Ficha do Proponente
Proponente
- Patricia Rebello da Silva (UERJ)
Minicurrículo
- Professora adjunta da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCS/UERJ). Professora colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UERJ (PPGCOM/UERJ). Membro do comitê de curadoria das mostras competitivas de curta-metragem nacional e internacional do É Tudo Verdade Festival Internacional de Documentários desde 2007. Editora da Revista LOGOS: Comunicação e Universidade do PPGCOM/UERJ.
Ficha do Trabalho
Título
- Notas de pensar no documentário: Trilogia do Luto, de Cristiano Burlan
Resumo
- Este artigo desenvolve reflexão em torno do documentário brasileiro contemporâneo, optando por um recorte que contempla produções orientadas pelo mecanismo de auto-inscrição do realizador e pela projeção de memórias no contexto da mise en scène. Essa produção subjetiva tem se mostrado território rico em experimentações. Este texto busca pensar os filmes “Construção” (2007), “Mataram Meu Irmão” (2013) e “Elegia de um crime” (2018) tanto como rastro quanto como sintoma desse estado de coisas.
Resumo expandido
- Este artigo desenvolve uma reflexão em torno do documentário brasileiro contemporâneo, optando por um recorte que contempla produções orientadas pelo mecanismo de auto-inscrição do realizador na estrutura narrativa, bem como pela projeção de memórias íntimas no contexto da mise en scène. A montagem destes filmes aponta para o que, em um primeiro momento, pode se constituir como uma “argumentação afetiva”, mas que se expõe, gradualmente, como dispositivo produtor de narrativas, fabulações e maquinaria de memória. Documentários de busca, cinema de dispositivo, filmes de encontro, essa produção subjetiva tem se mostrado, nos últimos vinte anos, território rico em experimentações e invenções de linguagem. A partir da Trilogia de Luto, de Cristiano Burlan, este texto busca pensar os filmes “Construção” (2007), “Mataram Meu Irmão” (2013) e “Elegia de um crime” (2018) tanto como rastro como quanto sintoma deste estado de coisas no documentário brasileiro contemporâneo.
Para contar a história de ausências e vazios, Cristiano Burlan pratica um cinema de encontros. O paradigma se instala no coração das questões que atravessam os três filmes da Trilogia do Luto (Construção, 2007; Mataram meu irmão, 2013; Elegia de um crime, 2018), cujas narrativas surgem do tensionamento dos fatos em torno das mortes do pai, do irmão e da mãe do diretor, respectivamente. Na busca por uma forma, o diretor, igualmente, ao longo dos filmes, vai fabulando um cinema possível, um cinema do tamanho de suas angústias e inquietações. Se em “Construção”, registro do microcosmo de um canteiro de obras na cidade de São Paulo, a imagem do pai se torna uma possibilidade em cada um dos operários da obra, a partir de “Mataram meu irmão” o vazio se consolida como presença, a ausência como memória rediviva e a própria impossibilidade da imagem do irmão, assassinado com sete tiros nas costas, como forma da história, ou de impossibilidade de história. A consciência de uma “violência do visível”, como escreve Marie-José Mondzain, a realização do cinema como experiência de luto, a reflexão sobre quais as imagens possíveis e justas para pensar a perda, são questões que entram em crise e encontram acolhida em “Elegia de um crime”, mergulho vertiginoso na reconstrução da imagem e da vida da mãe do diretor, morta de forma trágica.
Bibliografia
- BERNARDET, Jean-Claude. Cristiano Burlan – um relato de vida. Blog do Jean-Claude. http://jcbernardet.blog.uol.com.br/cinema/arch2014-02-16_2014-02-22.html. Acesso em 11/5/2018.
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