Ficha do Proponente
Proponente
- Mariana Dias Miranda (UFF)
Minicurrículo
- Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal
Fluminense (PPCine/UFF) na linha Narrativas e Estéticas e membro do Nex – Núcleo de Estudos
do Excesso nas Narrativas Audiovisuais.
Ficha do Trabalho
Título
- A micropolítica dos gestos e afetos em “Las Acacias”
Seminário
- Corpo, gesto e atuação
Resumo
- A presente comunicação se propõe a delinear os aspectos políticos inerentes ao conceito de afeto,
estabelecendo, dessa forma, uma aproximação com o que Jacques Rancière (2014) define como
dissenso. Nesse sentido, busca-se apontar uma relação entre a estética e a política no cinema
argentino contemporâneo por meio da análise do filme Las Acacias, visando destacar, dessa forma,
o papel do corpo em movimento e dos gestos como lócus de disputas.
Resumo expandido
- O Nuevo Cine Argentino é marcado especificamente por um rompimento estético em relação
ao cinema político dos anos 1960 e filmes de memória dos anos 1980. Nesse sentido, é identificada
constantemente a ausência de um projeto político declarado e de um imperativo identitário que
busca diagnosticar problemas nacionais e apresentar suas soluções (AGUILAR, 2008). Há, dessa
forma, a exploração do presente através de narrativas ambíguas, rarefeitas e que investem na
dimensão do corpo e do sensório como maneira de privilegiar indivíduos em constante
entrecruzamento, colocando em foco um dinamismo de identidades diversas em simultaneidade e
tensão.
Nesse contexto, o filme Las Acacias (Pablo Giorgelli – Argentina – 2011) esbarra com o
tema da imigração no interior da América Latina e, ao trabalhar com uma narrativa mínima,
principalmente com poucos diálogos, traz a tona a dimensão do corpo e dos gestos dos personagens
como chave de leitura da obra, fazendo com que os aspectos sensíveis e materiais sejam centrais, ao
invés de signos racionais e linguísticos. É no corpo que a negociação entre os personagens
principais da obra acontece, enfatizado por uma mise-en-scène que se constrói também enquanto
corpo e que cria uma porosidade entre os planos e enquadramentos.
Entende-se o conceito de afeto como a instauração de um evento dinâmico que
desterritorializa e desloca elementos de seus lugares preconcebidos, ou seja, enquanto algo que
emerge em meio ao tecido narrativo e suspende a dimensão estruturada dos significados. Dessa
forma, partindo do pensamento de Elena Del Rio (2008), do afeto enquanto “poderes do corpo” em
sua propriedade criativa e ontogênica, este trabalho propõe associá-lo com a definição de
“economia afetiva” em Sara Ahmed (2004), a qual define a circulação de objetos saturados de afeto
como o que dá forma as tensões sociais. Coloca-se como hipótese, portanto, o conceito como um
instrumento de análise eficaz para a leitura de um modo micropolítico presente nesse cinema.
Ao se definir o potencial de disrupção de uma micropolítica dos afetos e sua propriedade
criativa, propõe-se uma associação com a filosofia de Jacques Ranciére (2014), principalmente
através da união entre estética e política colocada como um modo distribuição do sensível. Com
isso, seria possível uma relação entre a figura do “dissenso” apontada pelo autor como algo que
instaura uma ruptura que desafixa os sujeitos de seus lugares, sendo desse modo, potência de
criação de novas formas de pensar e de fazer.
Inserindo Las Acacias no contexto de um cinema que passa de uma escala macro para
micro, pretende-se com esta comunicação, pensá-lo dentro de um momento de “política do
sensível” (DI PAOLA, 2010), na qual o aparato cinematográfico não busca apenas retratar o
diagnóstico de uma realidade externa, mas também o potencial de criação em si de outros mundos e
imagens. Portanto, pensando uma mise-en-scène enquanto expressão do entrecruzamento e colisão
entre diferentes corpos.
Propõe-se com essas associações, a aproximação com um modo de “pensar junto”, como
apontado por Susanna Paasonen (2011) em relação as trincheiras teóricas da virada afetiva. Ao se
colocar em conjunto diferentes perspectivas em torno do conceito de afeto e, através disso, articular
essas abordagens no que têm de comum enquanto possibilidade de se pensar uma retórica da ação
do corpo como criação política no cinema contemporâneo.
Bibliografia
- AGUILAR, Gonzalo. Other Worlds: New Argentine Film. Nova Iorque: Palgrave Macmillan, 2008.
AHMED, Sara. The Cultural Politics of Emotion. Nova Iorque: Routledge, 2004.
DEL RÍO, Elena. Deleuze and the cinemas of performance. Powers of affection. Edinburg:
EdinburgUniversity Press, 2008.
DIPAOLA, Esteban. Las formas políticas del cine argentino: montajes, disrupciones y estéticas de una
tradición. Aisthesis, Santiago, v. 1, n. 48, p.128-140, set. 2010.
MASSUMI, Brian. Politics of affect. Cambridge: Polity Press, 2015.
OLIVEIRA JR, Luiz Carlos. A mise en scène no cinema: do clássico ao cinema de fluxo. Campinas:
Papirus, 2013.
PAASONEN, Susanna. Carnal Resonance: Affect and Online Pornography. 1a. ed. MIT Press, 2011.
PODALSKY, Laura. The Politics of Affect and Emotion in Contemporary Latin American Cinema:
Argentina, Brazil, Cuba, and Mexico. Nova Iorque: Palgrave Macmillan, 2011.
RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado. São Paulo: WMF; Martins Fontes, 2014.