Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Maria Luiza Dias de Almeida Marques (ECA)

Minicurrículo

    Doutoranda em Meios e Processos Audiovisuais, na linha de pesquisa Poéticas e Técnicas, na Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP). Graduada e mestre pela ECA. Lecionou de 2009 a 2012 Técnicas de Animação na Faculdade Anhembi-Moumbi, e atualmente leciona stop-motion na FAAP. Trabalhou com interfaces de jogos e atividades de imersão interativas em projetos da Escola Politécnica da USP. Trabalha como animadora em stop-motion, ilustradora e editora de vídeo.

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema Científico – possíveis poéticas

Seminário

    Montagem Audiovisual: reflexões e experiências

Resumo

    Este artigo trata da linguagem no cinema científico, ou seja, os filmes realizados com o propósito de fornecer dados para uma pesquisa em andamento, ou de promover a divulgação científica. A partir do resgate de filmes realizados nos anos 1970 na USP, por cineastas-cientistas, propomos uma leitura comparativa de dois filmes que trabalham o mesmo tema, a cosmovisão de Nicolau Copérnico, pelo eixo da montagem. Um dos filmes foi realizado pela ECA-USP, o outro, por Ray e Charles Eames.

Resumo expandido

    Este artigo faz parte da minha pesquisa de doutorado, que consiste em um estudo sobre a linguagem e a estética no cinema científico. É importante não confundir filme científico com filme de ficção científica, já que o universo aqui estudado abrange filmes usados em pesquisa, como coleta de informação, e filmes para divulgação científica e ensino.
    O impulso para esta pesquisa foi a descoberta – ao acaso – de filmes em 35mm realizados pelo Instituto de Física e pela Escola de Comunicações e Artes (ECA), na USP, que se encontravam mal armazenados e em situação de deterioração. Tais filmes remontam ao início do departamento de Cinema na ECA, e fazem parte de uma grande pesquisa que pretendia avaliar a eficácia de filmes na compreensão de conceitos de física. Após telecinados os filmes, surpreendemo-nos diante de um material muito bem filmado, com raro senso do uso da linguagem cinematográfica, apresentando inserções gráficas complexas para o padrão de produções nacionais da época. Totalizando 18 filmes curtos, esta obra apresenta muito mais do que simples registros de experiências de física: trata-se de uma produção dirigida por um cineasta graduado em física, Marcello Tassara, em equipe multidisciplinar com um objetivo claro.
    A singularidade destes filmes levou-me a pesquisar toda a produção de Tassara no campo da ciência, e a procurar formas de estabelecer a conexão entre artes e a ciência; em outras palavras, meu objetivo é analisar as possíveis poéticas na linguagem do cinema científico.
    Dentre outros títulos científicos de Tassara, escolhi De revolutionibus, um filme realizado em 1973, na ECA – USP, em comemoração aos 500 anos do nascimento de Nicolau Copérnico. Trata-se de um belíssimo filme que propõe o diálogo entre o pensamento teocentrista e o humanista, entendendo a ciência como uma construção em camadas, e apontando na obra de Copérnico aquilo que ela tem de mais revolucionário. Para isso, o filme lança mão da montagem e da articulação dissonante entre imagem e som. Em contraponto a esta obra, analiso o filme Copernicus, realizado no mesmo ano, pelo mesmo motivo, com produção da dupla Ray e Charles Eames, patrocinados pela IBM. Esta elegante obra traz a marca Eames para um filme sóbrio, com imagens captadas na Polônia, e com objetos originais que cercaram a vida de Copérnico. O conteúdo deste artigo consiste, pois, na análise comparativa destes filmes e compreende um dos capítulos da tese, ou seja, um estudo de caso de diferentes usos de linguagem cinematográfica em filme científico de mesma temática.
    O princípio organizador da pesquisa é o entendimento de que a ciência é instigante porque está sempre a questionar, e nesse sentido, a possibilidade de visualizar fenômenos com ferramentas que ampliam a percepção humana multiplica o alcance das investigações. Por outro lado, o cinema, em seu apelo à sensibilidade, contribui para uma nova qualidade na compreensão dos fenômenos, agregando fruição à construção do conhecimento.
    Revisitando o passado do cinema, sabe-se o quanto o cinema se beneficiou das pesquisas em torno do movimento, da natureza da luz, e da fixação da imagem em material sensível, só para começar. Os brinquedos óticos e inventos pré-cinematográficos atestam a comunhão do olhar científico com o artístico/imaginativo.
    Retrocedendo ainda mais, ao final da Idade Média, encontramos o início do uso da imagem com finalidade científica por cientistas e pesquisadores exímios nas xilogravura e nos pincéis, e todo tipo de material disponível. As câmaras claras, desenvolvidas para auxiliar o retratista a trazer para a tela uma imagem entendida como real, inaugurou uma nova maneira de ver e de representar.
    De revolutionibus de Tassara interessa-nos tanto mais pelo deslize de leitura que provoca em sua proposta discursiva, ao abrir uma fresta por onde o expectador vislumbra o embate entre religião e racionalismo, através da articulação da montagem.

Bibliografia

    ARNHEIM, Rudolf et al. Arte & percepção visual: uma psicologia de visão criadora. 1980.

    AUMONT, Jacques; MARIE, M. A imagem. Tradução Estela dos Santos Abreu e Cláudio C. Santoro. 1993.

    AUMONT, Jacques. outros. A estética do filme. Tradução de Marina Appenzeller. São Paulo: Papirus, 1995.

    BAZIN, André. O cinema: ensaios. Brasiliense; 1991.

    COPERNICUS, Nicolaus. De revolutionibus orbium caelestium. Sumptibus Societatis Copernicanae; 1873.

    EISENSTEIN, Sergei. O Sentido do Filme, trad. Teresa Ottoni. Jorge Zahar Editor: Rio, 1990.

    KOESTLER, Arthur. O homem e o universo. Trad. Alberto Denis. São Paulo: IBRASA, 1989.

    MACHADO, Arlindo. O cinema científico. Significação: Revista de Cultura Audiovisual, v. 41, n. 42, p. 15-29, 2014.

    NETTO, Domingos Luiz Bargmann. Produção audiovisual na Universidade de São Paulo. 2000. Tese de Doutorado.

    TOSI, Virgilio. Cinema before Cinema. London: British Universities Film and Video Council, 2005.