Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Jéssica Maria Brasileiro de Figueiredo (UFPB)

Minicurrículo

    Mestranda em Comunicação pela Universidade Federal da Paraíba, na linha de pesquisa Culturas Midiáticas Audiovisuais. Graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal da Paraíba com habilitação em Jornalismo. É integrante do Grupo de Pesquisa de Ficção Seriada (GRUFICS). Interessa-se pelas áreas de ficção televisiva, ficção seriada, estrutura narrativa, consumo de séries e mundos possíveis na ficção.

Ficha do Trabalho

Título

    Mundos possíveis na ficção científica: analisando Stranger Things

Resumo

    Esta apresentação se propõe a examinar como ocorre a exposição de dois mundos na série Stranger Things. Para tal, o trabalho parte da noção de “mundo estruturalmente possível” proposta por Umberto Eco (1989), além de considerações do autor sobre a ficção científica. Com isso, procuramos verificar como a série apresenta dois mundos paralelos, que se entrecruzam, permitindo a passagem de um para outro e ainda a existência de um espaço vazio entre eles, acessado apenas por uma personagem.

Resumo expandido

    A partir da noção de “mundo estruturalmente possível” e as considerações sobre ficção científica propostas por Umberto Eco (1989), este trabalho busca verificar como a série Stranger Things (2016-presente) desenvolve dois mundos que se cruzam e permitem a passagem de um para outro, além de um espaço vazio entre eles, acessado apenas por uma personagem.
    A noção de mundos possíveis na ficção é uma adaptação do conceito de Mônada, desenvolvido por Leibniz (1646-1716), abordado na lógica modal por filósofos como Lewis (1968), e revisto na teoria literária por Eco (1989), Ryan (1992), Doležel (1998) e outros autores. O fundamento do conceito aborda a criação de mundos possíveis a partir de constatações semânticas contrafactuais. Trata-se de contrafactos modais criados a partir de um exercício mental de confabulações (LEWIS, 1968) que consideram como o mundo poderia ter sido. Seriam atestações como “Se Napoleão não tivesse invadido a Rússia, ele seria imperador até a sua morte” (RYAN, 1992). Tais contrafactos fazem surgir mundos possíveis, que têm existência particular e ontológica (DOLEŽEL, 1998).
    No campo da ficção, podemos observar que cada narrativa constrói em si um mundo possível, o qual Eco (1989, p. 166) chama de “mundo estruturalmente possível”. Segundo o autor, até a mais realista das obras “delineia um mundo possível enquanto este apresenta uma população de indivíduos e uma sequência de estados de fato que não correspondem aos do mundo da nossa experiência”. Nas obras realistas, o mundo possível é semelhante ao real. Nas histórias de fantasia e ficção científica, o mundo é estruturalmente diferente deste que vivemos, e nele há elementos extraordinários, como pessoas com poderes telecinéticos e monstros. De acordo com Ciro Cardoso (2006), o que diferencia a fantasia da ficção científica é que esta última busca explicações teóricas ou científicas para justificar a ocorrência dos eventos extraordinários.
    Diversas histórias de ficção científica relatam a existência de mundos paralelos, mostrando a não só sua existência, mas também a possibilidade da passagem de um para outro. Como relata Eco (1989), tal possibilidade é apresentada sempre com base na extrapolação de estudos científicos reais do nosso mundo, criando situações que poderiam acontecer caso certas tecnologias avançassem de tal modo capaz de transformar estruturalmente o mundo que habitamos. Em Stranger Things, o desaparecimento do garoto Will Byers desencadeia uma investigação que abre portas para diversas descobertas científicas e leva ao encontro com Eleven, uma garota com poderes telecinéticos. A série se passa nos anos 1980 e foi inspirada no projeto Montauk, da mesma época, que fazia testes em humanos, lidava com viagens no tempo e tecnologias alienígenas (WHITE, 2017).
    Sendo uma ficção científica, Stranger Things se dispõe a apresentar dois mundos paralelos: Hawkins e o Mundo Invertido. Estes mundos se entrcruzam, permitindo a passagem de um para outro e ainda a existência de um espaço vazio entre eles, acessado apenas por Eleven. Diante deste contexto, o objetivo desta comunicação é verificar como se dá a existência desses dois mundos no desenrolar narrativo da série, a partir da investigação do paradeiro de Will Byers.

Bibliografia

    CARDOSO, Ciro Flamarion. Ficção científica, percepção e ontologia: e se o mundo não passasse de algo simulado? História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Niterói, v. 13, p. 17-37, outubro 2006.
    DOLEŽEL, Lubomir. Possible Worlds of Fiction and History. New Literary History, Baltimore, v. 29, n. 4, 1998.
    ECO, Umberto. Sobre Espelhos e Outros Ensaios. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.
    LEWIS, David K. Counterpart Theory and Quantified Modal Logic. The Journal of Philosophy, New York, v. 65, n. 5, p. 113-126, Mar 1968.
    RYAN, Marie-Laurie. Possible Worlds in Recent Literary Theory. Penn State University Press, Fort Collins, v. 26, n. 4, p. 528-553, 1992.
    WHITE, Martha C. ‘Stranger Things’ Fans: Here’s How to Overload on Conspiracy Theories While Binge-Watching the Show. TIME, 2017. Disponivel em: . Acesso em: 31 jan 2018.