Audiovisual e América Latina: estudos estético-historiográficos comparados
Resumo
- O objetivo do Seminário Temático é discutir a produção audiovisual realizada na América Latina por meio de um viés comparativo de análise. Desse modo, pretendemos buscar novas direções de estudos e recortes, para além das tradicionais investigações sobre cinematografias nacionais. Nosso propósito é reunir pesquisadores em torno do audiovisual latino-americano, com o intuito de aprofundar e ampliar a reflexão sobre o tema e contribuir à revisão de sua historiografia. Assim, visamos estimular debates que inter-relacionem o audiovisual brasileiro àquele de outros países da região. Sublinhamos, porém, a não obrigatoriedade de análises comparativas que envolvam necessariamente o cinema brasileiro, uma vez que nos interessa colocar em jogo demais cinematografias com ênfase no referido recorte sócio-geográfico.
Resumo expandido
- O objetivo do Seminário é discutir a produção audiovisual realizada na América Latina por meio de um viés comparativo de análise. Notamos, desde já, que por “filmes latino-americanos” entendemos tanto produções específicas de determinados países do continente quanto experiências de coprodução. Nesse sentido, as comparações aqui propostas abrangem uma pluralidade de visões que tendem a extrapolar entendimentos sobre uma suposta estética, linguagem e mesmo identidade “latina”.
Uma de nossas orientações sobre método comparativo está na maneira de encontrar similaridades e diferenças entre culturas latino-americanas que escapem de uma representação normativa de “pátria grande”. Tal ferramenta já demonstrou de modo evidente a sua importância em áreas como as Ciências Sociais, História e Letras. Portanto, acreditamos que, embora pouco comum nos estudos de cinema e audiovisual, especialmente no âmbito latino-americano, a análise comparativa pode ser um procedimento frutífero e promissor para a nossa área.
Se, para o pesquisador Paulo Paranaguá, estudos de cinema da América Latina, sobretudo sua historiografia, são fortemente marcados por um viés nacional, perseguiremos abordagens que os ampliem e enriqueçam. Este e outros autores notam que o audiovisual em nosso subcontinente é caracterizado pela hegemonia da produção estrangeira, sobretudo estadunidense, e por isso a história de nossas cinematografias teria sido marcada como uma constante pugna contra o audiovisual estrangeiro.
Por outro lado, conforme assinala Jean-Claude Bernardet, ao propor estudos históricos especificamente para o cinema brasileiro, um bom entendimento sobre a história de tal cinematografia precisa necessariamente se defrontar com dois importantes agentes/instituições sociais: o Estado e o cinema estrangeiro hegemônico. Buscamos expandir essa perspectiva a todas as cinematografias latino-americanas. No entanto, para além da inter-relação com o cinema estrangeiro hegemônico, postulamos que estudar comparativamente tais cinematografias entre si é um importante caminho para nosso campo. Sustentamos que os estudos comparados podem inclusive lançar novas luzes para o entendimento de cada cinematografia em particular.
Portanto, a partir do referido método, enfatizamos as seguintes abordagens: 1) a análise comparada entre filmes hispano-americanos, destacando particularidades que ressaltam aspectos específicos ligados ao nacional que muitas vezes são trabalhados de forma menos evidente sob a ideia mais abrangente de “filme latino-americano”; 2) a análise comparada entre filmes hispano-americanos e filmes brasileiros, como forma de destacar uma leitura da cinematografia brasileira a partir de aproximações e afastamentos à produção subcontinental. Esta perspectiva possibilita iluminar aspectos históricos, econômicos e culturais da produção brasileira levando em conta uma experiência latino-americana tão negligenciada pela nossa construção identitária; 3) a análise entre filmes latino-americanos e outras cinematografias mundiais, dando ênfase a uma especificidade da produção de nosso subcontinente – em suas dimensões econômicas, sociais, políticas, culturais e no bojo dos aspectos de produção, narrativo, estético, de circulação, exibição, recepção.
Finalmente, destacamos que nossa proposta pretende, em um de seus aspectos, ressaltar uma dimensão latino-americana da produção brasileira como forma de discutir nossa própria dificuldade de percebermo-nos inseridos numa experiência subcontinental que, historicamente, afastou o Brasil de todo um processo histórico coletivo. Isso não significa, no entanto, que não reconheçamos as especificidades da historiografia cinematográfica brasileira (como de qualquer outra historiografia cinematográfica latino-americana).
Bibliografia
- BERNARDET, Jean-Claude. Cinema brasileiro: propostas para uma história. 2 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
CASTRO ROCALDE, Maricruz; McKEE IRWIN, Robert. El cine mexicano “se impone”: mercados internacionales y penetración cultural en la época dorada. Cidade do México: UNAM, 2011.
LUSNICH, Ana Laura; PEDRAS, Pablo; FLORES, Silvana (Org). Cine y revolución en América Latina: una perspectiva comparada de las cinematografías de la región. Buenos Aires: Imago Mundi, 2013.
LUSNICH, Ana Laura; AISEMBERG, Alicia; CUARTEROLO, Andrea (Org). Pantallas transnacionales: el cine argentino y mexicano del período clásico. Buenos Aires: Imago Mundi, 2017.
PARANAGUÁ, Paulo Antônio. Le cinéma en Amérique Latine: le miroir eclaté: historiographie et comparatisme. Paris: L’Harmattan, 2000.
________. Tradición y modernidad en el cine de América Latina. Madri: FCE, 2003.
SILVA, Denise Mota da. Vizinhos distantes: circulação cinematográfica no Mercosul. São Paulo: Annablume, 2007.
Coordenadores
- Eliska Altmann
Maurício de Bragança
Marcelo Vieira Prioste