Ficha do Proponente
Proponente
- Diogo Oliveira Teles (UFS)
Minicurrículo
- Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Audiovisual pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Atualmente é mestrando pelo Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Cinema (PPGCINE/UFS), aluno do curso de especialização em Coordenação Pedagógica da Universidade Tiradentes (Unit) e integrante do Grupo de Pesquisa Balbucios: gaguejar uma infância (DPS/UFS).
Coautores
- Marcos Ribeiro de Melo (UFS)
Raul Marx Rabelo Araujo (PPGCine/UFS)
Ficha do Trabalho
Título
- Cinema de horror, infância e o governo de corpos femininos
Seminário
- Cinema e Educação
Resumo
- Esta pesquisa propõe, inspirada pela etnografia de tela, analisar o filme “A órfã” de Jaume Collet-Serra (2009). Entre o “real” e o “monstruoso”, o longa nos põe em contato com os “outros” da infância e do feminino, que ameaçam e aterrorizam nossas certezas sobre o que eles são. A proposta visa desestabilizar saberes e poderes sobre o que é ser criança e o que é ser mulher, problematizando o governo de suas condutas e questionando os sentidos a eles atribuídos.
Resumo expandido
- Esta pesquisa parte do pressuposto de que o exercício de um pensamento por meio de um agenciamento com as artes visuais pode movimentar saberes e poderes sobre o que é “a” infância e sobre o governo dos corpos femininos. Entre imagens, planos, enquadramentos e ângulos, inspirados pela etnografia de tela, analisamos o filme “A órfã” (Jaume Collet-Serra, 2009) que narra a história de adoção de uma garota de nove anos chamada Esther. Trata-se de uma película do gênero horror que, no limite entre o que é o “real” e o “monstruoso”, nos põe em contato com os “outros” da infância e do feminino, que ameaçam e aterrorizam nossas certezas sobre o que eles são. Tramada sob uma “constelação de olhares” (SIROTA, 2007) a infância moderna se constitui dentro de um imaginário partilhado também por saberes acadêmico-científicos como a Psicologia e a Pedagogia e no conjunto de imagens e sentidos atribuídos às crianças, representadas como puras, incompletas, incompetentes, assexuadas, sujeitos da falta, um “vir-a-ser adulto” cujo caminho deve ser governado numa condução “para determinados ‘lugares’ numa cultura, para determinadas posições numa sociedade e para determinadas formas de vida já partilhadas por aqueles que já estavam aí” (VEIGA-NETO, 2015, p. 56). Por outro lado, o gênero é uma “ficção discursiva”, afirma Judith Butler, uma estilização repetida do e no corpo, “um conjunto de atos repetidos no interior de uma estrutura reguladora altamente rígida, a qual se cristaliza no tempo para produzir uma substância de uma classe natural de ser” (BUTLER, 2003, p.59). Trata-se de uma invenção, mas não de uma ilusão ou devaneio, pois ao ser materializado nos subjetiva dentro de um regime de verdade. Assim, como efeitos de seu poder social, o gênero produz a inteligibilidade de certas corporeidades e existências, enquanto apresenta outras como sendo abjetas. Se, como afirma Mulvey (2018), a fascinação pelo cinema pode ser explicada pelos modelos existentes de formações sociais que operam produzindo a subjetividade, o gênero fílmico do horror é capaz de alcançar o espectador e provocar emoções, tirando-o da sua zona de conforto, ao passo que o fascina pelo estranhamento. Segundo Carroll (1999), isto acontece porque ocorre uma correspondência parcial dos estados emocionais entre espectador e protagonista, enquanto aquele fica horrorizado, pois as situações do âmbito ficcional incentivam pensamentos de propriedades temíveis. O que é temível pensar sobre a infância e sobre o feminino? Para Wood (1985) o cinema de horror seria um caminho para o contato com o que ele considera ser um excedente de repressão na sociedade contemporânea atribuído a um “outro” considerado “monstro” ou “não-humano”. Entre os que figuram a outridade/monstruosidade social estão as crianças, as mulheres e todos que se desviam das normas sexuais. Moruzzi (2017, p. 297) afirma que “[…] a partir do momento em que a criança se torna um dos grupos estratégicos do dispositivo da sexualidade, produz-se sobre ela um conjunto heterogêneo de regimes de verdades e práticas o qual configura uma maneira de ser-e-ter uma infância […]” Desviando-se dos regimes e normas, através da fala, do agir, do vestir, da própria sexualidade e mesmo dos crimes que comete, Esther faz questionar as práticas discursivas que dizem o que é infância e o modo de ser criança.
Bibliografia
- BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. São Paulo: Civilização Brasileira, 2003.
CARROLL, Noël. A filosofia do horror ou paradoxos do coração. Tradução Roberto Leal Ferreira. Campinas, SP: Papirus, 1999.
MORUZZI, Andrea Braga. A infância como dispositivo: uma abordagem foucaultiana para pensar a educação. Conjectura, Caxias do Sul, v. 22, n. 2, p. 279-299, maio-ago 2017.
MULVEY, Laura. Prazer visual e cinema narrativo. In: XAVIER, Ismail. A experiência do cinema: antologia. Rio de Janeiro/São Paulo: 2018, p. 355-370.
SIROTA, Régine. A indeterminação das fronteiras da idade. Perspectiva, Florianópolis, v.25, n.1, p. 41-56, jan-jun 2007.
VEIGA-NETO, Alfredo. Por que governar a infância? In: RESENDE, Haroldo (org.). Michel Foucault: o governo da infância. Belo Horizonte: Autêntica, 2015, p. 49-56.
WOOD, Robin. An Introduction to the American Horror Film. In: NICHOLS, Bill. Movie and methods, vol. II. Berkeley/Los Angeles: UC Press, 1985, p. 195- 219.