Ficha do Proponente
Proponente
- Tetê Mattos (Maria Teresa Mattos de Moraes) (UFF)
Minicurrículo
- Niteroiense, doutora em Comunicação pelo Programa de pós-Graduação em Comunicação da UERJ. Mestre em Ciência da Arte pela Universidade Federal
Fluminense. É professora do Departamento de Arte da UFF desde 1997. Dirigiu os documentários premiados “Era Araribóia um Astronauta?” (1998), “A Maldita” (2007) e “Fantasias de Papel” (2015). Publica artigos em revistas e livros de cinema. Exerce atividades de curadoria em diversos festivais. Dirigiu o Araribóia Cine (2002 a 2013).
Ficha do Trabalho
Título
- FESTIVAL DO RIO E O CINEMA ODEON: MEMÓRIA, GLAMOUR E CINEFILIA
Seminário
- Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil
Resumo
- A presente comunicação investigará a experiência de exibição cinematográfica nos festivais de cinema tomando como objeto de análise o Festival do Rio e o papel do Cine Odeon. A escolha do antigo palácio cinematográfico, como sede do Festival remete a inúmeros significados, e o modus operandi está centrado na cultura da memória como cristalização de alguns dos discursos sobre a cidade do Rio de Janeiro, que identificamos como “cidade do passado-presente”, “cidade glamour” e “cidade cinéfila”.
Resumo expandido
- A presente comunicação investigará a experiência de exibição cinematográfica nos festivais de cinema tomando como objeto de análise o Festival do Rio e o papel do Cine Odeon (hoje Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro).
O Cine Odeon, projetado pelo arquiteto de origem alemã Ricardo Wriedt e localizado na Praça Floriano, foi inaugurado em abril de 1926, como propriedade do espanhol Francisco Serrador, fundador da Companhia Brasil Cinematográfica. Localizado na Praça Floriano, região Central do Rio de Janeiro, que logo ficou conhecida como Cinelândia por abrigar grandes salas de cinema, floresceu nas primeiras décadas do século XX como um símbolo da modernidade, uma Broadway carioca. A partir de meados do século XX, a Cinelândia ganharia outros contornos, adequados a uma nova cultura capitalista urbana: lugar de passagem de carros e bondes e lugar de trabalho por excelência. Nos últimas décadas do século XX, o mercado exibidor sofreria novas transformações que levaram ao fechamento de vários cinemas de rua, inclusive os cinemas da Cinelândia. Muitas salas haviam sido demolidas ou tiveram seus usos modificados, transformando-se em comércios e em igrejas.
No fim do século XX e início do século XXI, quando surge o Festival do Rio, vivemos um momento de emergência da memória como uma das preocupações centrais das sociedades ocidentais contemporâneas (HUYSSEN, 2000). O aumento explosivo de memória, resultado de uma cultura saturada de mídia, nos ajuda a compreender a importância que as práticas de preservação, junto com os seus discursos, passariam a ter para a imagem das cidades.
Diante deste cenário, em 16 de setembro de 1999, o Cine Odeon, é reaberto para sediar a primeira edição do Festival do Rio, evento de forte repercussão e visibilidade nacional. Fruto de parceria entre o grupo Luiz Severiano Ribeiro, proprietário do cinema, o grupo Estação Botafogo e a Prefeitura, por meio da RioFilme, a sala, e que se encontrava fechada desde abril daquele ano, é reinaugurada após uma reforma que procurou modernizar o espaço, sem interferência nas suas características peculiares para que fosse preservado o glamour, como afirmava um dos diretores do Festival Marcelo Mendes.
A escolha do Cinema Odeon, antigo palácio cinematográfico, como sede do Festival remete a inúmeros significados, e o modus operandi está centrado na política e na cultura da memória como cristalização de alguns dos discursos sobre a cidade do Rio de Janeiro, que identificamos com as categorias “cidade do passado-presente”, “cidade glamour” e “cidade cinéfila”.
Quando o Festival do Rio elege como sua sede principal o Cinema Odeon, além de imprimir um significado de valorização da cultura da memória no tocante ao resgate do patrimônio histórico e da museificação da cidade, ele também opera num discurso que constrói/imprime uma imagem de glamour à cidade do Rio de Janeiro, e ao espetáculo cinematográfico.
Um outro aspecto que buscaremos abordar refere-se à cultura da cinefilia relacionada aos festivais de cinema, que emergem como último refúgio da prática cinéfila (HAGENER; DE VALCK, 2008, p.25). Acreditamos que as sessões do Festival do Rio realizadas no Cinema Odeon captam uma atmosfera que remete à experiência cinéfila, entrelaçando a história do Festival com a histórica sala de exibição.
Bibliografia
- GONZAGA, A.. Palácios e poeiras: 100 anos de cinema no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Ed. Record: FUNARTE, 1996.
HAGENER, M. e DE VALCK, M.. “Cinephilia in transition”. In: KOOIJMAN, J.; PISTERS, P.; STRAUVEN, W. (orgs.) Mind the Screen: Media concepts according to Thomas Elsaesser. Amsterdam: Amsterdam University Press, 2008.
HARBORD, J.. “Film Festivals – Time-Event”. In: IORDANOVA, Dina [org.]. The Flm Festival Reader. St Andrews, Escócia: St Andrews Film Studies, 2013.
HUYSSEN, A.. Culturas do passado-presente: modernismos, artes visuais, políticas da memória. Rio de Janeiro: Contraponto; Museu de Arte do Rio de Janeiro, 2014.
SOUZA, M. C. S. (Márcia Bessa). Entre Achados e Perdidos – colecionando memórias dos palácios cinematográficos da cidade do Rio de Janeiro. Tese. (Tese em Memória Social). UNIRIO, Rio de Janeiro, 2013.
VIEIRA, J. L. e PEREIRA, M. C. S. “Cinema da Metro e a dominação ideológica”. Filme Cultura, n.47. Rio de Janeiro: Embrafilme, agosto 1986.