Ficha do Proponente
Proponente
- Andreson Silva de Carvalho (ESPM-RJ)
Minicurrículo
- Doutor pelo PPGCOM da Universidade Federal Fluminense, na linha de pesquisa de Estudos de Cinema e Audiovisual. Já atuou como professor nos cursos de cinema da UFF e da ECDR. É atual professor de produção e edição de som nos cursos de cinema, jornalismo e design da Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio de Janeiro.
Ficha do Trabalho
Título
- Audiodescrição nas salas de cinema: o que mudou e o que falta mudar.
Seminário
- Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil
Resumo
- A tecnologia digital permite um número cada vez maior de soluções inclusivas, mesmo que ainda não estejam amplamente disseminadas. Por isso, é preciso que leis sejam criadas e datas estabelecidas para que os simples direitos de ir e vir, ver e ouvir, trabalhar e se divertir, sejam concedidos a todos, sem nenhuma distinção. O prazo para adequação das salas de cinema, permitindo deficientes visuais de ter uma melhor experiência audiovisual, está perto do fim. O que se pode esperar dessa mudança?
Resumo expandido
- Este trabalho tem como principal objetivo discutir o contexto de implantação da Instrução Normativa 128/2016, apresentada pela ANCINE, em 15 de setembro de 2016, que regulamenta a inclusão de recursos de acessibilidade auditiva e visual nas salas de cinema comerciais de todo o território nacional. Por se tratar de um tema atual, a pesquisa ainda se encontra em desenvolvimento e a proposta inicial é centrar o estudo em casos voltados para a audiodescrição, tendo em vista que a IN abrange também outras formas de acessibilidade, como legendagem, legendagem descritiva e LIBRAS. A intenção é realizar uma análise crítica acerca das condições reais de acessibilidade para os portadores de alguma deficiência visual, tanto no que se refere ao acesso ao conteúdo das obras fílmicas quanto às questões sociais, estruturais e tecnológicas relacionadas ao processo de inclusão desta parcela da sociedade.
No momento atual, a principal questão é mensurar o quão complexa e dispendiosa é essa transformação para as salas de cinema. Será realmente necessário todo esse tempo de adaptação? É preciso que haja uma modificação estrutural tão significativa? Quais são as tecnologias e equipamentos disponíveis para atender a tal demanda? Além disso, de quem é a responsabilidade sobre o texto descritivo apresentado? Da produção do filme, do distribuidor ou do exibidor? No caso específico da audiodescrição, essa questão tem uma importância crucial, já que não basta descrever o que se vê a partir da percepção de uma pessoa com a visão perfeita. É fundamental que o conteúdo descritivo leve em consideração as necessidades perceptivas de pessoas cegas ou com baixa visão, já que a assimilação e o entendimento delas não são os mesmos das demais pessoas.
Dentro da questão da tecnologia, num primeiro momento, pode-se apontar para duas possíveis soluções. A primeira seria um sistema, de certa forma antigo, utilizado há décadas para tradução de palestras e eventos em tempo real, no qual, ao chegar ao estabelecimento, os espectadores recebem receptores e fones de ouvido. Este sistema não exige uma instalação complexa e, quando utilizado nas salas de cinema, permite tanto a reprodução de um áudio previamente gravado, quanto uma audiodescrição ao vivo. A outra opção seria a utilização de smartphones e seus aplicativos. Uma solução tecnológica moderna e que já se encontra disponível, mesmo antes dos exibidores disponibilizarem a audiodescrição em todas as salas.
O MovieReading, por exemplo, é um aplicativo que oferece recursos tanto de audiodescrição quanto de legendas em português. Sua utilização é bem simples. Após a instalação, basta configurar o país do usuário e fazer uma busca, clicando no botão market – que, apesar deste nome, é inteiramente gratuito –, para acessar o banco de dados e ver quais títulos estão disponíveis. Outra vantagem, segundo o desenvolvedor, é que o dispositivo trabalha com um sistema de reconhecimento de áudio, sincronizando a transmissão mesmo que a sessão já tenha começado.
Esta tecnologia, porém, acaba por gerar outra discussão. Se por um lado os aplicativos de smartphone permitem maior liberdade para os usuários com necessidade de tal acessibilidade, por outro, partem do princípio que apenas os possuidores de smartphones terão acesso a essa experiência. E mais, os colocam dependentes de ir ao cinema só se o celular estiver com bateria suficiente para não desligar durante a sessão. Ou seja, independente do sistema a ser utilizado, o importante é que os próprios exibidores disponibilizem estes equipamentos para o público em geral, sem nenhum acréscimo no valor do ingresso, permitindo a todos os espectadores uma experiência cinematográfica mais igualitária. Pois, o aparato de audiodescrição precisa ser encarado como um direito e não como um dispositivo que ampliará a experiência sensorial de quem o utiliza, assim como fazem os óculos 3D e as poltronas que vibram durante a exibição de filmes.
Bibliografia
- ANCINE concede prazo adicional para adaptação de salas de cinema a recursos de acessibilidade visual e auditiva. ANCINE. Disponível em: . Acesso em: 01 mai. 2018.
ANCINE regulamenta inclusão de recursos de acessibilidade auditiva e visual nas salas de cinema. ANCINE. Disponível em: . Acesso em: 01 mai. 2018.
INSTRUÇÃO NORMATIVA nº. 128, de 13 de setembro de 2016. ANCINE. Disponível em: . Acesso em: 01 mai. 2018.
ROGERS, M. (ed); MATAMALA, A. (ed); ORERO, P. (ed). Researching Audio Description: New Approaches. Barcelona: Palgrave Macmillan, 2016.