Ficha do Proponente
Proponente
- Alexandre Figueirôa Ferreira (UNICAP)
Minicurrículo
- Alexandre Figueirôa é Doutor em Estudos Cinematográficos e Audiovisuais pela Universidade Paris 3. É crítico e pesquisador de cinema, professor adjunto do curso de Jornalismo, do curso de Especialização em Estudos Cinematográficos e do mestrado em Indústrias Criativas da Universidade Católica de Pernambuco. Publicou, entre outros, os livros Cinema Novo, a Onda do Jovem Cinema e sua Recepção na França (2004); O Documentário em Pernambuco no Século XX , com Claudio Bezerra (2016).
Coautor
- Claudio Roberto de Araujo Bezerra (UNICAP)
Ficha do Trabalho
Título
- O crítico-cineasta das mil faces
Resumo
- Esta comunicação pretende discutir como as múltiplas atividades desenvolvidas pelo cineasta Fernando Spencer, como crítico, programador de cinema de arte e diretor da cinemateca da Fundação Joaquim Nabuco estão presentes em sua obra cinematográfica, compondo uma identidade para o conjunto de sua obra em suas múltiplas faces e integrada no universo da cultura pernambucana.
Resumo expandido
- A cinefilia e a crítica cinematográfica são ingredientes fortíssimos para a gestação de cineastas. Embora um dos clichês mais folclóricos da relação entre quem faz filmes e quem escreve sobre eles seja o de que os críticos seriam, em geral, cineastas frustrados, a história do cinema apresenta inúmeros casos que mostram outra realidade. O exemplo mais fulgurante é o dos críticos da revista francesa Cahiers du Cinéma – François Truffaut, Jean-Luc Godard, Claude Chabrol – que passaram das letras para as câmeras e fundaram a nouvelle vague, um dos movimentos mais criativos da história do cinema. No Brasil, podemos citar Jean-Claude Bernardet, Jairo Ferreira, Gustavo Dahl, Rogerio Sganzerla e Glauber Rocha, entre outros. E em Pernambuco não tem sido diferente. Se na atualidade temos o nome de Kleber Mendonça Filho, que migrou paulatinamente da crítica jornalística para a realização de filmes de sucesso, no século passado, foi o jornalista Fernando Spencer quem melhor encarnou esse processo.
Repórter e redator das páginas sobre cinema do Diario de Pernambuco, de 1958 a 1998 (a confirmar), Spencer foi um dos realizadores mais profícuos do estado e mesclou as duas atividades na sua carreira profissional onde percebe-se uma retroalimentação de temas, ideias, preferências e concepções sobre o cinema tanto em suas formas expressivas como nos processos de realização. O que ele admirava, analisava e defendia nos textos, de alguma forma também se materializava na tela. E mais, sempre tendo o cinema como eixo condutor de seu trabalho, Spencer, mais do que crítico e cineasta, foi programador de cinema de arte, diretor da cinemateca da Fundação Joaquim Nabuco – graças a ele a instituição cuidou da preservação da memória do Ciclo do Recife -, e por meio de seus filmes, podemos afirmar, exerceu o papel de historiador, etnógrafo e ainda foi um militante de causas em favor do cinema brasileiro.
A relação entre crítica e cinema é marcada por encontros e desencontros. O amor ao cinema compartilhado pelo crítico e o cineasta, ao mesmo tempo que gera empatias e afinidades, pode também gerar tensões e rupturas quando ambos divergem, sobretudo se o segundo tem sua obra mal avaliada pelo primeiro. No caso dos críticos-cineastas essa relação é muito mais um diálogo interno, de contaminações do que confronto, e é sobre ela que queremos refletir, tendo como ponto de partida o levantamento feito por mim e pelo Prof. Dr. Cláudio Bezerra para a pesquisa “A produção jornalística e cinematográfica de Fernando Spencer e sua contribuição à cultura pernambucana”. A partir de seu lugar de crítico-cineasta não é difícil perceber que as ações desenvolvidas por Spencer no campo cinematográfico, conforme foram citadas anteriormente, estão interligadas, colocando-nos a seguinte questão: de que maneiras o olhar crítico de Spencer e suas múltiplas atividades influenciaram a construção de sua obra fílmica? O objetivo dessa comunicação, portanto, é tentar encontrar os pontos convergentes do trabalho realizado por Fernando Spencer e discutir como esses elementos foram compondo uma identidade para o conjunto de sua obra em suas múltiplas faces e integrada no universo da cultura pernambucana.
Bibliografia
- BAECQUE, Antoine. Cinefilia. São Paulo: Cosac e Naify, 2010.
BEZERRA, C. R. A. O documentário etnográfico de Fernando Spencer: primeiras impressões. In: XX Encontro Anual da SOCINE, 2017, Curitiba. Anais de Textos Completos do XX Encontro da SOCINE. São Paulo: SOCINE, 2016. p. 221-227.
FIGUEIRÔA Alexandre. O cinema super 8 em Pernambuco. Recife: Edições Fundarpe, 1994.
FIGUEIRÔA, Alexandre. Cinema pernambucano: uma história em ciclos. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2000.
FIGUEIRÔA Alexandre. Revista da Tela: uma experiência de imprensa especializada no Recife, in: MACHADO Jr., Rubens; SOARES, Rosana de Lima; ARAÚJO, Luciana Correia (orgs.). Estudos de cinema Socine. São Paulo: Annablume, Socine, 2006, p. 151-157.
FIGUEIROA, A; BEZERRA, C. R. A. O documentário em Pernambuco no século XX. Recife: FASA/MXM Gráfica e Editora, 2016.