Seminários Temáticos para o biênio 2009-2011

Indústria e Recepção Cinematográfica e Audiovisual

Resumo

    Os estudos de cinema têm se caracterizado, desde sua consolidação a partir dos anos 1970, por um foco majoritário sobre o texto fílmico nas suas três áreas principais: teoria do cinema, análise fílmica e história do cinema. Com a re-historicização das artes e das humanidades a partir de fins da década de 1970, o campo gradativamente começa um processo de descoberta do extrafílmico. Isso se manifesta primeiramente na área da historiografia, na qual pesquisadores como Tino Balio (1985), Thomas Schatz (1989) e Douglas Gomery (1992) fundam as bases do que seria a contemporânea história econômica, tecnológica e sociocultural do cinema – a qual deixa, portanto, de ser exclusivamente uma “história dos filmes”. Pela mesma época, também a área da teoria do cinema, até então dominada pelo paradigma semio-psicanalítico de Baudry, Metz, Mulvey e Heath, passa a ser tensionada por movimentos contextualizantes, isto é, buscando incorporar os contextos de produção e recepção ao campo investigativo. Pressionada sobretudo pelos estudos culturalistas das audiências televisivas do CCCS de Birmingham, a teoria do cinema vêm pouco a pouco reconhecer, através do trabalho de autores como Janet Staiger (1992; 2000; 2006), Barbara Klinger (1994; 2006) e Graeme Turner (1988), entre outros, o fato da construção social e histórica dos sentidos fílmicos, no embate contextual entre os diversos agentes das esferas da indústria, autoria, crítica, pesquisa e público.
    Essa abertura ao extrafílmico e ao contextual possibilita, por um lado, a conformação da nova área dos estudos de recepção e exibição cinematográfica, fundada sobretudo no arsenal culturalista, mas que têm procurado, mais e mais, a integração entre aspectos socioculturais e econômicos do consumo cinematográfico, inclusive através do recurso a metodologias que fazem dialogar o qualitativo e o quantitativo. E por outro lado, o novo cenário também favoreceu a adoção da perspectiva da economia política nos estudos da produção e da exibição cinematográfica. Nesse contexto, as duas perspectivas – a culturalista (recepção, exibição) e a da economia política (produção, distribuição, exibição) – vêm recentemente ensaiando um profícuo diálogo, integradas pela baliza do extrafílmico e pela idéia de que o consumo cinematográfico possui significados tanto econômicos quanto socioculturais.
    No Brasil, porém, observa-se um foco ainda predominantemente textual na pesquisa em cinema, o qual é reflexo da ausência de um marco teórico-metodológico localmente sedimentado para orientar e aglutinar a investigação nas áreas da indústria, da exibição e da recepção cinematográficas, bem como da inexistência de espaços institucionalizados de ensino e pesquisa nessas áreas (disciplinas curriculares, professores e orientadores, grupos de pesquisa, fóruns de debate etc.). Ainda assim, é visível o interesse que tais áreas de estudo vêm despertando em pesquisadores brasileiros. Além disso, percebe-se no seio da própria SOCINE uma forte tendência de diálogo entre os investigadores dedicados às dimensões econômica e sociocultural da produção, exibição e recepção – bastando ver o sucesso e produtividade do presente Seminário no Encontro de Brasília.
    Assim, o seminário temático “Indústria e recepção cinematográfica e audiovisual” propõe-se a oferecer um espaço efetivamente institucionalizado com vistas à promoção da pesquisa nas áreas de produção, distribuição, exibição e recepção, facilitando o encontro, debate e integração dos estudiosos dessas diferentes áreas. Pretende, assim, contribuir para o desenho de um panorama crítico tanto das questões econômicas, políticas e sociais envolvidas nos diversos elos da cadeia cinematográfica e audiovisual, quanto dos sentidos construídos socialmente para os filmes e outros produtos audiovisuais através de seu consumo, uso e interpretação por público e crítica – partindo sempre do pressuposto de que questões textuais, políticas, econômicas, culturais e sociais são interdependentes.

Coordenadores

    Fernando Mascarello
    Alessandra Meleiro
    André Piero Gatti