Mulheres no cinema e audiovisual
Resumo
- Este seminário pretende reunir pesquisas relacionadas às mulheres e ao cinema e audiovisual no Brasil e no mundo, seja no cinema, na televisão, internet ou em confluência com as artes, em suas facetas ficcionais, documentais, ensaísticas ou experimentais. Cada vez verificam-se mais as lacunas deixadas pela história canônica do cinema, ao invisibilizar a participação feminina, o que firma a necessidade de se preencher os vazios deixados por ela. O propósito é criar um espaço de debate a fim de contribuir na construção dessa nova história que já começa a ser escrita, e avançar perguntas sobre as especificidades dos engajamentos múltiplos das mulheres com os universos virtuais das imagens. Aposta-se na relevância dessa área de pesquisa para a inovação dos estudos de cinema e audiovisual e dos espaços públicos no Brasil. Convocamos pesquisadorxs interessados na relação entre cinema e gênero e na sua interseção com outras dimensões, como raça, classe e sexualidade.
Resumo expandido
- Este seminário pretende abrigar trabalhos no campo do cinema e audiovisual focados nos diversos aspectos teóricos contemporâneos que envolvem a participação das mulheres em qualquer função dessa área (realização, técnica, crítica, pesquisa), enfatizando sua atuação no espaço público. O debate proposto se abre e se cruza com pesquisas sobre a corporalidade das mulheres como agentes narrativas ao longo da história, seja no cinema, na televisão, internet ou em confluência com as artes, em suas facetas ficcionais, documentais, ensaísticas ou experimentais. Esta proposta se coloca no vácuo que emerge da falta de espaços acadêmicos que buscam sistematizar a relação entre gênero, cinema e audiovisual, procurando estabelecer redes entre pesquisadorxs e, com isso, consolidar uma área de estudos que, ainda que construa diálogos com perspectivas eurocêntricas, demonstra uma potência que se instaura a partir do conhecimento produzido no Sul Global.
Pretende-se estimular o que Heloísa Buarque de Hollanda, pioneira na área, denominou “O estranho horizonte da crítica feminista no Brasil” (1991). Hollanda fala da dificuldade das mulheres, mesmo entre as intelectuais, artistas e políticas, em se auto identificarem como feministas e do anacronismo gerado pela associação do movimento feminista brasileiro com os partidos de esquerda e com o ramo progressista da Igreja católica no período da ditadura, que priorizaram a conquista da liberdade política e dos direitos civis, deixando em segundo plano reivindicações que baseavam-se diretamente nas questões das mulheres – liberdade sexual, aborto, divórcio, etc. Desde então, com avanços e recuos, em certas áreas do conhecimento, como a demografia, a antropologia, a sociologia e o direito, o conhecimento sobre a condição feminina se consolidou como campo peculiar, merecedor de certa atenção política e institucional.
A partir dos anos 1970, a crítica feminista de diferentes matizes – e com atenção a variados aspectos do universo das imagens em movimento – contribuiu para a diversificação e adensamento dos estudos de cinema e mídia em muitos países. Interpretações variadas se filiam a vertentes teóricas marxistas, psicanalíticas, estruturalistas e pós-estruturalistas. Em perspectiva interdisciplinar, interessa-nos indagar sobre as especificidades das participações femininas no cinema e sobre uma teoria do cinema decolonial e transnacional Quais epistemologias e metodologias são desafiadas e quais emergem quando desviamos das perspectivas já cristalizadas e que se ressentem de uma autocrítica quanto ao seu ponto de partida?
É inconteste a participação das mulheres – como realizadoras em diversas funções do audiovisual; como atrizes e estrelas que inscrevem sua corporalidade em telas de diversos formatos; como pesquisadoras acadêmicas e de mercado; e como críticas. Há também certos objetos audiovisuais classificados em seu momento de produção e circulação como femininos, em oposição a outros objetos, concebidos como masculinos. Pretende-se mapear e problematizar essas classificações com o intuito de entender os significados das imagens na vida contemporânea.
Estudos pioneiros abordaram a especificidade da exibição de corpos femininos no cinema industrial. Obras experimentais dirigidas, ou codirigidas por mulheres buscaram elaborar alternativas formais a essas narrativas. Pesquisas recentes no Brasil vêm recuperando personalidades femininas e dados históricos silenciados pela história canônica do cinema. O que esse rápido panorama demonstra é a necessidade de se preencher os vazios que a história do cinema deixou ao invisibilizar a participação feminina, e discutir em que medida a inclusão das mulheres modifica as matrizes de interpretação das relações entre as imagens e a vida; aprofundar os pressupostos dessa historiografia, os pontos de partida, os métodos; enfrentar recortes políticos extraídos da relação gênero/cinema; desenvolver teorias que partam de nossas próprias localizações.
Bibliografia
- AMADO, Ana; DOMINGUEZ, Nora. Lazos de Familia: Herencias, cuerpos, ficciones. Buenos Aires: Paidós, 2004.
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HAMBURGER, Esther. A expansão do feminino no espaço público. IN: Estudos feministas, 2007. P. 153-175.
HOLANDA, Karla; TEDESCO, Marina Cavalcanti (orgs). Feminino e Plural: mulheres no cinema brasileiro. Campinas, SP: Papirus, 2017.
HOLE, Kristin Lené; JELACA, Dijana; KAPLAN, E. Ann; PETRO, Patrice (orgs.). The Routledge Companion to Cinema and Gender. NY: Routledge, 2017.
MULVEY, Laura; ROGERS, Anna Backman (orgs). Feminisms: Diversity, Difference and Multiplicity in Contemporary Film Cultures. Amsterdam: Amsterdam Univ. Press, 2015.
RAMANATHAN, Geetha. Feminist Auteurs: Reading Women’s Films. Londres; NY: Wallflower, 2006.
RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala. Belo Horizonte: Letramento: Justificando, 2017.
Coordenadores
- Karla Holanda
Alessandra Soares Brandão
Esther Hamburger