Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Marina da Costa Campos (USP)

Minicurrículo

    Doutoranda em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA/USP, com pesquisa sobre super8 no Brasil e México na década de 1970. Mestre em Imagem e Som pela UFSCar e graduada em Comunicação Social pela UFG. Integrante do Grupo de História da Experimentação no Cinema e na Crítica, sob orientação do Profº.Drº Rubens Machado Jr.

Ficha do Trabalho

Título

    Destruir os monumentos: o super8 no Brasil e no México nos anos 1970

Resumo

    Este trabalho trata das aproximações entre o super-8 do Brasil e do México dos anos 1970, a partir da pesquisa histórica e da análise dos curtas Esplendor do martírio (Sérgio Peo, 1974) e Ah, verdá? (Sérgio Garcia, 1973). A intenção é levantar pontos de intersecção dessas produções superotistas, a partir do experimentalismo, da ironia e do discurso crítico, para identificar como essas obras tensionam problemas latentes oriundos das transformações da década de 60, especialmente do ano de 1968.

Resumo expandido

    Esta exposição tem o intuito de apresentar a pesquisa de doutorado iniciada em 2016, cujo tema direciona-se para as aproximações entre a produção superoitista do Brasil e do México na década de 1970, a partir da articulação entre pesquisa histórica e análise fílmica. Para esta exposição analisaremos dois curtas-metragens Esplendor do martírio (Sérgio Peo, 1974) e Ah, verdá? (Sérgio Garcia, 1973). Levando em consideração os diferentes processos históricos e a singularidade e complexidade do
    movimento superoitista de cada território, é possível identificar traços que aproximam essas produções: a opção pelo experimental como discurso, a ironia e metáfora como forma crítica e a reflexão sobre a cultura, a sociedade e o cinema. Os filmes aqui escolhidos abordam direta ou indiretamente, as reverberações da década de 1960, em especial o ano de 1968: a implementação do Ato Institucional nº5, AI-5, no Brasil, o massacre de estudantes na Plaza Tlatelolco no México e as manifestações do movimento estudantil na França.
    Esplendor do martírio é um curta-metragem produzido em 1974 e que traz o espetáculo de rua oferecido por um engolidor de fogo alternado com performances do próprio diretor ao enfrentar a delimitação e ordenação do espaço público. Sob a trilha sonora de Money e Time do álbum The dark side of the moon, do Pink Floyd, o filme se desenvolve com a demonstração artística de um artista de rua e suas habilidades com o fogo, assistido por transeuntes curiosos. Um recorte de jornal nos apresenta o Monumento aos heróis, com inscrições à caneta de “esplendor do martírio”. Uma garota, com as mãos e olhos atados se desvencilha do que lhe reprime e coloca seu futuro no jogo de cartas, enquanto outro homem, interpretado pelo próprio diretor, faz uma performance com vendas nos olhos e amarrado em um poste de uma rua da capital. Neste conjunto de imagens, outra cena se associa: a de um jovem, da equipe de filmagem, percorrendo avenidas da cidade até chegar num monumento e atacá-lo. É contido por dois homens (que não sabemos se são seguranças ou pessoas comuns) e logo após preso por policiais. No fim, rasteja até morrer deixando o rastro de sangue pelo corpo e pela Avenida Rio Branco. O filme traz a performance como respiro da instantaneidade e a oposição aos monumentos como formas de resistência, sufocadas pela ditadura militar.
    Ah, verdá?, filme mexicano de Sergio García, também traz o ataque aos monumentos ao tratar da história de um casal “revolucionário” alienado. Os jovens instalam bombas em pontos cívicos como o Monumento de la Revolución e a sede do PRI, Partido Revolucionário Institucional, e fogem da polícia. Realizam uma série de ações “delinquentes”: roubam livros, tem relações sexuais em um carro alheio e roubam outro carro. O garoto é morto na perseguição, mas a garota permanece, desta vez produzindo LSD e despejando a droga nas estações de abastecimento de água da cidade. Com uma banda sonora com várias canções de rock, o curta recorre a ironia para indagar o grau “revolucionário” desta geração e o ataque aos monumentos como forma de resistência.
    A partir deste breve esboço podemos apontar que ambos os filmes trazem a agressão aos símbolos da história e da cidade como resposta a uma ação: se eles oprimem, vamos destruí-los, ou pelo menos ridicularizá-los. O afrontamento e a posterior perseguição também são aspectos em que estes filmes convergem, ao mostrar que para a desobediência não há outra resposta senão a violência e a morte, e assim identificamos o autoritarismo permeando todas as esferas da vida em sociedade: na política, na cultura, na economia… Apesar da repressão, esta postura de deboche traz uma perspectiva de ação no sentido de que o confronto se dá no nível simbólico, justamente o mesmo nível em que o regime da tecnocracia opera. Esta exposição, portanto, dedica-se a entender como esta resposta à opressão e também a uma série de tensionamentos políticos, culturais e sociais se dá nestes filmes experimentais.

Bibliografia

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