Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Regina Lucia Gomes Souza e Silva (UFBA)

Minicurrículo

    Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa (especialidade em Cinema) , professora no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia onde também é coordenadora do Grupo de Pesquisa Recepção e Crítica da Imagem – GRIM. Tem experiência na área de Comunicação com ênfase em Estudos de Recepção, Análise e Crítica de Cinema e Audiovisual. Email: reginagomesbr@gmail.com

Ficha do Trabalho

Título

    Notas sobre a crítica ao cinema brasileiro contemporâneo

Resumo

    O objetivo desta comunicação será o de apresentar alguns resultados preliminares do projeto de pós-doutorado intitulado Crítica e cinema brasileiro contemporâneo realizado no PPGMPA-USP entre 2017 e 2018. Chegaremos a algumas reflexões sobre a formação dos críticos de cinema, a compreensão de suas práticas discursivas e, sobretudo, sobre seus modelos de leitura acerca do cinema brasileiro contemporâneo. Utilizamos como estratégia de pesquisa a entrevista estruturada.

Resumo expandido

    A proposta desta comunicação visa apresentar alguns resultados preliminares do projeto de pós-doutorado intitulado Crítica e cinema brasileiro contemporâneo. Tratam-se de algumas reflexões sobre a formação dos críticos de cinema, a compreensão de suas práticas discursivas e, sobretudo, sobre seus modelos de avaliação do cinema brasileiro contemporâneo.
    Nossa estratégia de pesquisa utilizada foi a entrevista, ferramenta pensada não apenas como coleta de dados, mas igualmente como um dispositivo de fabricação e captação de textos (Rocha; Daher e Santana, 2004). A entrevista se organiza como um meio bastante utilizado em pesquisas qualitativas, entretanto, para além de apenas um meio para chegar a certos fins, ela amplifica vozes, gera partilha intelectual e permite diálogos com outros textos.
    As questões indicadas nas entrevistas , realizadas em sua maioria por meio de uma plataforma digital, visavam indagar os críticos sobre como estes entendiam a nova cinematografia brasileira que desde o final dos anos de 1990 tem se caracterizado por uma descentralização geográfica, pela diversidade de gêneros, arena de dramas individuais e sociais e palco de personagens que vivem e dialogam com as tensões do Brasil contemporâneo. Ou seja, o que os críticos pensavam sobre aspectos ligados à produção, distribuição e exibição dos novos filmes, sobre seus traços estéticos, leis de incentivo, a produção de documentários, as relações entre cinema e televisão e a prática da crítica na internet.
    O perfil desses profissionais nos indica formação em curso superior, faixa etária heterogênea e o predomínio do sexo masculino. Além disso, um dissenso quanto aos seus métodos de análise das obras que são muitas vezes diversificados e imprecisos.
    A maioria reconhece que é mais fácil produzir do que exibir filmes no Brasil e a cada vez maior redução dos espaços de exibição em salas comerciais, restando aos festivais o papel de vitrine, plataforma de lançamento e instrumento de consagração. Um dado relevante identificado foi a ausência de um cinema de cariz intermediário, entre aquele caracterizado como comercial (com sucesso de público e que não precisa dos festivais para angariar prestígio) e um outro chamado de autoral (basicamente formado por filmes independentes e de baixo orçamento).
    Foi mencionada a criatividade da nova geração de realizadores brasileiros, agora oriundos de diversas regiões do país, considerados como talentos autorais, ainda que alguns críticos classifiquem muitas produções como fórmulas elaboradas exclusivamente para os festivais.
    A maioria dos críticos defende a necessidade do governo apoiar o cinema nacional por meio das leis de incentivo que deveriam ser ajustadas para contemplar mecanismos de maior circulação dos filmes, sobretudo aqueles com baixo orçamento.
    Muitos foram os traços estéticos deste “novo cinema” apontados pelos críticos entrevistados, demonstrando a pulverização de opiniões, embora pudéssemos reuni-los em categorias aproximativas: obras de natureza comercial e com grandes bilheterias, inseridas sob a etiqueta de “comédias populares”, geralmente vinculadas à Globo Filmes, cuja estética tem relação com o imaginário da TV que fornece boa parte de seu elenco.
    De outro lado, filmes de ficção e documentário, mais autorais, com projetos estéticos bastantes diversificados e temas que abordam questões sociais (sobretudo a violência urbana), a problemática política do país, a migração para as grandes cidades, o cotidiano das periferias, a especulação imobiliária, os afetos etc, projetos individuais e coletivos marcados, a um só tempo, por estruturas de linguagem convencionais e por aportes mais experimentais. A quase maioria dos críticos salientou a hegemonia das formas documentais, um cinema em “primeira pessoa” nas palavras dos críticos.
    Enfim, nosso propósito é apresentar um mapeamento das principais conclusões colhidas por meio das entrevistas realizadas com 10 críticos brasileiros.

Bibliografia

    BALLERINI, F. Cinema brasileiro no século 21: reflexões de cineastas, produtores, distribuidores, artistas, críticos e legisladores sobre os rumos da cinematografia nacional . São Paulo: Summus, 2012.
    BARRETO, Rachel Cardoso. Crítica ordinária: a crítica de cinema na imprensa brasileira. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, dissertação de mestrado, 2005.
    BUTCHER, Pedro. Cinema brasileiro hoje. São Paulo: Publifolha, 2005.
    FELDMAN, Ilana. O cinema brasileiro contemporâneo. São Paulo: Revista Cult, 29/10/2010.
    ORICCHIO, Luiz Zanin. Cinema de novo: um balanço da retomada. São Paulo: Estação Liberdade, 2003.
    ROCHA, Décio; DAHER, Maria Del Carmen; SANTANA, Vera Lúcia de Albuquerque. Entrevista em situação de pesquisa acadêmica: reflexões numa perspectiva discursiva. Polifonia. Mato Grosso, v.8, n.8, 2004