Seminários Temáticos para o biênio 2017-2019

Cinemas pós-coloniais e periféricos

Resumo

    Nos últimos 4 anos, o ST “Cinemas em Português” abriu caminho para análises comparativas entre o cinema africano e o periférico, evidenciando “periferias e margens” como categoria analítica que nos reunia e que deveria ser assumida para além dos países de língua portuguesa. No biênio 2018-2019, pretendemos refletir sobre: 1) a produção marginal e periférica das cidades, a produção de artistas da diáspora, a produção comum de grupos minoritários, coletivos ou movimentos sociais; 2) a criação de redes de relevância internacional interculturais como projeto político e artístico capaz de gerar um debate acerca da assimétrica relação artístico-cultural entre os eixos norte-sul, centro-periferias; 3) a revisão crítica das formas e linguagens de imagens e representações hegemônicas e eurocêntricas pelos movimentos sociais, culturais e artísticos, que potencializaram o surgimento de artistas marginais ao mercado cinematográfico e da arte, impondo configurações outras do visível.

Resumo expandido

    Nos últimos 4 anos, o ST “Cinemas em Português” consolidou e ampliou uma rede de pesquisadores nos encontros anuais da SOCINE e da AIM, em Portugal. No biênio 2015-2017, a proposta “Cinemas em Português: aproximações e relações” abriu caminho para que o debate tomasse o rumo de análises comparativas entre o cinema africano e o cinema periférico em países mais, ou menos, desenvolvidos, despontando com força a presença das “periferias e margens” como a categoria analítica que nos reunia e que deveria ser assumida para além dos países de língua portuguesa. Baseados na sistematização dos debates, apresentamos, para o próximo biênio, esta proposta cujo foco é ampliar o escopo e avançar na direção que se apresentou como a mais fundamental: a da imagem como representação e (mais recentemente) como autoapresentação no cinema realizado nas margens e periferias do mundo.
    Um novo mundo contemporâneo emergiu, trazendo consigo novas dinâmicas de produção de subjetividade, reconfigurando e tensionando as formas de perpetuação estético-narrativa dos grupos que detém o capital cultural e o posto narrativo. Ao redor do mundo, surge uma cena artística independente e/ou periférica que lança luz sobre artistas produtores de imagens fora dos grandes centros urbanos, à margem das grandes metrópoles culturais e de origens sociais diversas. Esse movimento não apenas provocou intervenções no sistema de produção, circulação e distribuição de imagens, mas deu a ver um gesto político de desidentificação e, a partir daí, a experimentação de novas identidades, sexualidades e alteridades.

    Na Europa e Estados Unidos, esse movimento é acompanhado pelo surgimento de vozes até então silenciadas de grupos minoritários, geralmente imigrantes provenientes de ex-colônias como também dos movimentos sociais, cuja potência artística foi capaz de afirmar identidades e sensibilidades numa onda crescente de questionamento dos moldes imperiais e globais da vida contemporânea.
    Nos países africanos, nos quais a imagem foi usada como instrumento da dominação colonial, surge um cinema anticolonial e de denúncia, que segue expandindo em termos de gêneros e temas. Na América Latina, especialmente no Brasil, a representação dos lugares e culturas é assumida pelos próprios grupos. Despontam cineastas indígenas e surgem coletivos de cinema em favelas e periferias.

    Dentro deste panorama, queremos refletir e discutir quem são os realizadores, artistas e grupos que estão surgindo no cinema contemporâneo e nas artes visuais, impondo uma nova agenda para a produção de imagens em geral, capazes de discutir as formas de esquecimento no que diz respeito aos antigos e recentes modos de exclusão e de recolonização. Buscamos, sobretudo, conhecer imagens dos cinemas e das artes visuais que invertem o olhar e dão origem a configurações outras do visível.

    Interessa também a este seminário temático: 1) criação de redes de relevância internacional interculturais como projeto político e artístico capaz de gerar um debate acerca da assimétrica relação artístico-cultural entre os eixos norte-sul, centro-periferias; 2) a produção marginal e periférica das cidades, a produção de artistas da diáspora, a produção comum de grupos minoritários, coletivos ou movimentos sociais; 3) a revisão crítica das formas e linguagens de imagens e representações hegemônicas e eurocêntricas pelos movimentos sociais, culturais e artísticos, que potencializaram o surgimento de artistas marginais ao mercado cinematográfico e da arte, impondo imagens e representações outras.
    Queremos aproximar imagens capazes de dilatar nosso olhar para modos contemporâneos de produção da alteridade, esquemas de produção e distribuição cinematográfica alternativos e à margem da grande indústria, padrões inovadores de autoria e circulação de filmes coletivos, feitos por grupos ativistas, coletivos de mulheres, associações e movimentos sociais “minoritários” interessados em novas formas de produção de subjetividade e de afetos.

Bibliografia

    Achille, Mbembe. On the postcolony (studies on the history of society and culture). University of California Press, 2001
    Rancière, Jacques. A partilha do sensível. São Paulo: Editora 34, 2009.
    Rancière, Jacques. A Noite dos Proletários – Arquivos do Sonho Operário. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
    Zolberg, Vera & Cherbo, Joni. Outsider Art: Contesting Boundaries in Contemporary Culture. Cambridge, England and New York: Cambridge University Press, 1997.
    Vergès, Françoise. “To Cure and to Free: The Fanonian Project of ‘Decolonized Psychiatry’,” In Fanon: A Critical Reader, edited by Lewis R. Gordon, T. Denean Sharpley-Whiting, and Renée T. White, 85-99. Oxford: Blackwell, 1996
    Vergès, Françoise. “I Am Not the Slave of Slavery: The Politics of Reparation in (French) Postslavery Communities,” In Frantz Fanon. Critical Perspectives, edited by Anthony Alessandrini, 258-275. London: Routledge,1999

Coordenadores

    Liliane Leroux
    Michelle Cunha Sales
    Paulo Cunha