Ficha do Proponente
Proponente
- Jéssica Maria Brasileiro de Figueiredo (UFPB)
Minicurrículo
- Mestranda em Comunicação pela Universidade Federal da Paraíba, na linha de pesquisa Culturas Midiáticas Audiovisuais. Graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal da Paraíba com habilitação em Jornalismo. É integrante do Grupo de Pesquisa de Ficção Seriada (GRUFICS). Interessa-se pelas áreas de ficção televisiva, ficção seriada, estrutura narrativa, consumo de séries e mundos possíveis na ficção.
Ficha do Trabalho
Título
- Mundos possíveis na ficção científica: analisando Stranger Things
Resumo
- Esta apresentação se propõe a examinar como ocorre a exposição de dois mundos na série Stranger Things. Para tal, o trabalho parte da noção de “mundo estruturalmente possível” proposta por Umberto Eco (1989), além de considerações do autor sobre a ficção científica. Com isso, procuramos verificar como a série apresenta dois mundos paralelos, que se entrecruzam, permitindo a passagem de um para outro e ainda a existência de um espaço vazio entre eles, acessado apenas por uma personagem.
Resumo expandido
- A partir da noção de “mundo estruturalmente possível” e as considerações sobre ficção científica propostas por Umberto Eco (1989), este trabalho busca verificar como a série Stranger Things (2016-presente) desenvolve dois mundos que se cruzam e permitem a passagem de um para outro, além de um espaço vazio entre eles, acessado apenas por uma personagem.
A noção de mundos possíveis na ficção é uma adaptação do conceito de Mônada, desenvolvido por Leibniz (1646-1716), abordado na lógica modal por filósofos como Lewis (1968), e revisto na teoria literária por Eco (1989), Ryan (1992), Doležel (1998) e outros autores. O fundamento do conceito aborda a criação de mundos possíveis a partir de constatações semânticas contrafactuais. Trata-se de contrafactos modais criados a partir de um exercício mental de confabulações (LEWIS, 1968) que consideram como o mundo poderia ter sido. Seriam atestações como “Se Napoleão não tivesse invadido a Rússia, ele seria imperador até a sua morte” (RYAN, 1992). Tais contrafactos fazem surgir mundos possíveis, que têm existência particular e ontológica (DOLEŽEL, 1998).
No campo da ficção, podemos observar que cada narrativa constrói em si um mundo possível, o qual Eco (1989, p. 166) chama de “mundo estruturalmente possível”. Segundo o autor, até a mais realista das obras “delineia um mundo possível enquanto este apresenta uma população de indivíduos e uma sequência de estados de fato que não correspondem aos do mundo da nossa experiência”. Nas obras realistas, o mundo possível é semelhante ao real. Nas histórias de fantasia e ficção científica, o mundo é estruturalmente diferente deste que vivemos, e nele há elementos extraordinários, como pessoas com poderes telecinéticos e monstros. De acordo com Ciro Cardoso (2006), o que diferencia a fantasia da ficção científica é que esta última busca explicações teóricas ou científicas para justificar a ocorrência dos eventos extraordinários.
Diversas histórias de ficção científica relatam a existência de mundos paralelos, mostrando a não só sua existência, mas também a possibilidade da passagem de um para outro. Como relata Eco (1989), tal possibilidade é apresentada sempre com base na extrapolação de estudos científicos reais do nosso mundo, criando situações que poderiam acontecer caso certas tecnologias avançassem de tal modo capaz de transformar estruturalmente o mundo que habitamos. Em Stranger Things, o desaparecimento do garoto Will Byers desencadeia uma investigação que abre portas para diversas descobertas científicas e leva ao encontro com Eleven, uma garota com poderes telecinéticos. A série se passa nos anos 1980 e foi inspirada no projeto Montauk, da mesma época, que fazia testes em humanos, lidava com viagens no tempo e tecnologias alienígenas (WHITE, 2017).
Sendo uma ficção científica, Stranger Things se dispõe a apresentar dois mundos paralelos: Hawkins e o Mundo Invertido. Estes mundos se entrcruzam, permitindo a passagem de um para outro e ainda a existência de um espaço vazio entre eles, acessado apenas por Eleven. Diante deste contexto, o objetivo desta comunicação é verificar como se dá a existência desses dois mundos no desenrolar narrativo da série, a partir da investigação do paradeiro de Will Byers.
Bibliografia
- CARDOSO, Ciro Flamarion. Ficção científica, percepção e ontologia: e se o mundo não passasse de algo simulado? História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Niterói, v. 13, p. 17-37, outubro 2006.
DOLEŽEL, Lubomir. Possible Worlds of Fiction and History. New Literary History, Baltimore, v. 29, n. 4, 1998.
ECO, Umberto. Sobre Espelhos e Outros Ensaios. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.
LEWIS, David K. Counterpart Theory and Quantified Modal Logic. The Journal of Philosophy, New York, v. 65, n. 5, p. 113-126, Mar 1968.
RYAN, Marie-Laurie. Possible Worlds in Recent Literary Theory. Penn State University Press, Fort Collins, v. 26, n. 4, p. 528-553, 1992.
WHITE, Martha C. ‘Stranger Things’ Fans: Here’s How to Overload on Conspiracy Theories While Binge-Watching the Show. TIME, 2017. Disponivel em: . Acesso em: 31 jan 2018.