Seminários Temáticos para o biênio 2015-2017

Interseções Cinema e Arte

Resumo

    O Seminário pretende refletir sobre deslocamentos, passagens e contaminações entre as multiplicidades do cinema e das artes em um panorama de agenciamentos históricos, políticos, estéticos e tecnológicos. O objetivo é construir um conjunto de saberes e formas de abordagem da produção audiovisual que permita acionar processos de compreensão e análise das múltiplas manifestações do audiovisual e suas interseções com o campo da arte. A ideia é fomentar reflexões, análises e diálogos em torno dos atravessamentos entre o domínio da imagem em movimento e a arte, assumindo a chamada condição pós-mídia (Rosalind Krauss) na qual os suportes, apesar de importantes pelas materialidades e especificidades, não definem um campo de ação, tampouco gêneros ou formatos. Aqui as questões se constroem pela interseção de práticas ampliadas de um campo historicamente já expandido, fortemente inserido nas dinâmicas da vida social e assimilado pelos poderes institucionais nos sistemas da arte e do cinema.

Resumo expandido

    Nos últimos seis anos o Seminário Temático “Cinema como arte e vice versa” constituiu um espaço para o desenvolvimento de abordagens e formulações nas passagens entre o cinema e as artes. Ao longo desses anos o diálogo e a troca favoreceu certas sedimentações de conceitos e propostas que demonstraram nitidamente um avanço nas construções conceituais e nas aproximações com diversos objetos típicos do audiovisual – como o cinema (em suas modulações mais tradicionais e experimentais), as instalações audiovisuais, projeções, live images, expressões do experimentalismo do vídeo e os desdobramentos do audiovisual em rede – que tangenciam o domínio da arte e suas questões.

    Nas edições do Seminário tivemos boas apresentações e um público que se engajou em profícuos debates. Com isso, percebemos que, ao longo do tempo, foi sendo construído um repertório que desenhou um expressivo conjunto de linhas de reflexão. Certos eixos teóricos com autores, conceitos e obras passaram a integrar um repertório comum e compartilhado pelos integrantes que em cada edição, por um lado se consolidava como uma base, e de outro ampliava e se abria para novas incorporações. Por isso, depois de seis anos gostaríamos de rearticular e avançar nas abordagens indo adiante em novo seminário temático que amplie as formas de abordagem da relação entre arte e cinema em patamares mais contemporâneos dando novo impulso às reflexões.

    Percebemos que na produção audiovisual atual não se trata mais de um circuito de imagens e algumas margens, falamos da expressiva centralidade de um processo dinâmico de interseções entre arte e cinema, que rompe fronteiras, num movimento de constante desestabilização, fazendo da imagem em movimento uma matéria maleável para as mais diversas propostas artísticas. Artistas como Yang Fudong, Tacita Dean, Amar Kanwar, Rivane Neuenschwander, Fiona Tan, Allora & Calzadilla, Candice Breitz, Douglas Gordon, Phillipe Parreno, Detanico & Lain e Christian Marclay, entre outros, assumem a imagem em movimento como matéria prima para a produção de obras que tensionam ao máximo os limites e permeabilidades entre o cubo branco das galerias e museus e a caixa preta do cinema. Ao mesmo tempo muitos cineastas e realizadores como Greenaway, Lars Von Trier, Carlos Adriano, Godard, Cao Guimarães e Karin Ainouz, entre muitos outros, absorvem procedimentos típicos do domínio da arte esgarçando as narrativas e trazendo as constelações de procedimentos e estratégias típicas da arte para as obras audiovisuais dando nova voltagem ao audiovisual.

    Se tomarmos os inventivos procedimentos das obras de Hélio Oiticica e Neville D´Almeida como a “Cosmococa – programa in progress” (1973) vamos perceber uma tradição nas interseções entre arte e cinema que precisamos assimilar como ponto de partida para avançarmos nas reflexões. Assumindo o legado inaugurado por esses artistas, as questões aqui se constroem pela interseção de práticas ampliadas de um campo historicamente já expandido, fortemente inserido nas dinâmicas da vida social e assimilado pelos poderes institucionais nos sistemas da arte e do cinema.

    Nesse contexto, o Seminário pretende refletir sobre deslocamentos e contaminações entre as multiplicidades do cinema e das artes em um panorama de agenciamentos históricos, políticos, estéticos e tecnológicos. O objetivo é construir um conjunto de saberes e formas de abordagem da produção audiovisual que permita acionar processos de compreensão e análise das muitas manifestações do audiovisual e suas interseções com o campo da arte.

Bibliografia

    BALSOM, Erika. Exhibiting cinema in contemporary art. Amsterdam University Press, Amsterdam, 2013.

    FERREIRA, Glória e COTRIM, Cecília (orgs.). Escritos de Artistas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, 2006.

    FOSTER, Hal. O retorno do real. São Paulo: Cosac Naify, 2014.

    GROYS, Boris. Art Power. Cambridge: MIT Press, 2008.

    LEIGHTON, Tanya (org.). Art and moving image – a critical reader. Londres: Tate Publishing, 2008.

    MACIEL, Kátia (org.). Cinema sim: narrativas e projeções: ensaios e reflexões. São Paulo: Itaú Cultural, 2008.

    MICHAUD, Philippe-Alain. Filme: por uma teoria expandida do cinema. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014.

    STILES, Kristine e SELZ, Peter. Theories and documents of Contemporary art – a sourcebook of artists writings. Los Angeles: University of California Press, 1996.

    UROSKIE, Andrew. Between the black box and the white cube – expanded cinema and postwar art. The university of Chicago Press, Chicago: 2014.

Coordenadores

    Eduardo Antonio de Jesus
    NINA VELASCO E CRUZ
    osmar gonçalves dos reis filho