Trabalhos Aprovados 2018

Ficha do Proponente

Proponente

    Geraldo Blay Roizman (USP)

Minicurrículo

    GERALDO BLAY ROIZMAN, 1965, é cineasta e artista plástico desde 1989, Arquitetura e Urbanismo pela PUCCAMP 1987, Mestrado em Artes Visuais UNESP/SP intitulado “Mário Peixoto, um olhar fenomenologico“ de 2003. Doutorando desde março de 2015 no Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais, Linha de Pesquisa: História, Teoria e Crítica na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.

Ficha do Trabalho

Título

    Céu sobre Água: O Corpo coletivo de Agrippino e Maria Esther Stockler

Resumo

    José Agripino de Paula e Maria Esther Stockler experimentaram gestos libertários no teatro, na dança e no cinema. Por trás do despojamento do filme Super-8 Céu sobre Água, haveria todo um saber cultivado na experiência estética ligada á contracultura e que colocaria aqui toda a sua fé criativa numa possibilidade de organicidade entre o ato de filmar e dançar como anti-espetáculo.

Resumo expandido

    Céu sobre Água seria um grande espetáculo de serenidade própria da improvisação do Raga indiano e de uma geografia corpórea e de paisagens plurisensoriais exploradas em conjunto pela câmera-olho. As refrações luminescentes que se movem sincronizadas junto ao deslizamento de microtonalidades executadas por Ravi Shankar. O corpo de Agrippino e de Maria Esther Stockler na frente e atrás da câmera não se diferenciam pois foram construídos ao longo de um processo artístico na literatura, na dança, no teatro e no cinema como fluxo de energia. Foi junto ao grupo Sonda que ele se tornou um corpo coletivo. Até Arembepe, esse corpo pleno e autêntico instituiu-se como um estar aí no mundo pertencente á sua época contracultural, momento em que assume a própria eroticidade, múltiplo, catalisador de experiências coletivas e que deixa de ser instrumento resignado da força de trabalho para se tornar um veículo de liberação, transformado aqui em texto artístico. O tempo pausado da fala de Agrippino revelaria um homem mergulhado num profundo alheamento autoconsciente através de um universo próprio de percepção sensível sobre as coisas e que a referência principal é a valorização da experiência do corpo originaria tanto do fazer manual como da exploração de espaço da criança. Seu uso, a ênfase da memória nas distâncias percorridas a pé na cidade revelam um outro projeto de mundo baseado no respeito profundo ao corpo como uma hipótese de transformação radical no modo de vida do ser humano tomado pela reificação. Mas ambos, Agrippino e Maria Esther, tem consciência de que seu próprio corpo é apenas um instrumento em ressonancia de devir de liberação do individuo, coisa entre coisas, fluxo de energia no interior da natureza em movimento, do ar, da água, do vento e da luz. Esses dois seres que habitam as profundezas da vida simples como as tribos africanas habitam a aldeia tanto no cotidiano como nos rituais extensos á vida, são portanto seres que se tornaram, ao longo do tempo e de suas experiências, eminentemente coletivos, essência da palavra hippie, verdadeira afirmação da vida como arte. O experimentalismo de criação coletiva que realizaram com o grupo SOMA estava em íntima co-relação com a grande corrente contracultural dos anos 60-70, do corpo redescoberto, ponto de partida para uma sociedade eximida de repressões, fruto das descobertas das vanguardas na abertura de espaços gestuais através de diversos campos de experimentação, na música, nas artes visuais, performances, mas principalmente a mistura de meios a partir da forma radical de trabalhar a partir dos elementos em conjunto como um corpo coletivo. A iniciativa de fazer da vida uma grande festa aconteceu até incomodar o sistema, que os despoja de seu projeto estético libertário e que os faz viajar á África, o grande aprendizado e confirmação de um corpo holístico, principalmente de Maria Esther, por seu aspecto libertário. Na volta, a gravidez e a parada em Arempepe, onde acontece essa dança de véus aquáticos luminescentes e esse despojamento dos corpos em meio ao diáfano como produtor de imagens que nos contaminam com a sua serenidade. O espírito torna-se criança, desinteressado, Ludus Livre como diria Nietzsche, num momento político repressivo, mas aqui, fora de perigo, como diria Gil. Essa máquina de filmar extensa ao corpo que opera nas mãos de Agrippino descobre na paisagem, nos movimentos da água translúcida, na luz e no movimento do corpo grávido e submerso de Maria Esther um fluxo de energia vivo e que, com a vinda de Manhã, atuam juntos com a natureza e com os microtons como um só corpo livre pois coletivo, ou seja, só sendo liberto é que pode, desta forma, tornar-se libertário.

Bibliografia

    AGAMBEN, Giorgio. Ninfas. São Paulo: Hedra, 2012.
    BELGRAD, Daniel. The Culture of Spontaneity. Improvisation and the Arts in Postwar America. Chicago: The Univ. os Chicago Press, 1998.
    CAVALCANTI, J. A. Teatro Experimental (1967/1978) Pioneirismo e Loucura á Margem da Agonia da Esquerda. Tese de Doutorado Depto. de Artes Cênicas da ECA-USP. São Paulo, 2012.
    GUMBRECHT, Hans Ulrich. Produção de presença: o que o sentido não consegue transmitir. Rio de Janeiro: Contraponto e PUC-Rio, 2010.
    HEIDEGGER, Martin. A Origem da Obra de Arte. Lisboa: Edições 70, 2010.
    HOISEL, Evelina. Supercaos: os estilhaços da cultura em Panamérica e Nações Unidas. São Paulo, Civilização Brasileira, 1980.
    MADAZZIO, Irlainy Regina. O Vôo da Borboleta. A obra cênica de José Agrippino de Paula e Maria Esther Stockler. Dissertação de Mestrado em Artes Cênicas – ECA/USP, São Paulo, 2005.
    PAULA, José Agrippino de. Pan Amér