Ficha do Proponente
Proponente
- Gabriel Bueno Lisboa (Unicamp)
Minicurrículo
- Mestrando em Multimeios na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Graduado em Comunicação Social: Radialismo pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Tem experiência profissional na área de Audiovisual principalmente em Edição e Roteiro. Tem interesse na área de Cinema com foco em Cinema Popular, Cinema Político, Teoria dos Gêneros Cinematográficos, História e Cinema. Tem como área de pesquisa atualmente o cinema popular e político italiano dos anos 1960 e 1970.
Ficha do Trabalho
Título
- Música Anacrônica e Modernidade: do Western Italiano ao filme de Wuxia
Seminário
- Estilo e som no audiovisual
Resumo
- Durante as décadas de 1960 e 1970 vários gêneros cinematográficos sofreram rupturas e revisões formais. Dentro destas estaria o uso de trilhas musicais anacrônicas e experimentais em westerns e filmes de artes marciais. A escolha de uma instrumentalização elétrica ou eletrônica para gêneros ambientados, recorrentemente, num passado idealizado revelaria não só a intenção de atingir novos públicos, mas de romper com formas tradicionais da música incidente e da montagem “invisível” no cinema.
Resumo expandido
- Este trabalho tem como objetivo traçar paralelos entre gêneros ambientados num passado mítico, de formação de heróis e identidade nacionais, em diferentes culturas e que seriam reformulados estilisticamente por práticas decorrentes de movimentos do cinema moderno da década de 1960, como a Nouvelle Vague e a Nova Onda do Cinema Japonês. Tomaremos como objetos o som e principalmente a música como elementos desta ruptura formal para refletir de que maneira uma estética moderna dialoga com a ambientação histórica.
Sendo que o western clássico americano se restringia basicamente ao uso da música incidental influenciada pelas composições de Aaron Copland e às canções folk e tradicionais do singing cowboy (BROWNRIGG, 2003), tomaremos como base de comparação os westerns italianos com música de Ennio Morricone. Seu estilo contava com influência da música pop e concreta e se destacava pelos anacronismos, leitmotivs, instrumentalização exótica e pela consequente subordinação da montagem à música.
O estilo de Morricone seria adaptado para o chanbara (“filme de samurais”) em filmes como Hitokiri – O Castigo (1969) e Os Sete Rebeldes (1968), mas por conta das complexidades da Nova Onda do Cinema Japonês, um paralelo mais claro e direto com westerns populares italianos se daria com os filmes de artes marciais produzidos pela Shaw Brothers em Hong Kong no mesmo período.
Os filmes da Shaw Brothers, detentora do cânone do estilo na década, eram todos praticamente filmes de época, dos filmes de Wuxia, passados no universo mágico de Jianghu, aos filmes de kung fu mais “realistas” passados entre o fim da era Qing e o início da República. Este “realismo” seria motivado pela rápida modernização de Hong Kong durante os anos 1960 e 1970.
Os produtores e diretores a buscavam elementos cinematográficos modernos, como o uso de zooms, montagem acelerada e sons amplificados para satisfazer um público proletário saturado de estímulos, buscando um “realismo sensorial” e não tanto a verossimilhança representacional (YIP, 2017). Partes destas escolhas também são da ordem comercial: assim como os westerns italianos, os filmes da Shaw Brothers, pela praticidade e menor custo, não gravavam som direto, sendo dublados em vários idiomas.
Suas trilhas mesclavam o uso de instrumentos tradicionais da música chinesa como o erhu, a pipa, o dizi e percussão características, com músicas de arquivo da gravadora inglesa De Wolf, incluindo aí temas de funk e jazz comuns em filmes de aventura e espionagem ocidentais da época. Alguns filmes chegaram a utilizar músicas de filmes ocidentais e de bandas de krautrock e da música eletrônica (como o Neu! e Jean-Michel Jarre) sem o consentimento dos músicos, possivelmente temp tracks tornadas definitivas para economizar com o licenciamento de trilhas em lançamentos regionais.
Como embasamento teórico serão usados os estudos de Rodrigo Carreiro (2014) e David Bordwell (2011) a respeito da estilística dentro dos respectivos gêneros, o estudo de Emily Kausalik (2008) sobre os usos formais e narrativos no cinema das trilhas de Morricone e os estudos de Man-Fung Yip sobre as relações da industrialização de Hong Kong com a modernização estética dos filmes de kung fu do período.
Futuramente propomos uma análise em três colunas (composta por minutagem, imagem e banda sonora) de cenas do filme Punhos de Serpente (1978) que apropria (no seu lançamento em chinês) de músicas de outros filmes como 007- O Espião que Me Amava e Josey Wales, o Fora da Lei. Será comparado o contexto e uso de trechos das músicas em seus filmes originais com o seu uso em Punhos de Serpente e revelar, de que maneira estes foram ressignificados e mesmo que por motivos financeiros, como este uso se diferenciaria do uso classificado como pós-moderno como aquele realizado, por exemplo, nas trilhas musicais de Quentin Tarantino.
Bibliografia
- ALTMAN, Rick. Film Genre. Londres: British Film Institute, 1999.
BORDWELL, David. Planet Hong Kong: Popular Cinema and the Art of Entertainment. Irvington Way Institute Press, 2011.
BROWNRIGG, Mark. Film Music and Film Genre. University of Stirling, 2003.
CARREIRO, Rodrigo. Era Uma Vez No Spaghetti Western – O Estilo de Sergio Leone. São José dos Pinhais: Editora Estronho, 2014.
CHION, Michel. Audiovisão. Lisboa: Texto e Grafia, 2008.
KAUSALIK, Emily. A Fistful of Drama: Musical Form in the Dollars Trilogy. Bowling Green State University, 2008
GORBMAN, Claudia. Narrative Film Music. Yale French Studies. No. 60, Cinema/ Sound (1980), pp. 183-203
YIP, Man-Fung. Martial Arts Cinema and Hong Kong Modernity: Aesthetics, Circulation and Representation. Hong Kong: Hong Kong University Press, 2017.