Ficha do Proponente
Proponente
- Ivanir Migotto (Boca Migotto) (UFRGS)
Minicurrículo
- Ivanir Migotto (Boca Migotto) é formado em Publicidade e Propaganda, Especialista em Cinema e Mestre em Comunicação pela Unisinos, onde também é professor no Curso de Realização Audiovisual. É doutorando no PPGCOM da UFRGS. Como realizador, dirigiu e roteirizou curtas em ficção e documentário, além de séries de TV. O documentário Filme Sobre um Bom Fim (2015) é seu segundo longa-metragem. Em 2018 lançou mais dois longas, Pra ficar na história e Já vimos esse filme.
Ficha do Trabalho
Título
- INFLUÊNCIA PAULISTA NO CINEMA GAÚCHO: CLUBE SILÊNCIO E DRAMA FILMES
Resumo
- A proposta desta apresentação é discutir o impacto do cinema da produtora Clube Silêncio no cinema gaúcho, em especial após o diálogo com o cineasta paulista Beto Brant e sua produtora Drama Filmes. Fundada em 2004 a Clube atou como coprodutora do filme Cão sem dono (2006), de Brand, experiência marcante para a mudança estética que se observa nos futuros longas-metragens realizados pela produtora gaúcha, e que rompem com a linguagem clássica presente na cinematografia rio-grandense.
Resumo expandido
- A proposta desta apresentação é discutir o impacto do cinema da produtora Clube Silêncio no cinema gaúcho, em especial após o diálogo com o cineasta paulista Beto Brant, e sua produtora Drama Filmes. Fundada em 2004 por Gustavo Spolidoro, Milton do Prado, Gilson Vargas e Fabiano de Souza, a Clube atuo como coprodutora do filme “Cão sem dono” (2006), de Brand. A experiência se tornou marcante para a mudança estética observada nos futuros longas-metragens da Clube, os quais rompem com a linguagem clássica, esta, uma marca da cinematografia rio-grandense até então. Esse estudo faz parte da minha pesquisa de doutorado junto ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da UFRGS, em que analiso a experiência dessa produtora no contexto do cinema local.
Para tanto, realizo uma retrospectiva do cinema gaúcho e sua tentativa de consolidar-se como indústria. O projeto de um estúdio cinematográfico, sonho que permeia gerações, e a preocupação dos realizadores locais em produzir filmes que atingissem o público refletem, também no cinema, aspectos culturais de um povo que busca se modernizar através do desenvolvimento industrial sem, no entanto, romper com as estruturas ligadas às elites do interior do estado.
Desde quando Francisco dos Santos realizou “O Crime dos Banhados” (1914), passando pelos filmes de Teixerinha entre as décadas de 60 e 70 e, até mesmo após a ruptura a esse cinema ligado às tradições gaúchas, pela geração dos anos 80, fazer filmes para o público, parece, é uma das principais características da cinematografia local. Embora a geração de cineastas que fundará a Casa de Cinema de Porto Alegre – principal experiência de formato de produção no sul do Brasil – tenha rompido com a temática vinculada ao cinema de Teixerinha, seus realizadores seguiram fiéis à linguagem clássica.
A ruptura com essa linguagem e com esse modelo de produção apenas ocorrerá anos mais tarde, com os filmes da Clube Silêncio, o que também vai influenciar as novas gerações de cineastas e seus filmes, os quais, inclusive, conseguem retornar ao Pampa e retomar o universo do gaúcho. Rifle (2016), de Davi Pretto e Mulher do pai (2016), de Cristiane Oliveira, são exemplos de que é possível flertar com tal temática através de um cinema autoral.
Entre os muitos motivos para a mudança neste cenário, percebo a vinda de Beto Brant para filmar “Cão sem dono” (2006), em parceria com a Clube Silêncio, como um ponto de virada que contribuirá para definir novos rumos ao cinema local. Ao escolher a recém constituída empresa como coprodutora, abrindo mão da história e da estrutura da Casa de Cinema, Brant está optando por uma produção menos engessada, que lhe permitirá ousar tanto no modelo de produção quanto na estética. Por outro lado, esse diálogo Sul-Sudeste coloca em xeque um modo de ser e de pensar do gaúcho, que está muito atrelado aos resquícios do conservadorismo positivista.
Debater tal estudo é importante para tentar compreender o quanto o conservadorismo, a partir da influencia do Positivismo, está arraigado à sociedade gaúcha a ponto de influenciar, inclusive, os setores ligados à produção artística. Também é necessário perceber a influencia do Positivismo na matriz cultural, econômica e social desse estado localizado no extremo sul do Brasil e, por vezes, confuso em sua própria característica limítrofe.
Como fundamentação teórica para pensar tais questões, associadas à necessidade de refletir sobre o imaginário do gaúcho, o desenvolvimento do estado atrelado ao lema positivista, “modernizar, mas sem romper com o passado”, e as questões de identidade e cultura que, juntos, irão contribuir para com o sonho de uma indústria cinematográfica gaúcha, trago Morin (2002), Eagleton (2005), Hall (2000). Além destes, também autores ligados à história e teoria do cinema. Importante também é destacar o resgate da história da Clube Silêncio através de entrevistas, uma vez que tal estudo é inédito e demanda tal metodologia.
Bibliografia
- EAGLETON, Terry. A ideia de cultura. São Paulo: Unesp, 2005. Capítulo: Cultura em Crise – p. 51-77.
HALL, Stuart. Quem precisa de identidade? In SILVA, Tomaz T. da (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000, p. 103-33;
MAFFESOLI, Michel. Da identidade à identificação. In No fundo das aparências. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996, p. 299-350.
MERTEN, Luiz Carlos. A aventura do cinema gaúcho. São Leopoldo: Unisinos, 2002.
MORIN, Edgar. O método 4. 3.ed. Porto Alegre: Sulina, 2002. p. 15-64.
PRADO, Milton do. Entrevista concedida a Ivanir Migotto. Porto Alegre, novembro, 2017.
ROSSINI, Miriam de Souza. Apostila para o curso História do Cinema Gaúcho. s/ano.
SOUZA, Fabiano de. Entrevista concedida a Ivanir Migotto. Porto Alegre, novembro, 2017.
SPOLIDORO, Gustavo. Entrevista concedida a Ivanir Migotto. Porto Alegre, novembro, 2017.
VARGAS, Gilson. Entrevista concedida a Ivanir Migotto. Porto Alegre, novembro, 2017.