Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Nuno Camilo Balduce Lindoso (UFAL)

Minicurrículo

    Graduado em Ciências Sociais e mestrando em Antropologia Social. Atuou como crítico de cinema para a revista eletrônica Filmologia entre os anos de 2010 e 2011 e cordenou o cineclube Projeção (AL). Dirigiu e roteirizou os curtas-metragens de ficção “Atirou para Matar” (2014) e “Os Desejos de Miriam” (2017).

Ficha do Trabalho

Título

    A emergência do personagem nordestino no cinema brasileiro (1923-1969)

Resumo

    Essa pesquisa busca compreender as transformações na representação da masculinidade nordestina no cinema brasileiro no período entre 1923 a 1969, momento de consolidação do nordestino enquanto personagem cinematográfico nacional. Nos filmes do Ciclo de Cinema do Recife (1923-1931), do gênero nordestern e do Cinema Novo (1962-1969) os cineastas buscaram performatizar a masculinidade nordestina a partir de objetivos distintos, porém compartilhando de uma determinada visão sobre o nordeste.

Resumo expandido

    A representação da masculinidade nordestina no cinema brasileiro está intimamente ligada ao contexto histórico e social de sua época e que diretores, roteiristas e atores se apropriam de uma série de referenciais, culturais e artísticas, regionais, nacionais e estrangeiras, a partir das demandas estéticas e narrativas do campo cinematográfico (HIRANO, 2013). O surgimento do nordestino enquanto personagem cinematográfico foi contemporânea da própria emergência de uma nova identidade cultural regional. A ideia de nordeste foi culturalmente “inventada” por artistas, intelectuais e elites locais como forma de distinção cultural, social e geográfica em relação ao sul do país na segunda década do século XX (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2011). Nesse período, o cinema, encontrava-se no Brasil com uma produção quase incipiente e descontínua de filmes ficção até a década de 1930. Isso não impediu que, ainda nos anos de 1920, ocorresse uma série de ciclos de produção cinematográfica em regiões diversas do país. Entre esses ciclos se destaca o ocorrido em Recife ao inaugurar no cinema brasileiro os “tipos regionais” nordestinos como os jangadeiros, coronéis e cangaceiros, em seus enredos (NOGUEIRA, 2014). Nos filmes do Ciclo do Recife, atores amadores e profissionais performartizavam tanto tipos regionais como heróis e vilões influenciados pelos modelos do cinema hollywoodiano do período silencioso, mas também os diretores atuavam em seus filmes com destaque para J. Soares . Com a fundação de novos estúdios cinematográficos na região sudeste nos anos de 1940, período de forte demanda por industrialização legitimada pela ideologia do desenvolvimentismo dos anos pós Estado Novo, passou-se a se ter a necessidade de exibir temas e personagens que representassem o nacional, dentro de um modelo de “qualidade” baseado nas produções dos grandes estúdios hollywoodianos e europeus (DESBOIS, 2016). É nesse período que se inaugura alguns gêneros cinematográficos nacionais de sucesso como os musicais carnavalescos, as chanchadas e o nordestern. Esse último produziu uma safra de filmes tendo o movimento histórico do cangaço como tema, inaugurando uma nova fase na representação da masculinidade nordestina no cinema brasileiro privilegiando a paisagem do sertão e os tipos masculinos sertanejos (DÍDIMO, 2010). O gênero nordestern é inaugurado com o sucesso de “O Cangaceiro” (1953) de Lima Barreto em que os atores Alberto Ruschel e Milton Ribeiro estabelecem o confronto que marcará o gênero entre o camponês que torna-se cangaceiro e o líder cangaceiro. Apesar de fazerem grande sucesso com o público, os filmes do nordestern serão profundamente criticados por uma geração de jovens cineastas, muitos nascidos na região nordeste, que compartilhavam da ideia de “brasilidade” do modernismo, da noção francesa de “cinema de autor” e de ideias políticas de esquerda (SIMONARD, 2006). Os cineastas do Cinema Novo buscaram em atores como Geraldo Del Rey, Othon Bastos e Antônio Pitanga formas de performatizar a masculinidade no Brasil e no nordeste. Por isso, em cada momento e lugar, o campo cinematográfico se configurou de diferentes maneiras requerendo dos atores diferentes dramaticidades de forma a atender os objetivos estéticos e narrativos dos realizadores e produtores cinematográficos. Todos esses fatores afetaram diretamente na representação do nordestino no cinema brasileiro. O período de 1923 a 1969 apresentou a região nordeste como um espaço rural e culturalmente tradicional. Mesmo em filmes ambientados nas grandes cidades da região, o nordeste é sempre associado ao sertão e ao campo, ou seja, sempre como um espaço distante e arcaico e o homem nordestino recorrentemente apresenta características associadas a virilidade como a coragem e a honra.

Bibliografia

    ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz. A Invenção do Nordeste e outras artes. São Paulo: Cortez, 2011.
    DESBOIS, Laurent. A Odisseia do Cinema Brasileiro: Da Atlântida a Cidade de Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
    DÍDIMO, Marcelo. O Cangaço no cinema brasileiro. São Paulo: Annablume, 2010.
    HIRANO, Luis Felipe Kojima. Uma interpretação do cinema brasileiro através de Grande Otelo: raça, corpo e gênero em sua performance cinematográfica (1917-1993). 2013. 452 f. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, 2013.
    NOGUEIRA, Amanda Mansur Custódio. A brodagem no cinema em Pernambuco. 2014. 235 f. Tese (Doutorado em Comunicação) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, 2014.
    SIMONARD, Pedro. A geração do Cinema Novo: Para uma antropologia do cinema. Rio de Janeiro: Mauad X, 2006.