Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Eveline dos Santos Teixeira Baptistella (Unemat)

Minicurrículo

    Eveline Baptistella é professora de Audiovisual do curso de Jornalismo da Universidade do Estado de Mato Grosso e Doutoranda em Estudos de Cultura Contemporânea pela Universidade Federal de Mato Grosso. É coordenadora do Projeto de Pesquisa Animais e Mídia, que estuda a representação dos animais não-humanos nos meios de comunicação, e do projeto de extensão TV Verde Araguaia, que desenvolve a produção audiovisual entre discentes, tendo como foco meio ambiente e cidadania.

Ficha do Trabalho

Título

    Entre espécies: uma reflexão sobre animais não humanos e cinema

Resumo

    A partir da comparação dos filmes “Orca: a baleia assassina” e “Blackfish: fúria animal”, o presente trabalho busca refletir sobre as relações entre animais humanos e não humanos na sociedade contemporânea, abordando a inserção dos animais na esfera ética por meio de um enfoque interdisciplinar que contempla teorias da análise cinematográfica e dos estudos animais e de uma metodologia que articule ficção e não-ficção a partir da perspectiva de sua representatividade histórica e social.

Resumo expandido

    Separados por 36 anos, Orca: a baleia assassina” e “Blackfish: fúria animal” tem como protagonistas o mamífero Orcinus Orca e se propõem a mostrar os impactos das práticas de exploração de animais para o entretenimento, amparados na figura de animais conscientes que se voltam contra seus agressores.
    Se para o senso comum, ambos estão distantes também pelo fato de “Orca” ser um filme de ficção e “Blackfish”, um documentário, aqui nos apoiamos no conceito de Nichols (2012), de que todo filme é um documentário, pois evidencia a cultura que o produziu, e classificamos o primeiro como documentário de satisfação de desejos e o segundo como documentário de representação social. Assim, buscamos elementos para refletir sobre como estes animais são retratados nas obras fílmicas e que considerações elas suscitam sobre as relações entre os humanos e os outros animais, levando em conta que o período de tempo que as separa é praticamente o mesmo que vai do lançamento das primeiras obras do movimento contemporâneo de proteção animal (SINGER, 2010) na década de 70 e a assinatura da Declaração de Cambridge sobre a Consciência Animal, em 2012.
    O processo de análise fílmica é um método interpretativo e que não possui uma fórmula única (MOMBELLI;TOMAIM, 2014), por isso, construímos uma metodologia interdisciplinar, que permitisse caminhos de análise conectados à corrente dos Estudos Animais (WALDAU, 2013). Desta forma, nosso embasamento teórico foi composto por obras ligadas à análise fílmica e a temática das relações entre espécies.
    Neste trabalho, procedemos a análise interna, fazendo a decomposição dos seus elementos constitutivos (VANOYE;GOLIOTE-LETÉ, 1994), para, em seguida, pensar as questões externas às obras, especialmente os pontos de vista presentes nos sentidos narrativo e ideológico (PENAFRIA, 2009, p. 8-9). Identificamos temas que exemplificassem os modos de relação entre animais humanos e não humanos, criando categorias de análise (BADIN, p. 2016) que permitissem inferir sobre os sentidos expressos sobre a convivência entre espécies nas obras.
    A partir daí, comparamos as temáticas elencadas, encontrando pontos de contato/tensões, a serem destacados: a) consciência animal, ambos destacam as capacidades cognitivas dos cetáceos, saberes que são apresentados como “novos” em Blackfish já estão presentes na narrativa de “Orca”; b) subjetividade animal, as obras assumem que os animais tem estados emocionais e cultura; c) humanização dos animais x animalização dos humanos, é possível identificar que as obras atribuem sentimentos/capacidades humanas aos animais e, ao mesmo tempo, comportamentos cruéis e irracionais aos humanos, destacando que em “Orca” a linha narrativa atribui ao animal um senso de vingança romantizado, que não encontra amparo nas ciências naturais, enquanto em “Blackfish”, o animal que mata a treinadora é vítima de uma psicose desenvolvida a partir de todo uma existência de sofrimento; d) direitos dos animais, ambas as obras trazem críticas ao sistema de confinamento mas também discrepâncias que mostram a mudança de atitudes; e) a voz da ciência: o cientista aparece como mediador entre as linguagens do humano e do animal.
    Como considerações, encontramos nas obras cinematográficas um amplo potencial para a discussão das temáticas dos direitos dos animais, sendo que ao personalizar os animais, as duas obras conseguem criar pontos de empatia que contribuem para políticas de proteção das espécies (BAPTISTELLA, 2015). Abre-se também, a partir da perspectiva do cinema animalista (DANTAS, 2012), a possibilidade de se expandir este campo inicial para um conjunto de obras adotando novas metodologias do cinema comparado que possam desenvolver as pesquisas sobre animais e mídia.

Bibliografia

    BADIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.
    BAPTISTELLA, E. Animais e fronteiras: entre espécies, ciências e cotidiano. 2015. 1v. Dissertação (Mestrado) – Pós-graduação em Estudos em Cultura Contemporânea, UFMT, Cuiabá, 2014.
    MOMBELLI, N; TOMAIM, C. Análise fílmica: apontamentos metodológicos. Revista Lumina. UFJF, Juiz de Fora, n.8, v.2, p. 1 – 17, dez. 2014.
    NICHOLS, B. Introdução ao documentário. Campinas: Papirus, 2012.
    PENAFRIA, M. Análise de filmes – conceitos e metodologia (s). In: VI Congresso SOPCOM, Lisboa, 2009. Anais eletrônicos… Lisboa, SOPCOM, 2009. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/bocc-penafria-analise.pdf. Acesso em: 20 abr. 2018.
    SINGER, Peter. Libertação animal. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
    VANOYE, F; GOLIOT-LÉTÉ, A. Ensaio sobre a análise fílmica. Campinas: Papirus, 1994.
    WALDAU, P. Animal Studies: an introduction. Nova York: Oxford University Press, 2013.