Ficha do Proponente
Proponente
- Fernando Trevas Falcone (UFPB)
Minicurrículo
- Professor da UFPB.
Mestre em cinema pela ECA-USP, com a dissertação A Crítica Paraibana e o Cinema Brasileiro – Anos 50/60.
Organizador de Cinema e memória: o super-8 na Paraíba nos anos 1970 e 1980. João Pessoa: Editora da UFPB, 2013.
Coordenador projeto http://cinepbmemoria.com.br
Participante do Colóquio Internacional de Cinema Documentário com a comunicação Cinema engajado: a temática social como marco da produção paraibana dos anos 60, 70 e 80. João Pessoa, 2016.
Ficha do Trabalho
Título
- Cinemação: temas sociais na produção paraibana dos anos 60, 70 e 80
Resumo
- As produções paraibanas filmadas em 16mm e 35 mm e voltadas para a realidade social da zona rural, caso de “Aruanda” e “O País de São Saruê” marco das décadas de 1960 e 1970, e de “Padre Zé Estende a Mão”, sobrea miséria na capital João Pessoa, são sucedidas pelos filmes em Super-8 com temática diversificada, mas a questão social persiste no cinema paraibano do final dos anos 1970 e da década de 1980, com “Gadanho”, “Abril” e “Registro.
Resumo expandido
- O cinema paraibano chega ao final da década de 1970 com uma filmografia expressiva para um estado pobre e periférico. O Ciclo do Cinema Documentário, iniciado com grande repercussão com “Aruanda” (Linduarte Noronha, 1960) aponta para um cinema voltado às questões sociais da zona rural.
Uma comunidade quilombola, vivendo da fabricação de utensílios de barro, isolada de tudo e de todos é apresentada ao Brasil do início da década de 1960, que se moderniza com a construção de Brasília, a implantação da indústria automobilística e outras bossas.
Foi portanto a partir de “Aruanda” que o cinema paraibano passou a documentar com regularidade alguns aspectos do estado, enfatizando comunidades rurais e populações desfavorecidas das periferias de sua capital.
Das terras secas de “Aruanda” chegamos aos mangues de “Os Homens do Caranguejo” (Ipojuca Pontes, 1967), em que catadores de caranguejo dos arredores da capital paraibana se confundem com a lama em uma luta inglória pela sobrevivência.
Dos mangues o cinema paraibano nos transportou à aridez sertaneja no longa-metragem “O País de São Saruê” (Vladimir Carvalho, 1971). A miséria estampada nos rostos e nos corpos dos camponeses abatidos pela seca e pela fome teve tamanho impacto que o filme permaneceu censurado durante oito anos.
A miséria persiste em cena. Pelas ruas de João Pessoa, em uma cadeira de rodas empurrada por dois meninos, um religioso munido de uma varetinha pede esmolas para a sua grande obra: uma casa e um hospital destinados aos mais pobres.
“Padre Zé Estende a Mão” (Jurandy Moura, 1974) acompanha o trabalho incansável, quase obsessivo, do religioso Zé Coutinho, que supera as suas limitações físicas para ajudar as centenas de pessoas que buscam abrigo, alimentação e cuidados médicos.
Dois estudantes universitários, com parcos recursos nos bolsos e uma câmera Super-8 nas mãos filmam o cotidiano dos catadores de lixo do bairro do Roger, próximo ao centro de João Pessoa. “Gadanho” (João de Lima e Pedro Nunes, 1979) inaugura uma nova fase do cinema paraibano.
No momento em que o regime autoritário em crise inicia a sua “abertura”, com o fim do famigerado AI-5, ato que institucionalizou a ditadura, implantando a lei da mordaça por uma década, a dupla de realizadores volta-se para a face mais cruel do modelo concentrador de renda, que tornou ainda mais dura a vida dos mais pobres no Brasil, sobretudo os do Nordeste.
Na primeira metade da década de 1980 o Núcleo de Documentação Cinematográfica (NUDOC) da UFPB torna-se o mais importante produtor de filmes Super-8 na Paraíba. A partir de seus estágios são realizados documentários abordando temáticas relacionadas à religiosidade, trabalho, sexualidade e questões urbanas, entre outras.
Tem-se então, na Paraíba, um cenário rico de possibilidades para o cinema documentário.
Entre os filmes realizados a partir do NUDOC destaca-se “Abril” (Marcus Vilar, 1984). Feito no calor da hora, mostra detalhes da manifestação realizada no centro de João Pessoa em favor da aprovação pelo Congresso Nacional da emenda que restabelecia eleições diretas para Presidente da República. O evento acontece no dia que os parlamentares votam a proposta.
Antes da manifestação algumas pessoas que estão no local falam sobre a expectativa em relação aos acontecimentos de Brasília. Discursos são registrados de longe, e o som é uma profusão de falas e ruídos da multidão. Jornalistas, políticos, ativistas culturais são entrevistados sobre o tema.
Em 1979 estudantes da Universidade Federal da Paraíba entram em greve contra o aumento dos preços do restaurante universitário. O movimento, o primeiro a acontecer no Estado desde 1968, é acompanhado pelo cineasta Pedro Nunes e resulta em “Registro”, produzido pelo Diretório Central dos Estudantes – DCE. Já em seu título o filme deixa claro sua intenção de transformar aquele momento importante da Universidade e do país em um documentário a serviço da memória do próprio movimento.
Bibliografia
- BERNARDET, Jean-Claude. Cineastas e imagens do povo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
FERRO, Marc. Cinema e História. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
GAUTHIER, Guy. O documentário: Um outro cinema. Campinas, SP: Papirus, 2011.
LEAL, Wills. Cinema na Paraíba, Cinema da Paraíba. João Pessoa: Edição do Autor, 2007.
MACHADO JR., Rubens. O inchaço do presente: Experimentalismo Super-8 nos anos 1970. Rio de Janeiro: CTAV. Filme Cultura, nº 54, maio de 2011, p. 28-32.
MARINHO, José. Dos Homens e das Pedras: o ciclo do cinema documentário paraibano (1959-1979). Niterói, RJ: EdUFF, 1998.
NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas, SP: Papirus, 2005.
RAMOS, Fernão Pessoa. Mas afinal… o que é mesmo documentário? São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2008.
SILVA, Maria das Graças Amaro da. Imagens em Movimento: CEDOP e o Vídeo Popular. Dissertação de mestrado – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa: UFPB, 2002.