Ficha do Proponente
Proponente
- Lívia Maria Gonçalves Cabrera (UFF)
Minicurrículo
- Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense desde 2017 onde desenvolve o projeto de pesquisa “Inconfidência Mineira (Carmen Santos, 1948): Industria Cinematográfica, Educação e Estado Novo”. Bacharel em Ciências Sociais – Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos e bacharel em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense, atualmente é servidora técnico administrativa da Universidade Federal Fluminense.
Ficha do Trabalho
Título
- Alma educadora: Carmen Santos e a produção de Inconfidência Mineira
Resumo
- A apresentação proposta analisa o filme Inconfidência Mineira, Carmen Santos (1948), relacionando as escolhas de produção com o contexto histórico e político da época. O trabalho dialogará com os debates em torno das ideias desenvolvimentistas acerca do cinema, em torno do cinema educação e dos planos governamentais para o cinema. O desejo dos realizadores brasileiros em alcançar um status industrial para o cinema alinha-se ao início de um interesse estatal na atividade cinematográfica.
Resumo expandido
- A apresentação abordará a pesquisa em andamento sobre a realização do filme Inconfidência Mineira (1948), escrito, produzido, dirigido e estrelado por Carmen Santos, que iniciou a etapa de pré-produção em 1937, tendo realizado as filmagens entre 1941 e 1948, sendo este último o ano de sua exibição. O objeto fílmico desapareceu no incêndio ocorrido nos estúdios da Brasil Vita Film, mas restaram aos dias de hoje uma extensa documentação localizada em diversos arquivos brasileiros, com destaque para a grande quantidade de reportagens reunidas por Pedro Lima. A cobertura realizada pela imprensa fornece indícios da relevância da obra no período e da expectativa em torno do filme por parte da imprensa e de figuras públicas de renome na área de educação e do cinema. O estudo de uma obra fílmica desaparecida em sua forma original, da qual restaram apenas trechos, roteiros, reportagens, fotografias e depoimentos, faz a pesquisa, ao recorrer a outros materiais, enxergar novas possibilidades de análise, articulando outras abordagens para pensar o objeto fílmico.
Carmen, imersa num contexto de construção e consolidação do cinema brasileiro espelhado no modelo clássico-industrial norte-americano, desejava realizar Inconfidência inspirada pelos épicos do diretor americano Cecil B. DeMille, procurando fornecer as melhores condições de produção possíveis para a época num filme reconhecido como o de “maior preparo conhecido até então pelo cinema brasileiro”, segundo Jurandyr Noronha. Para tanto, ela inicialmente concentrou esforços na construção e aquisição de equipamentos do seu estúdio, a Brasil Vita Film, e por muito tempo contatou e convidou para o trabalho os melhores técnicos e artistas, bem como consultou diversos documentos históricos e foi assistida por intelectuais e historiadores envolvidos com o debate do cinema-educação e os anseios do governo varguista.
A documentação consultada aponta para uma produção realizada de acordo com uma ampla política estatal que buscava a construção de uma identidade nacional através de um sentimento de pertencimento. A realização de uma obra como Inconfidência Mineira está relacionada com o momento em que pedagogos debatiam o cinema educativo no Brasil, pensando nele como veículo divulgador de ideias. A construção de um projeto educacional, influenciado pela filosofia positivista, acreditava na cientificidade como único meio de chegar ao conhecimento verdadeiro. Essas ideias atravessaram o filme desde a temática escolhida, passando pelos meios de produção da obra, chegando à exibição e recepção.
Ao levantarmos dados da biografia da realizadora, verifica-se que ela continuou trabalhando em outros filmes, mas era Inconfidência a obra mais importante e dispendiosa de sua carreira, a primeira em que assumia a direção (sendo a terceira mulher brasileira a dirigir um filme longa-metragem de ficção). Após a análise da documentação encontrada, de uma versão do roteiro e do acesso a algumas imagens feitas para o filme, questiona-se as razões que motivaram Carmen a canalizar tantos esforços em torno dessa obra que objetivava despertar nos espectadores os valores nacionais, educando moralmente e culturalmente a população dentro dos propósitos que acreditavam ser corretos e ideais para o desenvolvimento do país. Acredita-se que a articulação das escolhas cinematográfica com os processos políticos, sociais e culturais do período elucidarão uma parte importante da história brasileira, das produções da Brasil Vita Film e da carreira de uma importante figura feminina do cinema brasileiro, com uma intensa participação política de liderança na consolidação da indústria cinematográfica brasileira da primeira metade do século XX.
Bibliografia
- ALMEIDA, Claudio A. O cinema como “agitador de almas”: Argila, uma cena do Estado Novo. São Paulo: Editora Annablume, 1999.
ASSAF, Alice G. Carmen Santos. Filme Cultura, Rio de Janeiro, Embrafilme, nº 33, p. 14-29, 1979.
MORETTIN, Eduardo Victorio. A representação da história no cinema brasileiro (1907-1949). Anais do Museu Paulista, São Paulo, Museu Paulista, v. 5, jan/dez 1997.
_________________________. Cinema Educativo: uma abordagem histórica. Comunicação e Educação, São Paulo, nº 4, set/dez. 1995.
NAPOLITANO, Marcos. O fantasma de um clássico: recepção e reminiscências de Favela dos meus amores (H. Mauro, 1935). Significação: Revista de Cultura Audiovisual. Universidade de São Paulo, v. 36, nº 32, 2009.
PESSOA, Ana. Carmen Santos. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2002.
__________. Argila, ou falta uma estrela… és tu! Fênix: Revista de História e Estudos Culturais. Universidade Federal de Uberlândia, Vol 3, Ano III, nº 1, jan/fev/mar 2006.