Ficha do Proponente
Proponente
- Marise Berta de Souza (UFBA)
Minicurrículo
- Professora da Universidade Federal da Bahia);
Pesquisadora e produtora audiovisual;
Doutorado em Artes Cênicas/UFBA; Mestrado em Artes Visuais/UFBA;Formação em Cinema UFPB/Museu do Homem; Graduação em Direito (UCsal).
Coordenadora do curso de Cinema e Vídeo da FTCFTC (2001/2009);
Coordenadora do BI em Artes IHAC/UFBA(2013 /2014);
Coordenadora da TV UFBA 2013/2015;
Coordenadora do Mestrado Profissional em Artes IHAC/UFBA (2015/2018).
Ficha do Trabalho
Título
- A política e a poética nos filmes de Henrique Dantas
Resumo
- Essa comunicação aborda os filmes “Sinais de Cinzas, A Peleja de Olney Contra o Dragão da Maldad”e (2013) e “A noite escura da alma” (2016), de Henrique Dantas, cineasta que tem se ocupado em resgatar a memória do período ditatorial instaurado a partir do golpe civil militar de 1964, em que se apropria de materiais de arquivo, entrevistas e dialoga com a performance em arranjos renovados, demonstrações da sua inquietação e investimento na complexidade da estrutura do filme documentário.
Resumo expandido
- Henrique Dantas é um jovem cineasta baiano que se destaca pela potência das suas obras ao construir um projeto em que hibridiza linguagens e suportes, vislumbrando o cinema como expressão artística e política. Seu filme de estreia, “Filhos de João, Admirável Mundo Novo Baiano”, conquistou quatro candangos no 42º Festival de Cinema Brasília, entre os quais o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio do Júri Popular iniciando uma carreira de premiações em Festivais Nacionais e Internacionais nos filmes que se sucederam. “Ser Tão Cinzento” (2011), é premiado no Festival de Brasília em 2011 e eleito o melhor filme na edição do É Tudo Verdade, em 2012. “Sinais de Cinza, A Peleja de Olney Contra o Dragão da Maldade” (2013), recebe Menção Honrosa – documentário, no Festival de Audiovisual Mercosul 2014 e a “A Noite Escura da Alma” (2016) conquista o Prêmio Especial do Júri no 23° Festival de Cinema de Vitória e a Menção Especial do Júri no 6º Festival Internacional de Cinema Político FICIP, em Buenos Aires.
A sua filiação ao cinema documentário, assim como a da maioria da nova geração de cineastas que passou a optar pelo gênero, é tributária aos experimentos dos videoartistas que o antecederam e a à sua formação em Artes Visuais.
Após a realização de “Filhos de João, Admirável Mundo Novo Baiano”, em que acionou a memória da geração que viveu os tempos sombrios que se abateu sobre o Brasil em 1964 pelo viés da cena underground e das operações contra culturais, Henrique Dantas, atento à nossa história social, fará suas apostas estéticas nos vínculos entre o cinema e a política, um dos relacionamentos que tem no documentário um espaço privilegiado para tratar da memória política, reiterando a máxima contida no princípio de “lembrar para não esquecer”.
Nessa perspectiva, ocorre o seu encontro com a obra do cineasta baiano Olney São Paulo (1936-1978) que culmina com a realização do curta “Ser Tão Cinzento”, (2010) e do longa “Sinais de Cinza, A Peleja de Olney Contra o Dragão da Maldade”, (2013). A aproximação se deu por meio de significativas chaves de identificação. Olney São Paulo produzia filmes inspirados no seu lugar, no seu povo e no contexto político do seu tempo, deixando um significativo legado para o cinema de viés político produzido no Brasil. “Manhã Cinzenta“ se insere no processo do cinema brasileiro moderno. Auto-reflexivo, recorre à alegoria e a elementos simbólicos que desafiaram Henrique a revisitar nossa realidade do final dos 1960 a partir do enquadramento de Olney.
Dando sequência à realização de filmes que tratam do período por meio de formas singulares de representação sobre a violência política, Henrique Dantas realiza “A Noite Escura da Alma” (2016), compondo um documentário poético experimental em que elabora um discurso político distinto por meio de uma narrativa apoiada no campo da performance e das artes plásticas. Ao optar por essa disposição narrativa, desvenda o sentido do discurso sem perder de vista a ampliação das especificidades estéticas, levando para o interior do filme a experiência dolorosa sentida no corpo e na alma dos ativistas de esquerda presos e torturados na Bahia. Mais uma vez a tortura a presos políticos é posta em cena e a sua representação imagética é manejada através da mistura de materiais, sua marca de autoria. O filme, ao mesmo tempo em que demonstra o muito que ainda se tem a tratar sobre o período de exceção da história recente do país, o faz de uma forma incomum. Lança mão de uma composição narrativa de valor estético renovado, unindo a dimensão plástica performativa à contundência do tema, floração rara, que conforma um construto poético de fôlego em que se concilia a reconstituição da história à criação artística.
Bibliografia
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Lins, Consuelo; Mesquita, Cláudia. 2008. Filmar o real: sobre o documentário contemporâneo brasileiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora.
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