Ficha do Proponente
Proponente
- Mariana Ribeiro da Silva Tavares (UFMG)
Minicurrículo
- Pós-doutoranda no PPGArtes – EBA / UFMG (Bolsa PNPD – CAPES) onde desenvolve a pesquisa interdisciplinar “60 Anos de Memória da Escola de Belas Artes da UFMG” e atua como professora colaboradora na graduação e na Pós-Graduação. Sua tese de doutorado deu origem ao livro: Helena Solberg, do Cinema Novo ao Documentário Contemporâneo (2014). Autora de capítulos em livros sobre o Cinema Brasileiro: “Feminino e Plural” (Papirus, 2017) e “Cronologia das Mulheres no Cinema Brasileiro” (no prelo).
Ficha do Trabalho
Título
- Autoria e criação coletiva em três filmes feministas da década de 1970
Seminário
- Mulheres no cinema e audiovisual
Resumo
- Esta comunicação percorre três documentários feministas pioneiros realizados no continente americano na década de 1970, pela brasileira Helena Solberg, identificando questões como invisibilidade, uso da ficção, crítica à imagem midiática da mulher e processo coletivo de produção. Nos interessa analisar nos filmes, a simultaneidade entre elementos que conformam o universo autoral da cineasta e o processo colaborativo de criação que marcou a elaboração desses filmes.
Resumo expandido
- Esta comunicação percorre três documentários feministas pioneiros realizados no continente americano na década de 1970, pela brasileira Helena Solberg, analisando questões como invisibilidade, processo colaborativo de produção, uso da ficção e de elementos que conformam o universo autoral da diretora como imagens de marionetes e bonecas esfaceladas. A perpetuação de imagem idealizada da mulher em conteúdos midiáticos da época – fotonovelas, filmes e propagandas de televisão – e sua influência no imaginário de mulheres latino-americanas também será analisada. Nos interessa observar a maneira com que a cineasta articula esses elementos na construção desses filmes que foram elaborados em processos colaborativos com outras mulheres nos EUA e lançados no auge da 2ª onda feminista.
Os documentários integram a Trilogia da Mulher realizada nos Estados Unidos. The Emerging Woman, (A nova mulher,1974) inaugura a trilogia, seguido de The Double Day, (A dupla jornada,1975) e Simplesmente Jenny, 1977. São filmes de militância abertamente feminista e que se tornaram referência para os estudos nesta área, nos Estados Unidos e na América Latina. The Double Day foi veiculado por emissoras de televisão européias e distribuído nos EUA, Bolívia, México, Venezuela e Colômbia onde foi utilizado por grupos de mulheres para discussões em escolas, universidades e outras instituições.
Esses filmes evidenciam uma postura incomum entre as contemporâneas de Solberg em seu país natal. Como lembra a pesquisadora Ana Maria Veiga, o termo “feminista”, no Brasil nos anos 1970-80, era com frequência utilizado para instigar o ódio ao movimento de emancipação das mulheres, o que hoje identificamos como antifeminismo, “fazia com que houvesse a necessidade de uma negação identitária por parte das mulheres que dele se aproximavam, ao mesmo tempo em que tentavam repeli-lo.” (VEIGA, 2017, p.86).
Vivendo nos EUA, Solberg presenciou outro ambiente: a efervescência política de Washington D.C, onde morava. Chegou a participar do May Day 1971 – a última grande manifestação antibélica da era Vietnã, quando milhares de pessoas de várias regiões dirigiram-se para a capital, na tentativa de interromper o trabalho do governo federal, em protesto à Guerra do Vietnã. E integrou um grupo que iria filmar as manifestações. Mas foram presos e encaminhados ao estádio RFK – Robert F. Kennedy – junto com mais sete mil pessoas, onde ficaram por dezoito horas. No estádio, Helena entrou em contato com grupos feministas, o que despertou o desejo de realizar um filme sobre a trajetória dos movimentos de emancipação das mulheres nos Estados Unidos e na Inglaterra, o que daria origem, três anos depois, à The Emerging Woman.
Ao contrário do Brasil, nos EUA, a segunda onda feminista, nas décadas de 1960-70, obteve expressiva adesão de artistas, mulheres e cineastas que geralmente trabalhavam de maneira coletiva. Para a pesquisadora estadunidense Danielle Schwartz (SCHWARTZ, 2006, p. 399), o processo colaborativo, em que cada mulher dava sugestões em todas as etapas, foi estabelecido em oposição à forma tradicional griersoniana na realização de documentários. Muitos filmes foram realizados desta maneira como The Emerging Woman realizado pelo International Women’s Film Project – coletivo de mulheres que viviam em Whashington D.C e somaram conhecimentos, desejos e habilidades na realização dos três filmes. São trabalhos de criação coletiva ao mesmo tempo em que apresentam elementos do universo autoral de Solberg que assina a direção. Esta simultaneidade entre a autoria da cineasta e o processo de criação coletiva será discutida na comunicação.
Obs.: Esta comunicação é um desdobramento do texto ‘Helena Solberg: militância feminista e política nas Américas’ escrito para “Feminino e Plural – Mulheres no Cinema Brasileiro” (Papirus, 2017) organizado pelas pesquisadoras Karla Holanda e Marina Cavalcanti Tedesco.
Bibliografia
- SOLBERG-LADD, Helena. The Emerging Woman: Narration for the film. Washington D.C: Copyright by the Womens’s Film Project, Inc.1974.
SCHWARTZ, Danielle. “Feminism: North America”. In: AITKEN, Ian. Encyclopedia of the Documentary Film. Vol-3. New York/London: Routledge, 2006, 398 p – 402p.
TAVARES, Mariana. Helena Solberg: do cinema novo ao documentário contemporâneo. 1ª ed. São Paulo: Imprensa Oficial/É Tudo Verdade, 2014.
______________. Helena Solberg: Militância Feminista e Política nas Américas. In: HOLANDA, Karla e TEDESCO, Marina Cavalcanti (orgs.) Feminino e Plural: Mulheres no Cinema Brasileiro. Campinas: Papirus, 2017.
VEIGA, Ana Maria. Estéticas e políticas de resistência no “Cinema de Mulheres” Brasileiro (Anos 1970 e 1980). In: HOLANDA, Karla e TEDESCO, Marina Cavalcanti (orgs.)