Teoria dos Cineastas
Resumo
- O principal objetivo do Seminário Temático Teoria dos Cineastas é aproximar as teorias do cinema do pensamento dos realizadores que contribuíram para a compreensão quer de sua própria obra, quer do cinema como um todo. Pretendemos estimular a reflexão teórica que tenha como referência fundamental as fontes diretas, ou seja, os próprios filmes, as entrevistas, os livros ou os textos dos cineastas.
Além de aprofundarmo-nos nesse percurso, que é o cerne do ST, pretendemos direcionar especial atenção (em um novo biênio de pesquisas) aos métodos e processos possíveis da abordagem Teoria dos Cineastas.
Continuamos com a compreensão de que cineasta não é apenas o diretor, mas todos os componentes da equipe de realização que contribuem criativamente com a elaboração fílmica.
Estudar o cinema a partir dos cineastas, integrando as teorias do cinema com as formulações que eles elaboram, constitui-se como uma alternativa ao apoio que as teorias do cinema têm ido buscar em outras disciplinas.
Resumo expandido
- A Teoria dos Cineastas é uma abordagem que implica investigar tanto as obras artísticas dos cineastas quanto suas expressões verbais, procurando por formulações (ou indícios de formulações) que possam contribuir para as teorias do cinema. Não se trata de cartografar enunciados de realizadores e determinar que estes sejam enunciados teóricos, mas de constituir uma abordagem de pesquisa com premissas formalizadas e que auxilie na compreensão das formulações teóricas dos cineastas mesmo quando estejam dispersas, latentes ou parcamente elaboradas.
Os principais resultados desse processo até aqui, e que evidenciam o seu potencial de nucleação, estão na intensa participação de pesquisadores no ST no biênio 2016-17, na colaboração realizada junto ao GT Teoria dos Cineastas da AIM e na publicação conjunta de três livros. Ali constam artigos de mais de 30 autores diferentes, muitos deles com participação no ST Teoria dos Cineastas.
No primeiro biênio do ST exploramos o potencial dessa abordagem, amadurecendo suas premissas com a avaliação de pontos positivos e limitações. O objetivo para o próximo biênio é o de sistematizar o conjunto acumulado de métodos e pressupostos metodológicos. Nesse sentido, interessa-nos exacerbar o tensionamento entre obra artística e discurso dos cineastas, não em um sentido reducionista de verificação entre o que está exposto no filme e o que é formulado verbalmente, mas para evidenciar dispersões e deslocamentos. Interessa-nos também pensar a função do pesquisador na Teoria dos Cineastas, uma vez que este não deve ser visto apenas como um compilador de enunciados.
Neste sentido, como apontado desde o primeiro biênio do ST, está em jogo um modelo epistemológico que articule de modo mais consistente os métodos e processos de criação dos cineastas com os pressupostos teóricos que eles tenham formulado, explícita ou implicitamente.
O caminho mais evidente para uma Teoria dos Cineastas é examinar o pensamento daqueles que, lançando-se à “teoria exposta na forma verbal” (AUMONT, 2004), compuseram livros com seus escritos teóricos. Pensamos nos cineastas-teóricos do silencioso (Jean Epstein, Sergei Eisenstein etc.), nas reflexões em torno da montagem de Walter Murch ou em Paul Schrader, com seu ensaio sobre o “estilo transcendental”, ou ainda, nas poéticas cinematográficas de Robert Bresson, Raúl Ruiz, Michael Powell ou Eugène Green.
Um segundo caminho é abordar os textos de cineastas que atuaram como críticos. Alguns como Bertrand Tavernier e André Téchiné não chegaram a conceber uma obra teórica propriamente dita. Já outros, como Éric Rohmer, Jacques Rivette, Jean-Claude Biette e Rogério Sganzerla apresentaram em seus escritos uma ambição conceitual evidente.
Aos cineastas-teóricos e aos cineastas-críticos, acrescentamos os que tentaram sistematizar seu pensamento em textos curtos e esparsos, vez ou outra se aventurando em artigos de maior fôlego, como fizeram Hollis Frampton, Stan Brakhage e Michelangelo Antonioni.
Outro grupo é o dos cineastas que nunca chegaram a escrever sobre cinema, mas que, em entrevistas e/ou palestras, deixaram fragmentos de pensamento cujo fio conector pode ser inquirido, como Alfred Hitchcock e Eduardo Coutinho.
Um aspecto fundamental de nossas investigações é a identificação de enunciações estéticas nos próprios filmes de cineastas que conceberam seus dispositivos de encenação como atos de reflexão estética, expressando-se por imagens e sons. Como, notadamente, Hitchcock, Brian De Palma e Abbas Kiarostami, assim como os cineastas experimentais cujos filmes são, em essência, reflexões metacinematográficas (Kurt Kren, Michael Snow, David Rimmer, Ken Jacobs).
Interessam-nos também investigações sobre outras possibilidades de abordagem e/ou cineastas que mantenham o eixo central de contribuição, ou seja, cujo pensamento e obra sejam colocados em diálogo e venham arejar os conceitos e temáticas das teorias do cinema.
Bibliografia
- ARAUJO, Denize; BAGGIO, Eduardo; GRAÇA, André; PENAFRIA, Manuela (2017). Revisitar a teoria do cinema: Teoria dos Cineastas – Vol. 3. Covilhã: Labcom.IFP/UBI.
AUMONT, Jacques (1997). “Le cinéma comme acte de théorie: Notes sur l’œuvre de Kurt Kren”. in Revue Cinémathèque, n. 11, pp. 93-107.
________ (2008). “Pode um filme ser um ato de teoria?”. In Revista Educação e Realidade, nº 33 (1), jan/jun pp 21-34.
________ (2004). As Teorias dos Cineastas. São Paulo: Papirus Editora [2002].
DELEUZE, Gilles (1987). “Qu’est-ce que l’acte de création?”, conferência na FEMIS. Disponível em: http://www.lepeuplequimanque.org/acte-de-creation-gilles-deleuze.html.
BREDEKAMP, Horst (2015). Théorie de l’acte d’image. Paris: Éditions La Découverte.
STOICHITA, Victor I. (1999). L’instauration du tableau. Métapeinture à l’aube des temps modernes. Genebra: Droz.
VANCHERI, Luc (2002). Film, Forme, Théorie. Paris: L’Harmattan.
Coordenadores
- Eduardo Tulio Baggio
Marcelo Carvalho da Silva
Bruno Leites