Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas
Resumo
- Pretende-se reunir pesquisas que tratem do campo do cinema experimental em suas diversas vertentes e a partir de múltiplas abordagens. Seja em estudos históricos e contemporâneos; seja em investigações entorno da poética de filmes e vídeos experimentais; seja a partir da conversação da produção audiovisual com outras artes; assim como em perspectivas teórico-filosóficas que partam de obras e conceitos ligados à experimentação na produção audiovisual.
Introdução
- Pretende-se reunir pesquisas que tratem do experimental em suas diversas vertentes (vanguarda, cinema, videoarte) e a partir de múltiplas abordagens. Seja em estudos históricos e contemporâneos; seja em investigações entorno da poética de filmes e vídeos experimentais; seja a partir da conversação da produção audiovisual com outras artes; assim como em perspectivas teórico-filosóficas que partam de obras e conceitos ligados à experimentação na produção audiovisual.
Os proponentes do ST, em seus percursos acadêmicos, assim como em atividades curatoriais, voltaram-se às diversas esferas do cinema experimental, em variados locais e períodos históricos, conjugando distintas abordagens para tratar desse vasto e, comparativamente, desconhecido corpus de obras.
Percebe-se no Brasil um crescente número de pesquisas a respeito desse tipo de produção e que ainda não encontraram na SOCINE um ponto de convergência, dispersando-se em STs voltados a temas e abordagens próximas, impossibilitando um aprofundamento dos debates e interlocução entre pesquisadores. Para tratar de um vasto campo e uma história particular determinada por vetores econômicos, estéticos e políticos relativamente similares em toda as suas tradições e ao mesmo tempo singular no contexto geral do cinema e do vídeo, torna-se importante definir um campo de pesquisa igualmente específico para abarcá-los de modo produtivo.
Temos visto pesquisas diversas que tem a produção de caráter experimental como objeto aproximadas com demais temas que muitas vezes pouco ou nada tem em comum, frustrando expectativas de debates e interlocução produtivos que se espera de um encontro de pesquisadores como o da SOCINE. O ST de Cinema Experimental poderia em parte sanar essa questão, fazendo convergir propostas e abordagens próximas. Mas servindo também para destacar algumas tendências entre pesquisadores e estabelecer algumas frentes de reflexão acerca da pesquisa sobre o campo no Brasil. Há atualmente uma vasta rede mundial de pesquisadores que se debruçam sobre o tema e que tem recentemente se aglutinado em termos regionais, como no caso latino-americano (LERNER; PIAZZA, 2017). Os proponentes tem mantido frequente interlocução com essas redes em eventos de diversas ordens, acadêmicos ou não. A criação do eixo temático “Arte e cinema experimental na América Latina: história e crítica” no Colóquio de Cinema e Arte da América Latina (COCAAL) é um exemplo disso. O ST Cinema Experimental na SOCINE também poderia reunir pesquisadores de todas as regiões do país que tem abordado o tema e melhor conectar as pesquisas individuais, muitas vezes isoladas no próprio plano nacional. Entretanto, o ST não concentraria suas forças sobre uma identidade especificamente latino-americana, como é o caso do eixo temático citado. “Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas” tem como intuito discutir o tema em sentido múltiplo, abarcando as diversas abordagens e reforçando a potência desse tipo de expressão artística.
Objetivo
- – Valorizar a produção de natureza experimental (vanguarda, cinema, vídeo e interseções) e a pesquisa sobre o tema em âmbito acadêmico.
– Concretizar um espaço de reflexão para o estudo do experimental no audiovisual e suas tradições de ruptura.
– Contribuir para o desenvolvimento da pesquisa sobre o cinema experimental no Brasil, unindo pesquisas e pesquisadores, favorecendo um ambiente propício para reflexões mais extensas através de debates e novas descobertas.
– Consolidar uma vertente no meio acadêmico brasileiro para o estudo do cinema experimental tanto no que se refere a produção brasileira como também a estrangeira, respaldada por outras iniciativas já em curso em outros eventos, mas em estágios embrionários.
– Favorecer um ambiente propulsor para novas propostas historiográficas, teóricas e poéticas a partir dos eixos de discussão.
– Propor novos paradigmas para a pesquisa do objeto em questão e disseminar novas obras, autores e frentes de reflexão.
Aspecto
- O tema do ST “Cinema Experimental: histórias, teorias e poéticas” foi gestado conceitualmente de modo abrangente, levando em consideração as diversas acepções atribuídas ao longo da história e que foram assim nomeadas também de modo diverso. É o caso, em especial, do cinema de vanguarda, mas também de outras categorias: filme de artista, abstrato, estrutural, underground, videoarte, citando apenas alguns exemplos. Considera-se nesse vasto campo as obras realizadas em desacordo com as convenções do sistema industrial de produção e circulação e que constituíram um campo de maior autonomia estética e liberdade expressiva ante a hegemonia do domínio narrativo-representativo-industrial.
Caracterizam-se também pela conjugação da invenção formal e sentido utópico, seja pela dissolução da arte no social, pela transformação da vida cotidiana ou mesmo como ferramenta de ação política. É o caso do cinema engajado e militante, produções marcadas pelo trabalho de intervenção concreta em situações de conflito e que nas últimas décadas tem se tornado uma das principais vertentes do cinema experimental. Essa relação se aproxima da origem do termo vanguarda (do francês avant-garde). A princípio essa expressão pertence ao vocabulário militar. Nessa perspectiva, seria a primeira linha do exército em ordem de batalha. Seu uso simbólico data do início do século XIX, remetendo a setores de maior pioneirismo, consciência ou combatividade dentro de um determinado movimento social, científico ou artístico. Nesse última abordagem, se refere a rupturas de modelos preestabelecidos, defendendo formas de contestação ou que buscam novas fronteiras do experimentalismo estético. O ST busca com isso destacar as relações entre tendências vanguardistas e projetos políticos.
De modo geral as tendências do cinema experimental estiveram associadas a movimentações artísticas mais amplas e que adquiriram maior notoriedade nos campos modernistas das artes visuais. Esse é o caso do filme de artista, responsável por grande parte das obras criadas nos dias de hoje e nas últimas décadas. Essa é uma vertente de extrema relevância tanto no Brasil como em outros países. Tais obras foram fundamentais para levar o campo das imagens em movimento para o circuito da arte, em especial o espaço expositivo de museus, bienais e galerias. Isso vai de encontro com outros casos importantes, como projetos realizados em vídeo, computação gráfica e mídias audiovisuais interativas. Nesse sentido, o ST Cinema Experimental se abre a abordagens interdisciplinares, tais como história da arte, arte eletrônica e as ciências humanas em geral. O que importa nessa proposta é cotejar obras de diferentes ambientes em estudos imanentes e abordagens que permeiem variadas matizes, levando em consideração as potências do campo experimental no contexto nacional e internacional; histórico e contemporâneo. O debate estético é uma das principais linhas de análise nesse tipo de pesquisa acadêmica, mas não só. Como se tratam de áreas com inúmeras singularidades, também trazemos como eixos de discussão outras questões metodológicas. Torna-se necessário por exemplo uma abordagem histórica devido ao fato dessa produção não ter sido sequer recenseada sistematicamente em plano internacional, muito menos no caso brasileiro, onde poucas das obras tiveram alguma fortuna crítica ou discutidas de modo mais aprofundado. Também se mostra imprescindível a revisão acerca das teorias do cinema, trazendo agora a contribuição de realizadores, pesquisadores e curadores ligados a esfera do cinema experimental. Por fim, o ST preza pelo debate em torno das poéticas adotadas na criação das obras, isto é, o estudo dos princípios que lidam com a elaboração artística e seus efeitos estéticos.
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Coordenadores
- Lucas de Castro Murari
Leonardo Esteves
Patrícia Mourão de Andrade