Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Rafael Morato Zanatto (UNESP)

Minicurrículo

    Historiador, mestre e doutorando em História e Sociedade pela UNESP – FCL Assis, com a tese Paulo Emílio e a Cultura Cinematográfica: entre a Crítica e a História (1940-1977) (FAPESP). Sob o amparo da FAPESP, realizou estágios de pesquisa no exterior na Cinémathèque Française (2012) e na Deutsche Kinemathek (2017). Atuou como pesquisador da VI Jornada Brasileira do Cinema Silencioso (2012), da mostra 300 anos de cinema (2013) e do festival 100 Paulo Emílio (2016), da Cinemateca Brasileira.

Ficha do Trabalho

Título

    Paulo Emílio e Os filmes na cidade (1966)

Resumo

    Trata-se de apresentar o resultado da pesquisa e recomposição do curso Os filmes na cidade (1966), ministrado pelo crítico e historiador de cinema Paulo Emílio Sales Gomes. No curso, Paulo Emílio trata de temas centrais da formação econômica e cultural brasileira, a fim de estabelecer uma noção de sociedade aliada à descrição dos espaços públicos e privados de divertimentos nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo nos séculos XIX e XX, raiz da explicação que procura para o sucesso da chanchada

Resumo expandido

    Ao longo da pesquisa que realizamos para a tese Paulo Emílio e a Cultura Cinematográfica: entre a crítica e a história do cinema, nos deparamos com grande pluralidade de documentos, em sua maioria catalogada e preservada pela Cinemateca Brasileira, que participamos ao realizar pesquisas e organização de arquivo para o Festival Paulo Emílio 100 anos (2016). Ao lado da reorganização do arquivo, a digitalização da produção intelectual de Paulo Emílio Sales Gomes permitiu por em prática uma modalidade de cotejamento de documentos mais dinâmica, a partir da análise do estado de conservação do documento, detalhes como dobras, acidificação, ferrugem, caligrafia, aliada à remontagem dos conteúdos, nos permitiu recompor parcela relevante da produção intelectual de Paulo Emílio, ainda hoje desconhecida, como o curso Os filmes na cidade, realizado em 1966 para a Sociedade Amigos da Cinemateca .
    No curso, Paulo Emílio adota como ponto de partida de sua narrativa histórica a obra A Formação Econômica do Brasil, de Celso Furtado, a fim de traçar um panorama da economia brasileira do século XIX, ao tecer relações entre a lavoura e o comércio, a lavoura e a indústria, o comércio e a indústria, o comércio e os estrangeiros, seu papel no comércio, ou ainda temas como a escravidão, tecnologia, ou ainda a falta de inventividade observada na análise dos registros de patentes, a partir da opinião do conde Van Straten-Ponthoz, a abolição do tráfico e o contrabando, a lei do ventre livre e a marginalização dos libertos até o momento da abolição.
    Após aprofundar temas de importância econômica e social que visam apontar a posição periférica do Brasil, Paulo Emílio analisa obras de literatura de viagem de autores como Karl Schlichthorst, John Luccock, T. von Leithold e L. von Rango a fim de oferecer um retrato bastante interessante dos divertimentos e espetáculos no Rio de Janeiro a partir da chegada da família real portuguesa (1808). Paulo Emílio percorre este conjunto de fontes destacando citações e as encadeando em sua exposição; menciona páginas e transcreve trechos que nos oferecem uma constelação de informações sobre os teatros como o São Pedro de Alcântara, assim com as sociabilidades em seu interior, os preços, a algazarra, as mulheres, a divisão social dos assentos, os números e os artistas que por ali circulavam, etc., ou ainda destaca da rua e dos espaços privados modos de se divertir, jogos, músicas, instrumentos, poesia, e também descreve as mulheres, a disciplina à que estavam submetidas ou a liberdade atingida a partir da prostituição.
    Através de obras de autores nacionais, como Humberto Bastos, Mello Morais, Ernani Silva Bruno, Paulo Emílio nos oferece um retrato de manifestações culturais brasileiras, como o entrudo e o carnaval, para o crítico, dotado de profundo sentido político. Trata também das procissões religiosas como um espetáculo, ressalta a boa qualidade da música nas igrejas, antes de se aprofundar nas exibições de aparatos ópticos, museus de cera, etc. Sobre os divertimentos, Paulo Emílio trata também da cultura dos piqueniques, dos banhos de rio, praia ou em “tanques”, os clubes de regatas, as transformações urbanas, a febre amarela, a capoeira, as corridas de cavalos e as proezas aéreas que iriam ocupar parte importante da vida paulistana e carioca ao longo do século XIX e início do XX, quando Paulo Emílio analisa a atividade de Pascoal Segreto, o Teatro de Revista, a ação de Alberto Botelho, Adhemar Gonzaga e Humberto Mauro são reconstituídas a partir de revistas e jornais da época, como a Selecta, Paratodos, A Manhã, etc. Em conjunto, o curso demonstra a proposta ideológica de Paulo Emílio para a história e para o futuro do cinema brasileiro: encontrar nas formas tradicionais de diversão desta terra, como o carnaval, temas e estilos presentes no imaginário carioca e paulistano, que, além de explicar o sucesso das chanchadas, deveria ser considerado na formação da história e do cinema brasileiro.

Bibliografia

    Anais do Congrès de Rome 1949. Fédération Internationale des Archives du Film. Secrétariat Exécutif, Paris : 1949.
    ARAÚJO, Vicente de Paula. A Bela Época do cinema brasileiro. São Paulo:
    Perspectiva, 1976.
    ARAÚJO, Vicente de Paula. Salões, Circos e Cinemas de São Paulo. São Paulo: Perspectiva, 1981.
    FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Editora Companhia Nacional, 2005.
    GOMES, Paulo Emílio Sales. Os filmes na cidade (1966). Centro de Documentação e Pesquisa da Cinemateca Brasileira. Documentos em fase de catalogação.Produção Intelectual.
    GOMES, Paulo Emílio Sales. CALIL, Carlos Augusto (org.) Uma situação colonial? São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
    MENDES, Adilson. Trajetória de Paulo Emílio. São Paulo: Ateliê Editorial, 2015.
    SCHLICHTHORST, Carl. O Rio de Janeiro como é (1824-26). Brasília: Editora do Senado Federal, 2010.
    SOUZA, José Inácio de Melo. Paulo Emílio no Paraíso. São Paulo: Editora Record, 2002.