Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Laís de Lorenço Teixeira (Unicamp)

Minicurrículo

    Laís Lorenço é graduada em Cinema e Audiovisual – UFF, realizou intercâmbio para UNC – Universidad Nacional de Córdoba, 2017. Mestranda em Multimeios na Unicamp, sob a orientação de Karla Bessa, com projeto sobre documentários em primeira pessoa de diretoras e protagonistas mulheres, na América Latina. É realizadora de documentários, com destaque a “Além de Mim” (2016), dirigido com Gabriella Billwiller, produzido pelo Canal Futura, pelo edital Curtas Universitários.

Ficha do Trabalho

Título

    “Sibila” e “O Pacto de Adriana”: encontro documental entre mulheres

Seminário

    Mulheres no cinema e audiovisual

Resumo

    “Sibila”, de Teresa Arredondo e “O Pacto de Adriana”, de Lissette Orozco; são documentários em primeira pessoa em que as realizadoras retratam mulheres, nesse caso, suas tias. As obras são construídas por atritos e quebras de expectativas, assim, o objetivo é compreender os modos como são organizadas e negociadas a imagem dessas mulheres e a relação diretora-protagonista e de que maneira estes elementos forjam a narrativa e são constitutivos da (auto)representação das mulheres nos filmes.

Resumo expandido

    No desenvolvimento de nossa pesquisa de mestrado “Yo Feminino: A primeira pessoa das mulheres no encontro documental latino-americano”, são trabalhados documentários em primeira pessoa latino-americanos, com diretoras e personagens mulheres, explorando o encontro fílmico feminino e seus elementos constitutivos. Dentre o corpus fílmico trabalhado na pesquisa, estão os abordados dentro nesse trabalho.
    “Sibila”, Direção: Teresa Arredondo, 2012 (94 min.), Chile-Espanha e “O Pacto de Adriana”, Direção: Lissette Orozco, 2017 (96 min.), Chile; são documentários que procuram, de modos distintos, representar mulheres, porém, elas não são desconhecidas das realizadoras, são suas tias. As diretoras, no movimento de retomar e recontar a história dessas mulheres, acabam por inscrever-se nos filmes, a partir dessa primeira pessoa feminina, contando suas relações, decepções e descobertas com tais figuras tão representativas do âmbito doméstico, mas com imenso reflexo no social – por serem as protagonistas figuras públicas. O conflito é construído pouco a pouco, criando espaços de combate entre a imagem da memória das diretoras, e a imagem que a investigação leva-as a montar. Teresa e Lissette inscrevem-se através de seus relatos pessoais, imprimindo suas subjetividades como fio condutor para desenvolvimento da narrativa.
    Os encontros entre tia-sobrinha, retratada-realizadora se dão de modos distintos, mas se mantém, em ambos, o contraponto entre a imagem construída desde a infância pela ausência cotidiana dessas figuras fortes, ídolas das diretoras, e a imagem que se constrói pela realização do filme. Desse modo, o conflito é a base de tais narrativas, de tais encontros entre familiares, mas sobretudo, sobre mulheres. Entre as expectativas de sobrinhas e a realidade fantasmagórica de tias presentes pela ausência, é nos encontros com as personagens-tias que as realizadoras tentam compreender não somente aspectos pessoais, como de memória histórica e política, formando a construção de um encontro feminino. Seja este através do arquivo, da conversa ou da simples rememoração, é sem dúvida, uma busca, porém, são elas negociadas com as imagens já existentes, de mulher, de tia.
    Nosso objetivo é compreender de que modo essas narrativas se relacionam e usam de diferentes modos para construir as imagens dessas mulheres, e também representar a relação das diretoras com suas histórias. Investigar de que modo as marcas, afetos e embates, forjam tais narrativas, porém, não somente comparando suas construções, mas criando paralelos para busca de outros tipos de representação de mulheres. Estabelecendo diálogo com teóricos que pensem a questão da construção da subjetividade no documentário (RENOV, 2004) e algumas questões do documentário em primeira pessoa (PIEDRAS, 2014) e relacionar esse elemento a questão da mulher, que nesse caso se apresenta em duas instancias – diretora e da protagonista -, utilizando desses cinema com mulheres (MARTINS, 2015) para construção de narrativas de mulheres, por elas mesmas. Pensar, principalmente, como se articula esse “eu feminino”, suas particularidades e possibilidades de construções específicas. A construção desse encontro é baseada no discurso, nas vozes dessas mulheres (SILVERMAN, 1988), nesse sentido a teoria feminista permite a compreensão dessa construção específica e sua relação com a subjetividade. Ao explorar essas narrativas documentais em primeira pessoa, adentra-se no espaço doméstico alheio, e os modos de construção de cada um desses filmes permite explorar nuances específicos, de escolhas de construção, temática e estética, para (auto)representação de algo tão íntimo, porém com destino público, que possibilita a construção de um espaço compartilhado entre as mulheres em tela.

Bibliografia

    KUHN, Annette. Cine de mujeres: Feminismo y cine. Madrid: Cátedra, 1991. LEBOW, A. The Cinema of Me:The Self and Subjectivity in First Person Documentary. New York: Wallflower Press, 2012
    MARTINS, Carla L. Maia. Sob o risco do gênero: Clausuras, rasuras e afetos de um cinema com mulheres. 2015. Tese, UFMG, Belo Horizonte, 2015
    MCFADDEN, Cybelle H. Gendered Frames, Embodied Cameras: Varda, Akerman, Cabrera, Calle, and Maïwenn. Madison, NJ: Fairleigh Dickinson University Press, 2014
    MOLLOY, Sylvia. Acto De Presencia: La Escritura Autobiográfica En Hispanoamérica. México, DF: El Colegio de México,1996
    ORTEGA, María Luisa. Las modulaciones del yo en el documental contemporâneo. In: GUTIÉRREZ, G. Cineastas Frente Al Espejo. Madrid: T&B EDITORES, 2008
    PIEDRAS, Pablo. El cine documental en primera persona. Buenos Aires: Paidós, 20014
    RENOV, Michael. The Subject of Documentary. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2004
    SILVERMAN, Kaja. The Acoustic Mirror. Bloomington, Indiana UP, 1988