Ficha do Proponente
Proponente
- Agnes Cristine Souza Vilseki (UFPR)
Minicurrículo
- Mestranda em Educação pela UFPR, graduada no curso de Bacharelado em Cinema e Vídeo da UNESPAR, campus Curitiba II/FAP e pós-graduada no curso de Especialização em Poéticas Visuais da UNESPAR, campus Curitiba I/EMBAP. Suas pesquisas recentes abordam questões de representação, gênero e sexualidade no cinema e na fotografia. Participa do grupo de pesquisa Cinema: Criação e Reflexão – Cinecriare (Unespar/CNPq), na linha Análise dos discursos cinematográficos.
Ficha do Trabalho
Título
- Gênero e sexualidade: uma análise a partir da direção de fotografia
Seminário
- Teorias e análises da direção de fotografia
Resumo
- Esta pesquisa propõe analisar como a direção de fotografia constrói discursos de gênero e sexualidade no filme O Céu Sobre os Ombros (2011), de Sérgio Borges, buscando compreender em que medida o filme reforça performatividades normativas e binárias ou possibilita outros olhares sobre as identidades de gênero.
Resumo expandido
- Proponho neste trabalho pensar o cinema como um dispositivo pedagógico, que não somente nos ensina a ver, mas que produz de fato subjetividades e realidade. O que vemos, como vemos e porque vemos de determinada maneira? Sendo o cinema este poderoso criador de imagens e representações, com grande capacidade subjetivadora, arrisco afirmar que somos também subjetivados sobre questões relacionadas a gênero e sexualidade, não somente pelo conteúdo narrativo, mas também através da própria estrutura enquanto forma fílmica.
A linguagem cinematográfica é construída através de códigos e os elementos que compõem o discurso cinematográfico são procedimentos técnicos e artísticos: o roteiro, a direção, a direção de arte, a direção de fotografia, o som e a montagem atuam com a finalidade de dar sentido à narrativa. A direção de fotografia transforma o roteiro em uma linguagem visual. Em consonância com os outros departamentos, resulta em uma obra alinhada à concepção da/o diretor/a. A fotografia deve acompanhar o discurso fílmico e utilizar os seus recursos como ferramentas para a construção da narrativa.
Os elementos constitutivos desta linguagem não tem um significado à priori, anterior, fixo ou determinado, adquirem sentido através das relações que estabelecem entre si. Neste sentido, o cinema é uma “expressão de montagem”, nas palavras de Jean-Claude Bernardet (1985), ao trabalhar com a manipulação, seleção, organização do que é filmado. São escolhas que resultarão em discursos, enunciados, linguagem, as quais não existem fora de uma cultura, e portanto não podem ser neutras, tão somente carregadas de subjetividade.
E se as estruturas da linguagem não são permanentes, como ensina Foucault, não há pretensão alguma de encontrar na linguagem cinematográfica uma resposta verdadeira sobre os corpos em cena, mas aposto na desconstrução do objeto de análise como forma de desestabilizar a linguagem cinematográfica. Pois interessa “desnaturalizar concepções fixas sobre os corpos e sujeitos e explicar os modos pelos quais alguns corpos são produzidos como normais à custa da constituição de outros como anormais.” (REIS apud MISKOLCI, 2014, p. 245).
A escolha do filme O Céu Sobre os Ombros (2011), de Sérgio Borges, é em função de figurar em um contexto de filmes brasileiros contemporâneos que têm se mostrado um campo de experimentações que sugerem um espaço de resistência, em que sujeitos desviantes das vivências normalizadas de gênero e sexualidade encontram formas outras de existir. O Céu Sobre os Ombros busca borrar as fronteiras entre o documentário e a ficção, o real e o encenado e procura, através de seus protagonistas desviantes, uma representação outra de experiências, de corpos e prazeres.
O questionamento que mobiliza esta pesquisa é pensar que a linguagem cinematográfica – neste caso especificamente a direção de fotografia – pode carregar discursos de gênero e sexualidade e ser naturalizada. Desta forma, proponho investigar se, além da temática, o filme O Céu Sobre os Ombros, confirma em sua construção fílmica através da direção de fotografia, o discurso da narrativa. Se, no campo dos discursos, no plano simbólico e no plano formal, existe uma hegemonia que atua reforçando performatividades normativas e binárias de gênero, que pressupõe como natural o alinhamento entre sexo, gênero e sexualidade, seria possível encontrar no cinema uma fissura, uma interrupção, uma possibilidade de novas configurações? Mais do que isso, seria possível encontrar na linguagem, na própria forma fílmica, formas outras de olhar, de criar e de existir?
Bibliografia
- AUMONT, Jacques; MARIE, Michel. A análise do filme. 3ª ed. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2004.
BERNARDET, Jean-Claude. O que é cinema. 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1985.
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade/Judith Butler; tradução: Renato Aguiar. 6ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade 1: A vontade de saber. 4ª ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2017.
MOURA, Edgar. 50 anos, luz câmera e ação. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 1999.
TEDESCO, Marina Cavalcanti. Questões de gênero na fotografia cinematográfica clássica. Revista de Análisis Cinematografico Montajes, n.2, jan-jun de 2013, p.95-111.
REIS, Cristina D’Ávila. O uso da metodologia queer em pesquisa no campo do currículo. In: MEYER, Dagmar Estermann; PARAÍSO, Marlucy Alves (Org.). Metodologias de pesquisas pós-críticas em educação. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2012.