Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Sheila Schvarzman (UAM)

Minicurrículo

    Professora do Programa de Pós Graduação em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi – SP. Organizou com Fernão Ramos a “Nova História do Cinema Brasileiro” em 2 volumes. São Paulo, Editora Sesc, 2018, na qual escreveu 3 capítulos. Publicou L’image en question : Jean-Luc Godard et Eric Hobsbawm sur le plateau d’Histoire parallèle. Revue Théorème. “Les films de Marc Ferro”, organizado por Sebastien ; PUGET, Clément ; STEINLE, Matthias. Paris, Presses Sorbonne. Novembro, 2018, entre outros.

Ficha do Trabalho

Título

    “Os subversivos”: sua representação no Cinema Brasileiro (1968-2013)

Mesa

    1968-2018: insurreições e imagens da história no cinema brasileiro

Resumo

    1968 foi vivido no Brasil como um momento de insurreições e repressão. Menos do que resgatar a mitologia que domesticou seu significado imediato, interessam os seus ecos. A reapropriação, a partir da Redemocratização (1985) até o presente, de eventos como o sequestro do embaixador americano e de protagonistas opositores, como os militantes Carlos Lamarca e Carlos Mariguella, na ficção e no documentário. De que forma os filmes participam da reconstrução da memória sobre a política e o engajamento

Resumo expandido

    “Não nos demoremos no espetáculo da contestação, mas passemos à contestação do espetáculo” inscrição no muro do Teatro do Odeon sob inspiração de Guy Débord
    Ao longo dos 50 anos que nos separam de 1968, a insubmissão e o arbítrio foram substituídos pela busca de conciliação. Não apenas a partir da distensão muito “lenta, gradual e segura” de Ernesto Geisel (1974-1979), mas sobretudo com uma Lei de Anistia (1979) que beneficiou e deu o mesmo estatuto a militantes políticos de oposição presos ou exilados e agentes públicos responsáveis, entre outros, pela tortura. Memórias e a escrita da história, além do próprio cinema, vão refletir essas profundas contradições. É de 1979 a primeira “fresta por onde espiar o passado” (SIMIS, 1998, 12), a publicação das memorias de Fernando Gabeira, participante do sequestro do embaixador americano em 1970. A redemocratização (1985) trouxe mudanças políticas e econômicas significativas. O papel do estado e de sua função reguladora não foi questionado apenas no Brasil. As aspirações transformadoras dos anos 1960 em todos os âmbitos foram reconfiguradas. “O sonho acabou”, máxima atribuída aos derrotados de 68, serve de justificativa para o fim da utopia, a conformidade, o individualismo. Sem esquecer que a partir de 1989, com a queda do Muro de Berlim, o fim da história foi decretado. E, no entanto, a desconstrução dos discursos de poder se acentuou, as minorias, os vencidos, começam a entrar na história. Em meio a esse cenário, no Brasil, onde a conciliação com o passado leva a uma “uma vontade de esquecimento e uma vontade de saber” (XAVIER, 1997), o cinema agora reconfigurado em sua forma de sustentação, toma essa “vontade de saber e de esquecimento”, e a história torna-se um gênero privilegiado e eventos e protagonistas “subversivos” dos anos 1960, banidos ou apagados, retornam à cena. Como suas trajetórias foram reapropriadas por um novo tempo histórico marcado pela conciliação que igualou vítimas e perpetradores em sua lei de anistia? De que forma, a “contestação do espetáculo” de que fizeram parte, torna-se o “espetáculo da contestação”? Da opacidade dos anos 1960, passamos à ilustração, ao didatismo na fatura cinematográfica; à reverência e à domesticação da escrita sobre o passado. Como afirma Kristin Ross nos “interessam mais os ecos do que o barulho e o furor” dos acontecimentos originais (2008). Dessa forma, tomamos por objeto de análise quatro filmes biográficos – entre ficção e documentário que se debruçam sobre trajetórias de militantes políticos.
    Na ficção, dois filmes buscam dar conta da trajetória de Carlos Lamarca (Lamarca, Sérgio Rezende,1994, aproximadamente 120.000 espectadores) e Fernando Gabeira (O que é isso Companheiro, Bruno Barreto,1997, 321.425 espectadores); ambos fazem parte do período da “Retomada do Cinema Brasileiro” (1994-2001), que prezava a suposta gravidade e certa pompa do ‘filme de época’, e tiveram boa receptividade dos espectadores. Situação bem diferente das garrafas lançadas ao mar a que se refere Anita Leandro. Carlos Marighella é objeto de dois documentários, o unidimensional Marighella – Retrato falado do guerrilheiro, de Sylvio Tendler, 2001, e Marighella, de Isa Grinspun Ferraz, 2013, documentário em primeira pessoa, rodado pela sobrinha do combatente.
    Apesar da distância temporal e dos gêneros distintos, um fator parece reunir esses filmes: a incapacidade de pensar a insubordinação sem condená-la, ou ao contrário, mitificá-la, erigindo heróis esvaziados de seu sentido histórico, portanto, contraditórios. Sequestros, domesticações, desvios de sentido que o curso da história no cinema documentou e construiu, participando das reconfigurações da memória sobre o engajamento e a política.

Bibliografia

    DOSSE, François – L´Histoire à l´épreuve de la guerre des mémoires” IN Cités, 2008/1, n.33, p.192 https://www.cairn.info/revue-cites-2008-1-page-31.htm Acesso em 12.5.2018
    MARTON, Scarlett – 68. Folha de São Paulo, 2008, p. 3
    ROSANVALON, Pierre – Les années 1968-2018: une histoire intellectuelle et politique. https://www.college-de-france.fr/site/pierre-rosanvallon/course-2017-2018.htm. Acesso em abril e maio 2018.
    ROSS, Katrin – “Mai 68 et ses vies ultérieres”. Paris, Complexe et Le Monde Diplomatique, 2008
    RIDENTI, Marcelo. A época de 1968: cultura e política. In: FICO, Carlos; ARAUJO, Maria Paula (orgs). 1968: 40 anos depois. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2010, pp. 81-90.
    SIMIS, Anita –“O audiovisual brasileiro dos anos 90: questão estética ou econômica?”IN Lasa – Latin American Studies Association, 1998, Chicago, http://lasa.international.pitt.edu/LASA98/Simis-Pellegrini.pdf Acesso em 12.5.2018
    XAVIER, Ismail. “A ilusão do olhar neutro e a banalização”. Praga, set.1997, n.3. p.141-1