Ficha do Proponente
Proponente
- Pedro Butcher (UFF)
Minicurrículo
- Foi pesquisador visitante no Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade da Califórnia, Santa Barbara, entre setembro de 2017 e junho de 2018, graças ao programa de doutorado-sanduíche da Fundação Fulbright. Doutorando do Programa de Pós-graduação em Cinema e Audiovisual da UFF, onde desenvolve pesquisa sobre a instalação dos escritórios de distribuição dos estúdios de Hollywood no Brasil. Colaborador do jornal Valor Econômico e curador da Mostra Cine BH – Festival de Cinema de Belo Horizonte
Ficha do Trabalho
Título
- O “Estado promocional” americano e o mercado de exibição no Brasil
Seminário
- Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil
Resumo
- A partir de 1890, os EUA iniciaram um processo de expansão econômica e cultural incentivado pelo governo por meio de um aparato batizado por Emily Rosenberg de “Estado Promocional” (ROSEMBERG, 1982, p. 38), que, entre outros meios, se utilizava da infraestrutura de consulados para coletar informações sobre as economias locais. Este trabalho analisa os relatórios sobre o mercado de cinema no Brasil elaborados entre 1922 e 1929, particularmente os que tiveram como foco o circuito exibidor.
Resumo expandido
- A partir de 1890, os Estados Unidos iniciaram um processo de expansão econômica e cultural que se intensificou a partir da eclosão da Primeira Guerra Mundial. A ampliação do comércio internacional americano se inseriu em um movimento de caráter mais amplo, cuja base ideológica foi o “desenvolvimentismo liberal” e sua crença quase religiosa de que “o mundo ideal seria um grande mercado aberto” (ROSENBERG, 1982, p. 16). “Os comerciantes americanos trariam melhores produtos para um maior número de pessoas; os investidores americanos ajudariam no desenvolvimento das potencialidades nativas; os reformadores americanos – missionários e filantropos – erradicariam culturas bárbaras e gerariam compreensão internacional; a cultura de massa americana, trazendo entretenimento e informação para as massas, homogeneizaria os gostos e quebraria as barreiras de classe e geográficas. (…) Os três pilares liberais – comércio e investimento irrestrito, livre iniciativa e livre fluxo de intercâmbio cultural – tornaram-se a justificativa intelectual para a expansão americana” (idem, p. 36-37). O cinema se tornou uma das forças motrizes do avanço planetário dos Estados Unidos, e a América Latina foi um de seus alvos prioritários (THOMPSON, 1986, p x).
Apesar de o desenvolvimentismo liberal ter entre seus pilares ideológicos o livre fluxo de mercadorias e a não-intervenção governamental, um amplo sistema de estímulo e apoio à expansão da indústria e do comércio foi montado pelo Estado americano – um aparato batizado por Emily Rosenberg de “Estado Promocional”. “Operando com base na suposição de que a crescente influência de grupos privados no exterior aumentaria a posição estratégica e econômica do país, o governo gradualmente erigiu um ‘estado promocional’, desenvolvendo técnicas para ajudar os cidadãos que operavam no exterior e mecanismos para reduzir as restrições estrangeiras contra a penetração americana” (ROSEMBERG, 1982, p. 38).
Já a partir da última década do século XIX, o Departamento de Estado dos EUA encomenda a funcionários de seus consulados no exterior relatórios sobre os mais variados aspectos da economia e política locais. Aos poucos, essa estrutura cresce e se sofistica, com a criação do Departamento de Comércio, em 1903, do Escritório de Comércio Exterior (Bureau of Foreign and Dommestic Commerce), e, um pouco adiante, em 1926, da divisão voltada para a indústria cinematográfica (JARVIE, 1992, p. 310).
Paralelamente, a indústria cinematográfica americana consolida sua posição no mercado interno e inicia um intensivo processo de expansão estrangeira. Para defender os interesses do conjunto da indústria, seus principais agentes criam a Motion Pictures Producers and Distributors Association of America (Associação dos Produtores e Distribuidores de Cinema da América), que estabelecerá uma estreita relação com o Departamento de Estado e o Departamento de Comércio americanos.
A partir da década de 1920, os consulados dos Estados Unidos no Rio de Janeiro e em São Paulo começam a produzir relatórios mensais e anuais cobrindo a atividade cinematográfica no país, incluindo informações sobre filmes lançados, censura, presença da cinematografia de outros países, produções nacionais, tarifas de importação, mudanças na legislação e, sobretudo, o perfil e a evolução do mercado de exibição local. Às vezes, o governo americano solicitava relatórios específicos, como o que descreve o ascendente mercado de exibição em São Paulo, entregue em setembro de 1924, fornecendo informações detalhadas sobre as salas de cinema, seus proprietários, e a capacidade de assentos de cada sala.
Este trabalho analisa os relatórios sobre o mercado cinematográfico no Brasil elaborados pelos consulados de São Paulo e do Rio de Janeiro entre os anos de 1922 e 1929 – particularmente os que tiveram como foco o mercado exibidor.
Bibliografia
- GONZAGA, Alice. Palácios e poeiras: 100 anos de cinemas no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Record, Funarte, 1996.
JARVIE, Ian. Hollywood’s Overseas Campaign: The North Atlantic Movie Trade, 1920-1950. Cambridge: Cambridge University Press, 1992.
ROSENBERG, Emily S (ed.). Spreading the American Dream: American Economic and Cultural Expansion (1890-1945). New York: Hill and Wang, 1982.
SEGRAVE, Kerry. American films abroad: Hollywood’s domination of the world’s movie screens from the 1890’s to the present. North Carolina: McFarland & Company, 1997.
SILVER, Jonathan Derick. Hollywood’s Dominance of The Movie Industry: How did it rise and how has it been maintained?. Tese de doutorado. Queensland University of Technology, Australia, 2007.
SOUZA, José Inácio de Melo. Imagens do passado: São Paulo e Rio de Janeiro nos primórdios do cinema. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2004.
THOMPSON, Kristin. Exporting Entertainment: America in the World Film Market 1907-1934. London: British F