Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Renan Paiva Chaves (Unicamp)

Minicurrículo

    Renan Paiva Chaves tem se dedicado aos estudos do som no filme documentário desde 2010. Possui graduação em Música pela Unicamp (2012), com intercâmbio no Instituto Superior de Musica da UNL (2010), mestrado em Multimeios pela Unicamp (2015) e desenvolve tese de doutorado em Multimeios na Unicamp. Entre 2017 e 2018 foi pesquisador visitante na Monash University. É membro do Centro de Pesquisas de Cinema Documentário e do Grupo de Pesquisa em Música e Sound Design aplicados à Dramaturgia.

Ficha do Trabalho

Título

    O som do cinema não ficcional mudo

Seminário

    Estilo e som no audiovisual

Resumo

    A partir de fontes primárias – manuais, cue sheets, partituras e indicações sonoras –, pretendo abordar na apresentação aspectos estilísticos do acompanhamento sonoro do filme não ficcional que se fizeram presentes nas décadas de 1910 e 1920, tal como repertório tocado, estrutura narrativa/temporal da composição/compilação, sugestões/guias presentes nos manuais, organização do material para os músicos, andamentos musicais, formação musical e colaboração entre as partes da equipe realizadora.

Resumo expandido

    Durante as décadas de 1910 e 1920, relevantes manuais e antologias de acompanhamento musical dedicaram trechos e seções inteiras ao filme não ficcional. A partir dos anos 1920, cue sheets, partituras e indicações sonoras – compostas pelos grupos exibidores, por produtoras de partituras e pela equipe realizadora do filme – passaram também a ocupar relevante espaço no campo do acompanhamento da não ficção. Do ponto de vista da proficuidade, pode-se dizer que esses materiais são as fontes primárias mais reveladoras da história do som do cinema não ficcional do período mudo. Embora não se saiba o que de fato era tocado nas salas de exibição (ou se sequer era tocado) a partir dessas fontes, elas nos revelam aspectos-chave dos estilos e das epistemologias que envolviam o acompanhamento sonoro do filme não ficcional e, em última instância, de como era (ou como gostariam que fosse) o som do filme não ficcional do período mudo.
    Nessa apresentação pretendo abordar alguns aspectos estilísticos do acompanhamento sonoro do filme não ficcional que se fizeram presentes nas décadas de 1910 e 1920 – como repertório tocado, estrutura narrativa/temporal da composição/compilação, sugestões/guias presentes nos manuais, organização do material para o músico, andamentos musicais, formação musical e colaboração entre as partes da equipe realizadora. Em termos gerais, esses aspectos variaram, em grande medida, conforme a relação estabelecida entre o sonoro e o visual a partir do ponto de vista da realização fílmica. Grosso modo se pode dizer que a relação podia ocorrer num desprendimento completo do filme com seu acompanhamento, num extremo, e por uma concepção que encara o filme não ficcional como uma obra sonoro-visual una, em outro extremo. No meio termo estariam os filmes que, embora não tenham sido concebidos como obra sonoro-visual, receberam para suas exibições compilações, indicações sonoras e/ou composições específicas, dedicadas a eles.
    Os resultados a serem apresentados foram construídos a partir da análise de fontes primárias coletadas majoritariamente na Deutsche Kinemathek – Museum für Film und Fernsehen, EYE Filmmuseum, New York Public Library e Library of Congress.
    Os principais manuais e antologias de acompanhamento usadas são: What and how to play for pictures, de Eugene Ahern (1913); Sam Fox moving picture music II, de John Stepan Zamecnik (1913); Playing to the pictures, de W. Tyacke George (1914); Musical accompaniment of moving pictures, de Edith Lang e George West (1920); Musical presentation of motion pictures, George Beynon (1921); Motion Picture Synchrony, de Ernst Luz (1925); Encyclopedia of music for pictures, de, Ernö Rapée (1925); How to play the cinema organ, de George Tootell (1927).
    As principais cue sheets, partituras e indicações sonoras usadas são: partitura de Max Butting para Lichtspiel opus I (1921, Whalter Ruttmann), cue sheet de Ernst Luz (1922) para Nanook of the North (1922, de Robert Flaherty); cue sheet de James C. Bradford (1922) para Nanook of the North (1922, de Robert Flaherty); partitura de George Antheil (1924) para Ballet mécanique (1924, ‎Fernand Léger); cue sheet de James C. Bradford (1922) para Moana (1925, de Robert Flaherty); partitura de Yves de la Casinière (1926) para Rien que les heures (1926, Alberto Cavalcanti); partitura para pianola de Jean Grémillon para Un tour au large (1926, Jean Grémillon); partitura reduzida de Edmund Meisel (1927) para Berlim: sinfonia de uma metrópole (1927, Whalter Ruttmann); partitura de Hanns Eisler (1927) para Opus III (1924, Whalter Ruttmann); partituras de Darius Milhaud (1928) para A l’exposition de la presse, Aviateurs reçus officiellement, Kangourou boxeur, Application industrielle de l’eau, Un attentat sur la voie ferrée e Le Derby; instruções sonoras de Dziga Vertov para O homem com a câmera (1929, Dziga Vertov).

Bibliografia

    BIRDSALL, C. Resounding city films: Vertov, Ruttmann and early experiments with documentary sound aesthetics. In: ROGERS, H. (Ed.) Music and Sound in Documentary Film. Routledge, 2014. p. 34-54.
    CARRASCO, C.; CHAVES, R. O pensamento sonoro-visual de Walter Ruttmann e a música de Berlim: sinfonia de uma metrópole (1927). DOC On-line, n. 12, p. 22-58, 2012.
    CHAVES, R. O som no documentário: a trilha sonora e suas transformações nos principais movimentos e momentos da tradição documentária, dos anos 1920 aos 1960. Dissertação (Mestrado em Multimeios)–Unicamp, Campinas, 2015.
    DEAVILLE, J. Sounding the World: the role of music and sound in early ‘talking’ newsreels. In: ROGERS, H. (Ed.). Music and Sound in Documentary Film. Routledge, 2014. p. 55-69.
    FLAHERTY, R. The Campaign Book for Exhibitors. Studies in Visual Communication, v. 6, n. 2, p. 61-76, 1980.
    MCCARTY, C. Film composers in America: A filmography, 1911-1970. Oxford University Press on Demand, 2000.