Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Geovany Hércules Mendes Limão (UAM)

Minicurrículo

    Formado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Anhembi Morumbi (2015),
    atualmente é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da
    Universidade Anhembi Morumbi e bolsista CAPES/PROSUP (Coordenação de
    Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior/Programa de Suporte à Pós-graduação de
    Instituições de Ensino Superior) com a pesquisa “A representação das periferias no
    cinema de Carlos Reichenbach: um olhar de afeto”, orientado pela Professora e Doutora
    Sheila Schvarzman.

Ficha do Trabalho

Título

    Produção de presença nos filmes sobre periferias de Carlos Reichenbach

Resumo

    Este artigo observa a representação das periferias de Carlos Reichenbach em três de seus
    filmes que abordam esse universo, Anjos do Arrabalde – As Professoras (1987), Garotas
    do ABC – Aurélia Schwarzenega (2003) e Falsa Loura (2007), através dos conceitos do
    teórico da literatura Hans Ulrich Gumbrecht, como produção de presença, stimmung e
    acoplagem. O objetivo é demonstrar que a produção de presença é elemento fundamental
    na representação humana e afetiva das periferias de Reichenbach.

Resumo expandido

    A representação da periferia é um dos grandes focos de interesse do cinema
    brasileiro. Geralmente entende-se que o termo periferia se refere às áreas ao redor de um
    centro urbano e muita das vezes ele é empregado para se referir às favelas ou comunidades
    que ocupam esse espaço. É comum também carregarem o sentido do termo de
    negatividade por causa da notória desigualdade entre as áreas periféricas de uma cidade
    em comparação ao seu centro, a precariedade da infraestrutura urbana somada à carência
    de educação, saúde, segurança, cultura e opções de lazer, revelam o contraste das regiões
    periféricas em relação aos bairros nobres (DOMINGUES 1995, p. 5). Muito do olhar que
    o cinema brasileiro lançou para esse universo a partir do século XX, e principalmente
    XXI, oscilou entre visões criminalizadas, marginalizadas, românticas e paternalistas da
    periferia, várias delas bem-intencionadas, no entanto com problemas e ressalvas. Grande
    parte dessas representações espelham mais o imaginário daqueles que as produzem,
    deixando de representar a grande maioria das pessoas que vivem nesses espaços que,
    mesmo inseridos numa realidade mais adversa, enfrentam essas dificuldades e buscam
    viver com dignidade, não sendo apenas marginais, criminosas ou coitadinhas, mas
    pessoas como todas as outras, trabalhadores e estudantes. É nesse último aspecto que
    Carlos Reichenbach constrói sua visão.

    Diretor plural e anárquico, Carlos Reichenbach (1945-2012) possui um estilo
    idiossincrático marcado tanto pela despretensão quanto pela elegância. Leitor e cinéfilo
    voraz, os seus filmes são marcados tanto por citações filosóficas e literárias quanto por
    referências cinematográficas. O seu cinema é um cinema de extremos e paradoxos, sua
    linguagem subversiva mistura o erudito e o popular, a poesia e o deboche. A sua trajetória,
    que se inicia no fim dos anos 60, perpassa por diversos momentos importantes da história do cinema brasileiro, como Cinema Marginal, Boca do Lixo, Embrafilme, Retomada e
    Contemporaneidade. O seu cinema contrabandista trabalhou com gêneros diferentes em
    busca de subvertê-los para construir um cinema pessoal e autoral. Influenciado também
    pelo cinema do italiano Valério Zurlini e dos japoneses, Shohei Imamura e Yasuzo
    Masamura, outra de suas preocupações é o trabalho com o cinema da alma (LYRA 2004,
    p. 26), cinema constituído pelos afetos e que trabalha com os sentimentos humanos,
    originando filmes sensíveis e pungentes. Dentre os muitos temas que lhe são caros, como
    utopia, anarquia, paraíso, subversão, erotismo, amores impossíveis, personagens
    ambíguos, encontra-se também a figura do outro e as periferias.

    Em filmes diferentes nas suas propostas e nos seus temas, como Lilian M –
    Relatório Confidencial, Sonhos de Vida (curta, 1979), Amor, Palavra Prostituta, As
    Safadas (episódio inicial A Rainha do Flipper, 1982), City Life (episódio Desordem em
    Progresso, 1990) e Alma Corsária (1994), temos protagonistas femininas ou masculinas
    e personagens coadjuvantes pertencentes às camadas populares e o que se percebe nessa
    representação é um tratamento humanista, conforme vamos definir no decorrer desse
    trabalho, que não julga ou determina claramente seus personagens, permitindo ao
    espectador, antes de tudo, vê-los, quem sabe, ter empatia, o que entendemos por “olhar
    de afeto”. No levantamento da sua obra observamos que esse olhar de afeto se estende
    também a seus filmes que abordam o universo periférico pela perspectiva de suas
    protagonistas femininas. Dessa forma, o objetivo desse artigo é mostrar como a trajetória
    de vida de Carlos Reichenbach em São Paulo e sua formação cultural, principalmente
    cinéfila, foram determinantes na construção de sua representação humana e afetiva das
    periferias no seu cinema, para isso recorremos aos conceitos de Hans Ulrich Gumbrecht,
    como produção de presença (GUMBRECHT 2010, p. 13), stimmung (GUMBRECHT
    2014, pp.12; 17-20) e acoplagem (GUMBRECHT 1998, pp. 148-149).

Bibliografia

    DOMINGUES, Álvaro. (Sub) úrbios e (sub) urbanos – o mal estar da periferia ou a
    mistificação dos conceitos? Portugal: Revista da Faculdade de Letras – Geografia, Série
    I, v. 11, 1995. p. 5-18.

    GUMBRECHT, Hans Ulrich. Corpo e forma: ensaios para uma crítica não-
    hermenêutica. Rio de Janeiro: Contraponto. Editora UERJ, 1998.

    _______. Produção de presença: o que o sentido não pode traduzir. Rio de Janeiro. Contraponto. Ed. PUC-RIO, 2010.

    _______. Atmosfera, ambiência, Stimmung: sobre um potencial oculto na literatura.
    Rio de Janeiro: Contraponto. Editora PUC-RIO, 2014.

    LYRA, Marcelo. Carlos Reichenbach: O cinema como razão de viver. São Paulo:
    Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004.