Ficha do Proponente
Proponente
- Bruno Vieira Lottelli (ECA – USP)
Minicurrículo
- Bruno Vieira Lottelli é bacharel em Audiovisual pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Atualmente, é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais na mesma unidade, sob orientação do Prof. Dr. Rubens Machado Jr. Integra o Grupo de Pesquisa “História da Experimentação no Cinema e na Crítica”, certificado pelo CNPq. É membro do corpo editorial da revista AGRESTE e coordenador do Núcleo de Pesquisa e Criação Audiovisual.
Ficha do Trabalho
Título
- FILMAR SÃO PAULO E O CINEMA CORSÁRIO DE CARLOS REICHENBACH
Seminário
- Teoria dos Cineastas
Resumo
- Em 1965, Rogério Sganzerla publicou dois artigos chamados Filmar São Paulo – I e Filmar São Paulo – II, criticando a tradição dispendiosa e melodramática do cinema paulistano, que a deixaria de filmar aquilo que São Paulo tinha de mais fotogênico: o frenesi urbano da metrópole. Buscaremos, neste trabalho, cotejar os postulados sganzerlinos apresentados nesses artigos com o cinema corsário de Carlos Reichenbach, que dedicou grande número de suas obras à registrar a paisagem paulistana.
Resumo expandido
- Em 1965, Rogério Sganzerla publicou dois artigos no jornal Estado de São Paulo com os títulos Filmar São Paulo – I e Filmar São Paulo – II. Os textos, singulares manifestos, criticavam mordazmente as formas do cinema paulistano daquele período, atrasadas em relação à vaga modernista, particularmente devido à tradição local de uma cinematografia dispendiosa e melodramática, impactando seu modo de filmar a metrópole. Segundo Sganzerla, tal modelo afastaria o olhar da câmera/filme/espectador das ruas, deixando de captar o que a cidade teria de mais fotogênico: seu imenso frenesi urbano, com os congestionamentos, viadutos, o ir-e-vir de milhares de transeuntes.
Os textos saudavam a novidade de São Paulo S/A (1965) naquele panorama, que seria “o primeiro passo não provinciano na cinematografia paulista” desde 1950, pois “o ritmo trepidante dos rolos iniciais, o verismo de muitas situações, a desenvoltura da montagem e a elegância de uma mise-en-scène europeia fazem da estreia de Person um acontecimento perfeitamente inédito entre nós.”. E ainda aproveitava a ocasião para apontar que algo “impreciso, ameaçador e, ao mesmo tempo, animador” pairava na atmosfera da capital, que levaria jovens cineastas para as ruas de São Paulo a filmar “exatamente como Person, com a câmera na mão, a registrar o homem e a paisagem, a filmar São Paulo”, anunciando, de alguma forma, o projeto de O Bandido da Luz Vermelho (1968) e de todo o cinema marginal.
Há em Filmar São Paulo I e II, um princípio de elaboração teórica que nos parece frutífero para analisar o desenvolvimento da filmografia interessada em registrar São Paulo a partir daquele momento. Certos postulados sganzerlinos destacam-se pela capacidade de síntese dos modelos estéticos e políticos do cinema local, como “expressionismo caipira”, e de sugestividade de novos rumos a serem tomados, como o “documentário-ficção”. Neste trabalho, buscaremos tomar estes postulados como medida para uma cinematografia que começa a se desenvolver poucos anos após a publicação dos artigos, em muito tributária à contribuição de Sganzerla também no campo da realização, que é a obra de Carlos Reichenbach.
Autor de de 15 longa-metragens, 6 curta-metragens e 6 episódios, a filmografia de Reichenbach atravessou quatro décadas (1966 – 2007), sobrevivendo a intensas e subsequentes modificações no contexto político e econômico do país. Uma espécie de corsário – termo que reverbera um sugestivo imaginário presente no interior de sua filmografia – a navegar atentamente sob os ventos de cada período histórico, alterando suas rotas sempre que necessário, ora abarrotado de recursos, ora carregando apenas o essencial, sempre pilhando das fontes de referência que achar necessário, sem hierarquias entre as chamadas alta e baixa cultura.
A imagem da metrópole, como locus do trabalho e das provações infernais, atravessou toda obra de Reichenbach. Suas personagens perambulam pela multiplicidade de cenários que compõem a capital paulista, alternando corsariamente suas rotas sempre que necessário, como se estivessem em um labirinto de provas e expiações. Entre as obras reichenbachianas que filmam São Paulo, destacamos: Lilian M. (Relatório Confidencial) (1975), Amor, Palavra Prostituta (1981), Filme Demência (1986) e Alma Corsária (1993).
Neste trabalho, portanto, buscaremos cotejar os postulados sganzerlinos abordados em Filmar São Paulo I e II com a cinema corsário de Carlos Reichenbach, atentando especialmente para repercussão teórica de Sganzerla sobre as escolhas do corsarismo reichenbachiano a respeito sobre como filmar São Paulo, tal qual em um encontro entre duas teorias dos cineastas. Sempre que necessário, será fundamental recorrer à análise fílmica para investigar o impacto de tal encontro na fatura dos filmes supracitados.
Bibliografia
- ARAÚJO, M. Boca do Lixo, Sociedade Anonima: notas sobre O Bandido da Luz Vermelha. In.: Catálogo da Mostra Forumdoc.BH.2012
AUMONT, J. As Teorias dos Cineastas. São Paulo: Papirus Editora, 2002.
GRAÇA, A. R., BAGGIO, E. T., PENAFRIA, M. Teoria dos cineastas: uma abordagem para a teoria do cinema. Revista Científica / FAP, Curitiba, vol. 12, jan/jun 2015.
FONSECA, Jair Tadeu da. Reichenbachianas brasileiras: A cinepoesia corsária de Carlos Reichenbach. In.: Catálogo da Mostra Forumdoc.BH.2012
LYRA, M. Carlos Reichenbach: o cinema como razão de viver. SP: Imprensa Oficial, 2004.
SGANZERLA, Rogério. Filmar São Paulo – I. Jornal O Estado de S. Paulo. São Paulo: 16 out. 1965. Suplemento literário, p.5. In.: SGANZERLA, Rogério. Textos Críticos 1. Florianópolis: Editora da UFSC, 2010
_____. Filmar São Paulo – II. Jornal O Estado de S. Paulo. São Paulo: 23 out. 1965. Suplemento literário, p.5. In.: SGANZERLA, Rogério. Textos Críticos 1. Florianópolis: Editora da UFSC, 2010