Cinema como arte, e vice-versa
Resumo
- Objeto e Objetivos: O objetivo do Seminário é articular teoria e análise de determinados contextos culturais em torno das tecnologias de produção artística entendidas como dispositivos técnicos de inscrição e escritura. Deseja-se refletir sobre as fronteiras entre gêneros e as trocas inter-institucionais da produção de arte hoje, especialmente essa que envolve as artes visuais, as imagens fixas e as imagens em movimento. No ambiente cultural de dissolução dos gêneros em que reina uma produção artística marcada pela heterogeneidade dos meios e envolvida igualmente com dispositivos, materialidades, corpos, sujeitos e discursos, observam-se passagens e traduções, configuram-se lutas, imposições e coerções que atravessam (e são atravessadas por) diversas instituições, e condições materiais de vida e de produção. O recorte proposto neste Seminário comporta diferentes épocas e contextos artísticos, culturais e políticos. Abrange as diversas problemáticas em torno das relações entre arte e cinema, incluindo em especial o cinema de vanguarda, engajado ou experimental, a videoarte, o cinema expandido, o ativismo, o cinema de artista e a instalação.
Problemática: Nota-se na produção contemporânea um caso especial de reorganização, de deslocamentos e transferências entre as artes plásticas e o cinema que vão das questões e produção artísticas aos profissionais de ambas as instituições e modalidades de produção. Há formas insistentes, como “cinema de artista”, de inscrição dessa produção, à princípio inclassificável institucionalmente, em gêneros artísticos específicos. Tal insistência visa recolocar essa produção heterogênea em uma história da arte estigmatizada pela autonomia de um sistema homogêneo, como se refere Douglas Crimp, em On the museum’s ruins, à ficção museológica de representar a arte. A dificuldade parece estar em historicizar essa produção sob uma perspectiva diversa. O interesse institucional muitas vezes força, por via de fomentos, editais e festivais, o adestramento de certas imagens como a do filme e a do vídeo, de maneira que se tornem “artes plásticas” ou “cinema”.
Uma saída possível é a que propõem as abordagens inscritas em tradições multidisciplinares, pensando o objeto e o procedimento artístico, assim como sua dimensão estética, num quadro mais amplo das relações sociais e das ciências humanas. Podemos também, no campo limítrofe arte-cinema, lembrar trabalhos como os de Raymond Bellour, Jacques Aumont ou Philippe Dubois em torno de obras, questões e conceitos que implicam ou interseccionam as diferentes áreas. Ou de um Hans Belting, que em O fim da história da arte propõe uma história da imagem através de um olhar etnológico, e não do sistema homogêneo da arte, como uma inspeção da própria cultura. No mínimo é preciso pensar em uma história das artes realizando a circulação das imagens e dos media entre os artistas dessa prática contemporânea.
Justificativa: A constituição hoje do intenso trânsito de saberes e práticas artísticas exige novos conceitos artísticos, críticos e históricos, bem como novas práticas de exibição e novos modos de coleção. Exige antes de tudo uma crítica historiográfica e de uma prática de análises imanentes de obras artísticas e audiovisuais que dê conta desses acontecimentos. O fato em si não é novo haja vista a produção cinematográfica dos artistas plásticos das vanguardas e das neovanguardas. Mas as últimas décadas do século XX e início do XXI ampliaram esse fluxo de tal modo que fizeram surgir conceitos que tentam abarcar esse fenômeno, como “cinema expandido”, “cinema de museu” e outros. As instituições ainda se preparam para a exibição e para a compreensão dessa produção que exigem hoje não apenas o conhecido “cubo branco” das galerias e museus. A produção do pensamento crítico precisa se equipar do mesmo modo para não se enquadrar às necessidades institucionais.
Coordenadores
- Susana Dobal
Antonio Pacca Fatorelli
Rubens Luis Ribeiro Machado Júnior