Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Lívia Maria Gonçalves Cabrera (UFF)

Minicurrículo

    Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense desde 2017 onde desenvolve o projeto de pesquisa “Inconfidência Mineira (Carmen Santos, 1948): Industria Cinematográfica, Educação e Estado Novo”. Bacharel em Ciências Sociais – Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos e bacharel em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense, atualmente é servidora técnico administrativa da Universidade Federal Fluminense.

Ficha do Trabalho

Título

    Alma educadora: Carmen Santos e a produção de Inconfidência Mineira

Resumo

    A apresentação proposta analisa o filme Inconfidência Mineira, Carmen Santos (1948), relacionando as escolhas de produção com o contexto histórico e político da época. O trabalho dialogará com os debates em torno das ideias desenvolvimentistas acerca do cinema, em torno do cinema educação e dos planos governamentais para o cinema. O desejo dos realizadores brasileiros em alcançar um status industrial para o cinema alinha-se ao início de um interesse estatal na atividade cinematográfica.

Resumo expandido

    A apresentação abordará a pesquisa em andamento sobre a realização do filme Inconfidência Mineira (1948), escrito, produzido, dirigido e estrelado por Carmen Santos, que iniciou a etapa de pré-produção em 1937, tendo realizado as filmagens entre 1941 e 1948, sendo este último o ano de sua exibição. O objeto fílmico desapareceu no incêndio ocorrido nos estúdios da Brasil Vita Film, mas restaram aos dias de hoje uma extensa documentação localizada em diversos arquivos brasileiros, com destaque para a grande quantidade de reportagens reunidas por Pedro Lima. A cobertura realizada pela imprensa fornece indícios da relevância da obra no período e da expectativa em torno do filme por parte da imprensa e de figuras públicas de renome na área de educação e do cinema. O estudo de uma obra fílmica desaparecida em sua forma original, da qual restaram apenas trechos, roteiros, reportagens, fotografias e depoimentos, faz a pesquisa, ao recorrer a outros materiais, enxergar novas possibilidades de análise, articulando outras abordagens para pensar o objeto fílmico.
    Carmen, imersa num contexto de construção e consolidação do cinema brasileiro espelhado no modelo clássico-industrial norte-americano, desejava realizar Inconfidência inspirada pelos épicos do diretor americano Cecil B. DeMille, procurando fornecer as melhores condições de produção possíveis para a época num filme reconhecido como o de “maior preparo conhecido até então pelo cinema brasileiro”, segundo Jurandyr Noronha. Para tanto, ela inicialmente concentrou esforços na construção e aquisição de equipamentos do seu estúdio, a Brasil Vita Film, e por muito tempo contatou e convidou para o trabalho os melhores técnicos e artistas, bem como consultou diversos documentos históricos e foi assistida por intelectuais e historiadores envolvidos com o debate do cinema-educação e os anseios do governo varguista.
    A documentação consultada aponta para uma produção realizada de acordo com uma ampla política estatal que buscava a construção de uma identidade nacional através de um sentimento de pertencimento. A realização de uma obra como Inconfidência Mineira está relacionada com o momento em que pedagogos debatiam o cinema educativo no Brasil, pensando nele como veículo divulgador de ideias. A construção de um projeto educacional, influenciado pela filosofia positivista, acreditava na cientificidade como único meio de chegar ao conhecimento verdadeiro. Essas ideias atravessaram o filme desde a temática escolhida, passando pelos meios de produção da obra, chegando à exibição e recepção.
    Ao levantarmos dados da biografia da realizadora, verifica-se que ela continuou trabalhando em outros filmes, mas era Inconfidência a obra mais importante e dispendiosa de sua carreira, a primeira em que assumia a direção (sendo a terceira mulher brasileira a dirigir um filme longa-metragem de ficção). Após a análise da documentação encontrada, de uma versão do roteiro e do acesso a algumas imagens feitas para o filme, questiona-se as razões que motivaram Carmen a canalizar tantos esforços em torno dessa obra que objetivava despertar nos espectadores os valores nacionais, educando moralmente e culturalmente a população dentro dos propósitos que acreditavam ser corretos e ideais para o desenvolvimento do país. Acredita-se que a articulação das escolhas cinematográfica com os processos políticos, sociais e culturais do período elucidarão uma parte importante da história brasileira, das produções da Brasil Vita Film e da carreira de uma importante figura feminina do cinema brasileiro, com uma intensa participação política de liderança na consolidação da indústria cinematográfica brasileira da primeira metade do século XX.

Bibliografia

    ALMEIDA, Claudio A. O cinema como “agitador de almas”: Argila, uma cena do Estado Novo. São Paulo: Editora Annablume, 1999.
    ASSAF, Alice G. Carmen Santos. Filme Cultura, Rio de Janeiro, Embrafilme, nº 33, p. 14-29, 1979.
    MORETTIN, Eduardo Victorio. A representação da história no cinema brasileiro (1907-1949). Anais do Museu Paulista, São Paulo, Museu Paulista, v. 5, jan/dez 1997.
    _________________________. Cinema Educativo: uma abordagem histórica. Comunicação e Educação, São Paulo, nº 4, set/dez. 1995.
    NAPOLITANO, Marcos. O fantasma de um clássico: recepção e reminiscências de Favela dos meus amores (H. Mauro, 1935). Significação: Revista de Cultura Audiovisual. Universidade de São Paulo, v. 36, nº 32, 2009.
    PESSOA, Ana. Carmen Santos. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2002.
    __________. Argila, ou falta uma estrela… és tu! Fênix: Revista de História e Estudos Culturais. Universidade Federal de Uberlândia, Vol 3, Ano III, nº 1, jan/fev/mar 2006.