Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Sofia Carolina da Silva (UNICAMP)

Minicurrículo

    Formada em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal do Pampa. Atualmente, desenvolve pesquisa de mestrado em Multimeios pela Unicamp

Ficha do Trabalho

Título

    One Way Street e Notas Flanantes: o cinema australiano e brasileiro

Resumo

    A proposta de painel pretende analisar comparativamente os possíveis encontros que há entre o média metragem ‘Notas Flanantes’ (2009) da cineasta e artista plástica brasileira Clarissa Campolina com o filme One Way Street (1992) do diretor australiano John Hughes. A exposição pretende dialogar, principalmente, com os conceitos de filme ensaio apresentados por RASCAROLI (2009) e TEIXEIRA (2015).

Resumo expandido

    A expressão ‘ensaio fílmico’ tem ganhado corpo, atualmente, quando relacionada a documentários de intenso cunho pessoal e reflexivo. Embora amplamente usada, é interessante reconhecer a sua problemática. Laura Rascaroli, em seu livro The Personal Camera, reconhece essa complexidade inicial e aponta o ensaio como uma forma híbrida que se encaixa entre o cinema de ficção, de não ficção e o experimental. Neste mesmo livro, Rascaroli faz uma interessante revisão bibliográfica sobre o filme ensaio e aponta alguns nortes para clarear o conceito. A proposta de painel, pretende apontar algumas dessas reflexões sobre o filme ensaio as quais poderemos observar nos objetos analisados, os filmes: Notas Flanantes (BRA, 2009) e One Way Street: Fragments for Walter Benjamin (AUS, 1992).
    A ideia de ensaio para o cinema veio apropriado da literatura e da filosofia a partir de seus principais teóricos Theodor Adorno e Georg Lukács ambos se encontram quando defendem o princípio indeterminado, aberto e indefinível do ensaio. Adorno coloca que “a lei formal mais interna do ensaio é a heresia” enquanto Lukács defende que “o ensaio tem que criar de dentro de si todas as condições prévias para a eficácia e solidez de sua visão”. Ou seja, o ensaio estabelece suas próprias condições, sendo assim, em relação ao filme de ficção e não ficção, um filme transgressor tanto estrutural quanto conceitualmente – uma característica que compartilha do ensaio literário.
    Adorno em ‘O Ensaio como Forma’ nos pontua que o ensaio tem como natureza intrínseca não seguir regras, não ter características listadas do que faz um texto ser tachado como ensaio, isto vai de encontro à natureza libertária do formato ensaístico, pois compreende ensaio “apenas o processo de destrinchar a obra em busca daquilo que o autor teria desejado dizer naquele momento”, ou seja, Adorno nos reforça o relevo reflexivo, subjetivo e herege do ensaio. Esse tipo de destrinchamento pode ser notado, por exemplo, no filme One Way Street através da fragmentação de elementos biográficos com elementos ficcionais e experimentais, quando há: entrevistas, recriações dramáticas, material de arquivo e sequências de avant garde. Dessa forma, encontramos, no primeiro filme analisado, a reflexividade e a subjetividade.
    Almeida e Mello (2012) lembram que não é apenas a presença do texto verbal ou escrito que autentica a autoria, embora a aproximação direta com a literatura varie de filme para filme, os autores afirmam que “não é a presença do texto que fornece à obra o seu caráter de ensaio, mas sim a forma como a reflexão está inscrita nas próprias imagens e no fluxo de pensamento em movimento que elas geram ”. Esta colocação nos é pertinente, pois no filme Notas Flanantes de Campolina existe a presença de algumas de suas ‘notas flanantes’ em forma de texto.
    Rascaroli apresenta que no filme ensaio o autor foca na autoria, na voz e no texto verbal, além de outras questões, como o uso de entrevistas e colagens. Temos as entrevistas e as colagens em One Way Street, o texto verbal em Notas Flanantes e a voz em ambos.

    Seguindo este horizonte, a presente proposta de painel visa debruçar-se sobre as primeiras reflexões que relacionam o filme Notas Flanantes ao filme One Way Street a partir de seus tons ensaísticos. Considera-se que, as reflexões não se limitam, apenas as aqui expostas, e que, dessa forma, é relevante manter reflexões futuras.

Bibliografia

    ADORNO, Theodor. O ensaio como forma. In: Notas de literatura I. São Paulo: Duas
    Cidades; Editora 34, 2003. p. 15-45.

    RASCAROLI, Laura. The Personal Camera: Subjective Cinema and the Essay Film. Wallflower, 2009.
    ALMEIDA, Gabriela Machado Ramos de; MELLO, Jamer Guterres de. O ensaísmo no cinema: notas sobre abordagens teóricas possíveis. Revista Nexi, 2012.

    TEIXEIRA, Francisco Elinaldo. (Org.) O ensaio no cinema: formação de um quarto domínio das imagens na cultura audiovisual contemporânea. São Paulo: Hucitec Editora, 2015.