Ciências Sociais e Cinema: metodologias e abordagens de uma pesquisa interdisciplinar
Resumo
- O objetivo deste seminário é discutir questões relativas simultaneamente às ciências sociais e ao cinema. Como analisar um filme a partir das categorias das ciências sociais? Quais metodologias possíveis para a análise fílmica a partir do escopo teórico das ciências sociais? As perguntas de partida indicam a centralidade do objeto artístico para pensar uma sociologia da arte ou uma antropologia da arte. Os estudos que relacionam ciências sociais e cinema no Brasil, no entanto, carecem de uma discussão mais aprofundada no que se refere aos alcances e aos limites dessa abordagem específica, bem como no que se refere a uma metodologia adequada para esse tipo de pesquisa. O desafio é refletir sobre o objeto fílmico percebendo como sua construção formal informa tanto os conceitos e as idéias defendidos por ele quanto o seu conteúdo expresso.
Recentemente os cientistas sociais têm se dedicado cada vez mais a pesquisas sobre as imagens, admitindo que elas são parte fundamental do mundo em que vivemos. Estudar a produção, a recepção e o sentido que adquirem as imagens na sociedade contemporânea é fundamental para que possamos entender seu funcionamento. Assim, imagem e contexto social se entrelaçam intimamente, estimulando os cientistas sociais a relacionarem estes dois elementos em suas pesquisas. O cinema e o audiovisual são, de maneira geral, temas privilegiados neste campo, já que perpassam o cotidiano de nossa existência social. É impensável conceber o mundo em que vivemos sem as imagens em movimento que nos atingem diariamente através da TV, do DVD, da internet e mais recentemente inclusive de nossos aparelhos celulares.
Tradicionalmente os cientistas sociais têm se mantido afastados da análise fílmica e concentrados nas análises do contexto social da produção e da recepção da imagem. Trata-se de uma abordagem legítima e que tem sua trajetória própria dentro das ciências sociais. Entendemos, no entanto, que também é possível e mesmo desejável que o cientista social procure desvendar valores, intuições, crenças e ideologias que a própria obra cinematográfica difunde e que muitas vezes não são redutíveis ao contexto social de sua produção.
Gostaríamos de refletir sobre uma metodologia de análise fílmica que ultrapasse as discussões que fogem do filme em direção aos conteúdos por ele sugeridos ou que restringem a análise a uma discussão técnico-discursiva. Alguns trabalhos pioneiros nos orientam nesse percurso. Pierre Sorlin, em seu “Sociologie du cinéma” (1977), se interessa por analisar os filmes a fim de compreender como as representações são construídas em uma determinada época e em um determinado espaço cultural. Para o autor, uma representação não é uma realidade observável, mas um conjunto teórico do qual apenas conheceremos certas manifestações exteriores. Na tela podemos encontrar imagens já aceitas pela sociedade, mas também novas imagens, novas formas de ver e representar, que podem e devem ser estudadas pelos cientistas sociais pois dizem respeito à construção social do imaginário. Em artigo recente, Jean-Pierre Esquenazi apresenta alguns elementos importantes para pensarmos uma sociologia do filme (revista “Cinémas” 17(2-3), 2007). O autor defende o diálogo da sociologia com a história da arte, a semiologia e os estudos de cinema para se empreender a análise fílmica. A abordagem interdisciplinar, tendo como centro de tensões o objeto fílmico, se apresenta como inspiração para o desenvolvimento das reflexões que queremos empreender.
O seminário em questão procura justamente incentivar a discussão sobre como empreender uma pesquisa sobre cinema e audiovisual nas ciências sociais e incentivar que os pesquisadores troquem experiências a respeito de como as ciências sociais podem intercambiar conhecimento e metodologias com os estudos de cinema.
Coordenadores
- Daniela Duarte Dumaresq
Marina Soler Jorge
Paulo Menezes