Ficha do Proponente
Proponente
- Thiago de Abreu e Lima Florencio (Urca)
Minicurrículo
- Graduação em História e Mestrado em História Social da Cultura (PUC-RIO). Pós-graduação em História da África e do Negro no Brasil ( UCAM). Doutorado em Literatura, Cultura e Contemporaneidade (PUC-RIO). Membro do FICINE (Fórum Itinerante de Cinema Negro). Atualmente é Professor Adjunto de História Afro-Brasileira e Indígena da URCA. Vem realizando reflexões em Estudos Culturais e Decoloniais com ênfase em representações e presenças Negras, Africanas e Indígenas nas Artes, Cinema e Literatura.
Ficha do Trabalho
Título
- Corpoeidade negra, performance e religião no cinema afrocaribenho
Seminário
- Cinema Negro africano e diaspórico – Narrativas e representações
Resumo
- Refletir sobre a experiência estética e política da corporeidade negra, com enfoque na relação entre cinema e transe das religiosidades de matriz africana em dois filmes afrocaribenhos: Anita (1981), dirigido por Rassoul Labouchin, considerado um marco do cinema moderno haitiano; e Ogun (1991), primeiro longa-metragem da cineasta cubana Gloria Rolando.d
Resumo expandido
- Este trabalho visa discutir a performatividade do corpo afrocaribenho, com enfoque na relação entre cinema e Vodu (no caso haitiano) ou Santería (no caso cubano). Isso a partir de uma leitura comparativa de dois filmes: “Anita” (1981), dirigido por Rassoul Labouchin e considerado um marco do cinema moderno haitiano; e Ogun (1991), primeiro longa-metragem da cineasta afrocubana Gloria Rolando. O foco da narrativa de “Anita” está nas perambulações da jovem Anita pela cidade, menina negra e pobre que sofre em seu próprio corpo as penúrias de uma vida marcada pela fome e o castigo físico. Tal narrativa é atravessada pela performatividade do corpo negro: seja pela experiência comunitária dos trabalhadores braçais, pela força mística do vodu, pelo carnaval de rua, pelo medo da escravidão doméstica e do castigo físico ou pelo sonho da migração. Em “Ogun”, a corporeidade negra transita entre os corpos míticos dos orixás e a presença física dos devotos em transe. Na película de Gloria Rolando, a força motriz da música e da performance invadem a tela e a narrativa. Proponho tecer leituras sobre a performatividade do corpo negro a partir de uma visão comparativa desses dois filme em diálogo com pensadores caribenhos. Desde Césaire, com sua formulação da “corpopolítica afrocaribenha”, Fanon e o “olhar branco” na formação do racismo e do colonialismo como experiência vivida no corpo, Glissant sobre a “circularidade fundamental” caribenha decorrente da experiência do “migrante nu” africano e a ideia de “poliritmo” de Benitez-Rojo para pensar a experiência estética caribenha. Em diálogo com tais autores, trago também a contribuição da antropologia contemporânea sobre as concepções perspectivistas do corpo nas religiões de matriz africana, principalmente do antropólogo José Carlos Rodrigues, que pensou a encruzilhada no candomblé como conceito antropológico, para trazer novas claves de leitura mais complexas sobre a interpretação corrente de que o diretor Labouchin cria no filme um olhar depreciativo sobre a experiência mística do vodu. Além disso, esse diálogo com a Antropologia é importante no sentido de pensar melhor a questão da performance negra na película de Gloria Rolando.
Bibliografia
- ANJOS, José Carlos Gomes. No território da linha cruaza: a cosmopolítica afro-brasileira. Porto Alegre: Rditora da UFRGS – Fundação Cultural Palmares, 2006.
CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. São Paulo: Edusp, sem data.
CÉSAIRE, Aimé. Diário de um retorno ao país natal. Sao Paulo: Edusp, sem data.
CHAM, Mbye. Ex-Iles. Essays on afrocaribenhan cinema. Africa World Press, New Jersey, 1982.
FANON, Franz. Pele Negra, Máscaras Brancas. Salvador: EDUFBA, 2018.
GLISSANT, Edouard. Introduction a une poetique de la diversite. Paris: Gallimard, 1996.
Benítez Rojo, Antonio, and Rita Molinero. La isla que se repite: el Caribe y la perspectiva posmoderna. San Juan, P.R.: Editorial Plaza Mayor, 2010.