Ficha do Proponente
Proponente
- Cíntia Langie Araujo (UFPel)
Minicurrículo
- Realizadora audiovisual e professora adjunta dos cursos de Cinema e Audiovisual e Cinema de Animação da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Pesquisadora acadêmica atuante na área de cinema, com ênfase nas questões relativas a roteiro e circulação do filme brasileiro. Jornalista, Mestre em Comunicação Social (2003), realiza doutorado em Educação na UFPel e atualmente faz doutorado sanduíche no Programa de Pós-Graduação em Cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Ficha do Trabalho
Título
- CIRCUITO UNIVERSITÁRIO DE EXIBIÇÃO E O PROJETO CINEMAS EM REDE
Seminário
- Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil
Resumo
- A pesquisa investiga o circuito universitário de exibição do Brasil, a partir de um estudo sobre salas localizadas em instituições de ensino. O objetivo é analisar as características de tais iniciativas e as potencialidades de uma curadoria formativa, que visa a expansão do acesso aos filmes que não possuem espaço nas salas comercias. O estudo também aborda o projeto Cinemas em Rede, solução tecnológica que interliga cinemas espalhados no país para fortalecimento da difusão do filme brasileiro.
Resumo expandido
- Aqui chamamos de circuito universitário um conjunto de salas de projeção localizadas em instituições de ensino. São iniciativas muito próximas do cineclubismo, ação que igualmente busca dar acesso aos filmes que não têm espaço nas salas comercias, com realização periódica de debates. Os cinemas universitários, muitas vezes, são ou começaram sendo projetos de extensão, iniciativas que desejam colocar a universidade, e tudo aquilo que a ela está vinculado, a serviço da comunidade em geral. E é nesse lugar que se podem desenvolver iniciativas com mais flexibilidade, sem visar lucrou ou resultados esperados. “Trata-se de um privilegiado lugar dentro de um mundo onde tudo parece submetido aos interesses do mercado ou às lógicas eleitorais” (MIGLIORIN, 2015, p. 30). Portanto, trata-se de um circuito cuja curadoria tem perfil formativo, priorizando obras de relevância artística e cultural.
O parque exibidor brasileiro é concentrado – tanto no que se refere a localização das salas quanto ao domínio da fita estrangeira – e elitizado. Com as tecnologias digitais e com políticas públicas para a exibição, as salas de cinema vêm crescendo no país, mas seguem concentradas nas capitais. Chama a atenção o fato de que apenas 10% das cidades brasileiras possuem salas comerciais de exibição, segundo dados da ANCINE. Nas salas localizadas em shopping centers, o valor do ingresso está cada vez mais alto, o que afasta as classes C e D do cinema, público historicamente fiel ao cinema brasileiro (BARONE, 2008). Nesse sentido, o circuito universitário vem suprir uma demanda social: a maioria das salas universitárias são gratuitas, apenas em poucos casos ocorre cobrança de ingressos a preços populares. Além disso, muitas delas são localizadas em bairros ou no centro das cidades, em localidades de fácil acesso.
Outro aspecto peculiar desse circuito é o uso de soluções tecnológicas, que barateiam o processo de exibição audiovisual e permitem ações inovadoras. É o caso do projeto Cinemas em rede, uma rede de cinemas digitais, criada pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) em parceria com o Ministério da Cultura (MinC). O projeto ocorre via conexão dos cinemas universitários à Rede Ipê, infraestrutura acadêmica voltada ao ensino e pesquisa. Com isso, salas alternativas espalhadas pelo Brasil podem compartilhar conteúdos audiovisuais entre si. A iniciativa hoje interliga 12 salas, das quais dez estão localizadas em universidades, espalhadas nos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiânia, Espírito Santo, Bahia e Paraíba.
A política curatorial do projeto Cinemas em Rede investe em filmes nacionais recentes, que tratem de temáticas sociopolíticas, priorizando uma descentralização de conteúdos. Além dos filmes selecionados pela curadoria do projeto, as salas universitárias dão bastante destaque à produção fílmica brasileira contemporânea. Se hoje no Brasil a produção não é mais o problema, pois mais de 100 longas são realizados por ano no país, a difusão torna-se o ponto crucial de nossa cinematografia.
Segundo dados da ANCINE referentes ao primeiro semestre de 2016, os filmes estrangeiros representam 91,8% dos ingressos vendidos em salas comerciais do Brasil, enquanto os filmes nacionais ficam com 8,2% do público que vai às salas. Conforme aponta Barone (2011), o desempenho dos filmes nacionais dentro do mercado brasileiro pode ser considerado abaixo do razoável, em um quadro “excessivamente assimétrico”. Desse modo, estaria o circuito universitário e o projeto Cinemas em rede no centro de uma outra história, uma história para além da lógica do lucro já sedimentada em salas comerciais. O filme brasileiro carece de ações paralelas como esta. As salas universitárias, nessa perspectiva, tornam-se um circuito para o filme nacional, uma possibilidade para a problemática do cinema brasileiro, que se centra, em última análise, no fato de que as pessoas comumente não têm acesso aos filmes produzidos no país.
Bibliografia
- BARONE, João Guilherme. Exibição, crise de público e outras questões do cinema brasileiro. In: Revista Sessões do Imaginário. Porto Alegre, n. 20, 2008.
_________. Assimetrias, dilemas e axiomas do cinema brasileiro nos anos 2000. In: Revista Famecos: mídia, cultura e tecnologia v. 18, n. 3. Porto Alegre: 2011.
BRAGA, Rodrigo Saturnino. Distribuição cinematogrática. In: DIAS, Adriana e BARBOSA, Letícia de Souza (org.). Film Business: o negócio do cinema. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
MIGLIORIN, Cezar. Inevitavelmente cinema: educação, política e mafuá. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2015.
ORICCHIO, Luiz Zanin. Cinema brasileiro contemporâneo (1990-2007). P. 139-156. In: BAPTISTA, Mauro; MASCARELLO, Fernando (orgs.). Cinema Mundial Contemporâneo. Campinas, SP: Papirus, 2008.