Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Arthur Autran Franco de Sá Neto (UFSCar)

Minicurrículo

    Professor da UFSCar desde 2002. É bolsista PQ Nível 2 do CNPq. Doutorou-se no Instituto de Artes da Unicamp e fez pós-doutorado na Universidade de Buenos Aires. Publicou os livros Alex Viany: crítico e historiador (2003) e O pensamento industrial cinematográfico brasileiro (2013), bem como colaborou na Enciclopédia do cinema brasileiro (orgs. F. Ramos e L. F. Miranda, 2012) e no Diccionario del cine iberoamericano (org. E. C. Rodicio, 2011). Dirigiu o documentário A política do cinema (2011).

Ficha do Trabalho

Título

    El hombre que nació dos veces: o filme argentino de Oduvaldo Vianna

Seminário

    Audiovisual e América Latina: estudos estético-historiográficos comparados

Resumo

    Esta comunicação aborda o filme El hombre que nació dos veces (1938), dirigido por Oduvaldo Vianna para a produtora PAF no contexto do cinema clássico argentino. Esta comédia é uma adaptação da peça teatral O homem que nasceu duas vezes, do próprio Oduvaldo Vianna. Uma vez que não existem mais cópias da película, buscar-se-á por meio de diversos tipos de documentos reconstituir as características artísticas principais da obra, bem como sua produção, exibição e repercussão crítica na imprensa.

Resumo expandido

    A proposta da comunicação é relativa à pesquisa que desenvolvo atualmente, a qual tem como objeto os intercâmbios no campo do cinema entre Argentina e Brasil no período de predomínio do Studio system, ou seja, entre 1930 e 1955. Dentre os vários tipos de trocas cinematográficas entre os dois países, destaca-se a circulação de profissionais, desta forma, argentinos tais como o diretor de fotografia Mário Pagés ou o operador de câmera Juan Carlos Landini trabalharam em filmes brasileiros, outrossim, atrizes como Marlene ou Fada Santoro participaram de produções argentinas.
    Especificamente em relação a esta comunicação, o objeto da pesquisa é o filme de longa-metragem El hombre que nació dos veces (1938), dirigido por Oduvaldo Vianna na Argentina para a produtora PAF. No período, o cinema argentino começava a despontar como a principal cinematografia da América Latina, atingindo patamares significativos em termos da quantidade de produções e de participação no mercado do subcontinente. Oduvaldo Vianna então já era autor de peças teatrais consagradas, tais como Feitiço e Amor, ademais, ele dirigira Bonequinha de seda (1936), película da Cinédia estrelada por Gilda de Abreu e que foi um dos grandes sucessos de público e de crítica da história do cinema brasileiro.
    É interessante notar que até poucos anos atrás eram poucos os brasileiros que haviam dirigido longas-metragens no exterior, destacando-se os nomes de Alberto Cavalcanti e Glauber Rocha. Mais recentemente alguns realizadores como Fernando Meirelles ou José Padilha têm desenvolvido parte de suas carreiras dirigindo filmes produzidos em outros países.
    O objetivo da comunicação é reconstituir a produção, a exibição e a repercussão crítica de El hombre que nació dos veces na Argentina, bem como buscar deslindar os traços artísticos principais da obra – uma vez que não existem mais cópias em circulação desta película. Ademais, também interessa levantar a exibição e a recepção crítica no Brasil, onde o filme foi lançado em 1940.
    A fita estreou em Buenos Aires a 28 de setembro de 1938. Ela tinha o elenco composto por César Ratti, Emma Martínez, Sebastián Chiola, Héctor Calcaño e Anita Lang. O filme baseia-se na peça teatral O homem que nasceu duas vezes, de autoria do próprio Oduvaldo Vianna. Trata-se de uma comédia cujo eixo gira em torno da falsa morte de um médico que, cansado das exigências e confusões de sua família, se aproveita de um ataque de catalepsia. Dado como morto, o médico viaja por diversos países e volta para sua casa se fazendo passar pelo irmão. Como a “viúva” e as filhas haviam modificado os seus comportamentos, ele anuncia sua verdadeira identidade e retoma a vida conjugal.
    Segundo Deocélia Vianna, Oduvaldo Vianna viajou para Buenos Aires especificamente para dirigir o filme, pois o contrato com a PAF “financeiramente era muito bom” (1984, p. 60). O convite para trabalhar no cinema argentino decorreu do sucesso de peças de Oduvaldo Vianna nos palcos portenhos, com destaque para Amor. Ele teria voltado de Buenos Aires antes mesmo de a película estrear, mas premido pelas dificuldades financeiras no Brasil e pela esperança de ter mais oportunidades na Argentina, retornou para este país na companhia da esposa, Deocélia Vianna, e do filho pequeno, Oduvaldo Vianna Filho. Lá se fixou por algum tempo trabalhando no cinema, no teatro e no rádio, mas não dirigiu filmes, o que só ocorreu depois de voltar ao Brasil, onde realizou ainda Chuva de estrelas (1948) e Quase no céu (1949).
    A fim de reconstituir El hombre que nació dos veces dispomos de fotos de cena, de matérias jornalísticas sobre a produção e o lançamento da película, críticas, resumos da trama publicados em revistas cinematográficas, para além de depoimentos retrospectivos de Oduvaldo Vianna e Deocélia Vianna. Desta forma será possível dar uma noção do filme, dirigido por um brasileiro no contexto da “época de ouro” do cinema argentino – tal como denominada pelo historiador Domingo di Núbila.

Bibliografia

    AUTRAN, Arthur. Sonhos industriais: o cinema dos estúdios na Argentina e no Brasil nos anos 1930. Contracampo, Niterói, n. 25, dez. 2012. P 117-132.
    CALIL, Carlos Augusto; XAVIER, Ismail (Orgs.). Cinemateca imaginária: cinema e memória. Rio de Janeiro: Embrafilme, 1981.
    ESPAÑA, Claudio. (Org.). Cine argentino – Industria y clasicismo – 1933/1956. V. II. Buenos Aires: Fondo Nacional de las Artes, 2000.
    MARIÑO, Cecilia Nuria Gil. Primeros intercambios entre la industria cinematográfica argentina y brasileña en la década del treinta. AdVersus, Roma/Buenos Aires, v. XI, n. 27, dez. 2014. P. 74-101.
    MORAES. Felipe Augusto de. A dramaturgia no cinema brasileiro (1936-1951). 2017. Tese (Doutorado em Meios e Processos Audiovisuais). Universidade de São Paulo, São Paulo.
    NÚBILA, Domingo di. La época de oro – Historia del cine argentino I. Buenos Aires: Ediciones del Jilguero, 1998.
    VIANNA, Deocélia. Companheiros de viagem. São Paulo: Brasiliense, 1984.