Ficha do Proponente
Proponente
- Roberto Gustavo Reiniger Neto (UAM)
Minicurrículo
- Roberto Reiniger é doutorando e mestre em Comunicação Audiovisual pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Anhembi Morumbi. Lá desenvolve a tese “Recortes, ambivalências e intertextualidades: A adaptação do livro Memória Impura para um roteiro de longa-metragem” sob orientação do Professor Dr. Luiz Vadico. Bacharel em Realização Audiovisual pela UFSCar, atualmente trabalha como criativo publicitário, diretor, roteirista de TV e assistente de direção cinematográfica.
Ficha do Trabalho
Título
- Entre Bronson e Memória Impura: A adaptação literária no cinema.
Resumo
- No campo do audiovisual, cinema e literatura ainda sobrevivem e entrelaçam seus discursos. Sua teoria, porém, por vezes não atenta integralmente para as intertextualidades e interdisciplinaridades presentes nesta união. Aqui, sob os conceitos de Robert Stam e Hans Ulrich Gumbrecht, propõe-se uma investigação possível sobre essa questão, tomando como objeto desta abordagem, as relações entre o filme Bronson (2008), de Nicolas Refn, e o livro Memória Impura (2012), de Luiz Vadico.
Resumo expandido
- Na constante convergência do audiovisual, sua teoria por vezes, em uma excessiva confluência, deixa de rever certos conceitos dentro das especificidades de seu discurso. A narrativa cinematográfica, por exemplo, ainda adapta a ficção literária, mas pouco tem investigado a prática, ou o processo de transposição desta escrita. Sob este aspecto, este artigo tem por objetivo rever essa confluência, considerando a adaptação da literatura no cinema contemporâneo a construção de um discurso que trabalha com distintas obras, enquanto matrizes colaborativas, que constroem recortes e referenciais que podem contribuir de forma assertiva com o desenvolvimento desses estudos. Para a amostragem dessa metodologia, apontam-se aqui as relações existentes entre o filme Bronson, de Nicolas Refn, e o livro Memória Impura, de Luiz Vadico.
Atualmente, a adaptação da literatura no cinema é investigada, mas de forma delimitada, em campos como o historiográfico, o estético-autoral e o epistemológico; nessa investigação surge um cenário aonde já há autores que apontam para a necessidade de uma renovação, ou ao menos uma reflexão sobre esses estudos. Para Hans Ulrich Gumbrecht, haveria um certo estanque científico na literatura que impediria a prática de uma investigação para além da superfície de seu discurso, e impossibilitaria assim, a abordagem de novas especificidades narrativas. Já Robert Stam, no cinema, considera a análise da adaptação literária um estudo aberto, que vê sobre essa transposição textual uma conjunção colaborativa e interdisciplinar entre distintas produções culturais. Questiona-se aqui se esta análise aberta não seria também uma prática da metafísica gumbrechtiana? O ir além dos elos entre o filme e o livro, buscando entre eles, relações que despertem interesse tanto na produção científica, quanto na escrita de um roteiro cinematográfico.
Consideremos, o livro Memória Impura: uma coletânea de treze contos, aonde mais do que cronologicamente contextualizar, a História Antiga é empregada como habitat de suas personagens, as quais neste local, confessam seus dramas e conflitos. São relatos interdisciplinares, com inúmeras citações à Mitologia, que retratam sofrimentos latentes e constantes, oriundos de desejos e culpas do passado, ou de um futuro póstumo, que acabam presentificados no tempo narrativo que os cercam. Relacionar a liberdade estética presente no discurso de Memória Impura, com recortes e referenciais fílmicos, aproxima-o assertivamente da teoria stamniana. Retomemos o filme Bronson, o qual conta a vida do presidiário Michael Peterson (Tom Hardy): um dos detentos mais caros de toda a história do poder judiciário britânico, ainda sem uma data prevista para o seu julgamento. Refn nunca fez um filme biográfico, mas sim, tomou como mote, a transformação de seu protagonista em Charles Bronson. Para Michael Peterson, este ator, era o seu alter ego.
Sob um olhar gumbrechtiano, Vadico e Refn trabalham com a produção de presença. Tanto Peterson, quanto o eu lírico, dos contos do livro aqui analisado, trabalham com a funcionalidade da memória. Presentificam o passado com um ponto de vista próprio, que pode ser promovido à autarquia de personagem. Bronson, em várias performances, atua em uma esfera atemporal paralela, não julgadora de sua moral, mas tão presente quanto o tempo diegético de sua personagem. Refn também não define a cronologia de sua trama. Entre idas e vindas temporais, seu filme opta por mostrar o conflito, mas não lhe propor uma solução, apenas mantém suas personagens estagnadas e inertes. Quando nos deparamos com denominadores comuns entre a literatura e o cinema, colhemos para esses, conteúdos interdisciplinares que podem contribuir com seus estudos. São leituras que vão além das superfícies de seus elementos, e podem também criar referenciais criativos para futuros projetos cinematográficos, assim como Bronson funcionou para a adaptação de Memória Impura em um roteiro de longa-metragem.
Bibliografia
- Bronson. IMDB – Internet Movie Database. Disponível em: . Acesso em: 04 mai. 2018;
GUMBRECHT, Hans Ulrich. Nosso amplo presente. O tempo e a cultura contemporânea. São Paulo: Ed. Unesp, 2015;
____________. Lendo para a Stimmung? – Sobre a ontologia da literatura hoje. Revista Índice, vol. 01/n.01, 2009. Disponível em: . Acesso em: 04 mai. 2018;
STAM, Robert. A literatura através do cinema: Realismo, magia e a arte da adaptação. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2008;
___________. Teoria e prática da adaptação: da fidelidade à intertextualidade. Revista Ilha do Desterro, vol. 01, n.51, 2006. Disponível em: . Acesso em: 04 mai. 2018;
VADICO, Luiz; REINIGER, Roberto. Robert Stam – Cinema, Literatura e a trajetória de uma metodologia de pesquisa. Revista Brasileira de Ciências da Comunicação – INTERCOM. Disponível em: . Acesso em: 04 mai. 2018;
______________. Memória Impura. São Paulo: Ed. Novo Século.