Ficha do Proponente
Proponente
- Renato Campos Vieira (UFRJ)
Minicurrículo
- Licenciado e Bacharel em Biologia, com trabalho de conclusão onde foi feita a análise de vídeos produzidos por estudantes do ensino médio, após uma sequência de aulas ministradas pelo pesquisador. Mestre em Educação Científica e Tecnológica, onde foram investigadas as práticas dos professores de Ciências, quando estes trabalham com audiovisuais em suas aulas. Atualmente doutorando no programa de Educação em Ciências e Saúde na UFRJ, pesquisando o vídeo no ensino e seus processos formativos.
Coautor
- Luiz Augusto Coimbra de Rezende Filho (NUTES-UFRJ)
Ficha do Trabalho
Título
- O AUDIOVISUAL NO ENSINO DE CIÊNCIAS: A CONSTRUÇÃO DO ENDEREÇAMENTO
Seminário
- Cinema e Educação
Resumo
- Esta pesquisa trata da pouca ou mesmo da falta de formação de professores no ensino de ciências para a prática com o audiovisual em sala de aula. Algumas questões fundamentais propostas por autores da área da comunicação e educação são trazidas e discutidas para pensar em possíveis caminhos para diminuir esse déficit, apontando para uma formação mais ampla e aprofundada nesta linguagem. Uma proposta de formação para a leitura e a construção do endereçamento de vídeos no ensino é discutida.
Resumo expandido
- O uso de vídeos para o Ensino de Ciências e a formação do professor têm sido objetos de pesquisas recentes (Vidal, Rezende, Casariego, 2013). Algumas apontam que o uso de vídeo no ensino ainda tem frequentemente como objetivo a ilustração de conteúdos e a motivação dos alunos. O vídeo chega até mesmo a ser usado como substituto do professor. Em relação a estas questões, Vidal, Rezende e Casariego (2013) trazem relatos de professores de ciências que afirmam que em suas formações faltou orientação quanto ao uso do audiovisual.
Segundo Passou et al. (2011), o fato de os professores utilizarem o audiovisual na forma mais tradicional “pode estar relacionado com a falta de abordagem do uso deste recurso, assim como de outros mais modernos, durante a formação”. Tendo em vista que no cenário atual as pesquisas têm apontado uma carência na formação inicial do professor para o domínio da linguagem audiovisual, como seria então um processo formativo que o ajudasse a construir formas mais ampliadas de seu uso em aula?
Autores como Bergala (2008) dão grande importância ao ato de criação e no processo de conhecimento que o estudante adquire ao elaborar um vídeo, e que é nessa procura por ações conduzidas pelo desejo de ver sua obra finalizada que se encontra o grande valor da aprendizagem. Assim, ao iniciar o estudante de licenciatura na produção de um vídeo, estes passam de sujeitos que recebem a informação da tela, para a posição em que criam, pensam e idealizam sua visão para produzir seu próprio material.
Mesmo que muitas vezes o produto final nem chegue a “ver a luz do dia”, tudo o que os licenciandos adquiriram durante o processo de criação, que engloba desde pensar nos modos de endereçamento (Elssworth, 2001) até os aspectos técnicos de uma produção, tornam esse processo uma experiência de fato formadora. Ter contato com esse ato de criação, já na formação inicial, pode fazer com que todo processo que envolve a produção de um vídeo torne o trabalho mais rico e potencializador de aprendizagem. Além disso, nesse processo de expansão de horizontes, cria-se a oportunidade de atuar sobre “a formação do gosto do professor, seus hábitos de leitura, investir na sua cultura e gosto pelas artes” (Fresquet, 2013, p. 46).
Essas e outras questões são relevantes para que a prática do professor de Ciências com o audiovisual vá além de utilizações mais limitadas (motivar, ilustrar), mas também implique no aperfeiçoamento dessas. Além do processo de criação defendido por Bergala (2008), vemos a leitura e a construção dos modos de endereçamento (Ellsworth, 2001) como um aprendizado potencialmente transformador para um trabalho diferenciado do professor com a produção de vídeos. Assim, para um professor de ciências que produz vídeos em/para atividades didáticas, aprender a construir o endereçamento nos parece fundamental, já que neste reside uma das bases mais importantes para a comunicação e a expressão audiovisual inclusive no ensino (Bastos, Rezende, Pastor Junior, 2015).
Uma proposta de formação com esse objetivo, tal como a que vimos desenvolvendo, incluiria certamente um conhecimento sobre a linguagem e a história do cinema, mas também um conhecimento sobre o espectador, que emerge não só da vivência do professor com seus alunos, mas também com o mundo que os cerca e que lhes fornece referências e informação, que orienta seus gostos, preferências e saberes. Assim seria não só necessário “formar” o professor conceitualmente para perceber o que são e como atuam os modos de endereçamento, mas também como construí-los, a partir de que bases e de que conhecimentos sobre seus espectadores, sugerindo-lhes um método para essa construção.
É evidente a importância de licenciandos em Biologia terem a oportunidade de passarem por um momento de iniciação à linguagem audiovisual, dando oportunidade para discutirem suas concepções, exporem conhecimentos e produzirem seus próprios artefatos culturais.
Bibliografia
- BASTOS, W. G.; REZENDE, L. A. C.; PASTOR JUNIOR, A. A. Produção de vídeo educativo por licenciandos: um estudo sobre recepção fílmica e modos de leitura. Ensaio: Pesquisa em Educação em Ciências, v. 17, p. 39-58, 2015.
BERGALA, A. A hipótese-cinema pequeno tratado de transmissão do cinema dentro e fora da escola. Rio de Janeiro: Booklink; 2008, 210p.
ELLSWORTH, E. Modos de endereçamento: uma coisa de cinema. In: SILVA, T. T. (org.) Nunca fomos humanos – nos rastros do sujeito. BH, Autentica, 2001. 208p.
FRESQUET, A. M. Cinema e Educação: reflexões e experiências com professores e estudantes de educação básica, dentro e “fora” da escola. BH: Autêntica, 2013.
PASSOU, A. S.; MELO, W. V.; ANDRADE, L.; PEREIRA, R. M. M. Fatores que influenciam na utilização de filmes como recurso didático pelos docentes de ciências. VIII ENPEC, 2011.
VIDAL, F. L. K.; REZENDE, L. A. C.; CASARIEGO, F. Recursos audiovisuais e experimentação didática: práticas concorrentes e/ou desafios convergentes.ENPEC,2013.