
viver com dignidade, não sendo apenas marginais, criminosas ou coitadinhas, mas
pessoas como todas as outras, trabalhadores e estudantes. É nesse último aspecto que
Carlos Reichenbach constrói sua visão.
Diretor plural e anárquico, Carlos Reichenbach (1945-2012) possui um estilo
idiossincrático marcado tanto pela despretensão quanto pela elegância. Leitor e cinéfilo
voraz, os seus filmes são marcados tanto por citações filosóficas e literárias quanto por
referências cinematográficas. O seu cinema é um cinema de extremos e paradoxos, sua
linguagem subversiva mistura o erudito e o popular, a poesia e o deboche. A sua trajetória,
que se inicia no fim dos anos 60, perpassa por diversos momentos importantes da história do cinema brasileiro, como Cinema Marginal, Boca do Lixo, Embrafilme, Retomada e
Contemporaneidade. O seu cinema contrabandista trabalhou com gêneros diferentes em
busca de subvertê-los para construir um cinema pessoal e autoral. Influenciado também
pelo cinema do italiano Valério Zurlini e dos japoneses, Shohei Imamura e Yasuzo
Masamura, outra de suas preocupações é o trabalho com o cinema da alma (LYRA 2004,
p. 26), cinema constituído pelos afetos e que trabalha com os sentimentos humanos,
originando filmes sensíveis e pungentes. Dentre os muitos temas que lhe são caros, como
utopia, anarquia, paraíso, subversão, erotismo, amores impossíveis, personagens
ambíguos, encontra-se também a figura do outro e as periferias.
Em filmes diferentes nas suas propostas e nos seus temas, como Lilian M –
Relatório Confidencial, Sonhos de Vida (curta, 1979), Amor, Palavra Prostituta, As
Safadas (episódio inicial A Rainha do Flipper, 1982), City Life (episódio Desordem em
Progresso, 1990) e Alma Corsária (1994), temos protagonistas femininas ou masculinas
e personagens coadjuvantes pertencentes às camadas populares e o que se percebe nessa
representação é um tratamento humanista, conforme vamos definir no decorrer desse
trabalho, que não julga ou determina claramente seus personagens, permitindo ao
espectador, antes de tudo, vê-los, quem sabe, ter empatia, o que entendemos por “olhar
de afeto”. No levantamento da sua obra observamos que esse olhar de afeto se estende
também a seus filmes que abordam o universo periférico pela perspectiva de suas
protagonistas femininas. Dessa forma, o objetivo desse artigo é mostrar como a trajetória
de vida de Carlos Reichenbach em São Paulo e sua formação cultural, principalmente
cinéfila, foram determinantes na construção de sua representação humana e afetiva das
periferias no seu cinema, para isso recorremos aos conceitos de Hans Ulrich Gumbrecht,
como produção de presença (GUMBRECHT 2010, p. 13), stimmung (GUMBRECHT
2014, pp.12; 17-20) e acoplagem (GUMBRECHT 1998, pp. 148-149).
Bibliografia
- DOMINGUES, Álvaro. (Sub) úrbios e (sub) urbanos – o mal estar da periferia ou a
mistificação dos conceitos? Portugal: Revista da Faculdade de Letras – Geografia, Série
I, v. 11, 1995. p. 5-18.
GUMBRECHT, Hans Ulrich. Corpo e forma: ensaios para uma crítica não-
hermenêutica. Rio de Janeiro: Contraponto. Editora UERJ, 1998.
_______. Produção de presença: o que o sentido não pode traduzir. Rio de Janeiro. Contraponto. Ed. PUC-RIO, 2010.
_______. Atmosfera, ambiência, Stimmung: sobre um potencial oculto na literatura.
Rio de Janeiro: Contraponto. Editora PUC-RIO, 2014.
LYRA, Marcelo. Carlos Reichenbach: O cinema como razão de viver. São Paulo:
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004.