Seminários Temáticos para o biênio 2015-2017

Cinema e literatura, palavra e imagem

Resumo

    O seminário propõe reunir pesquisadores que se interessem por modalidades diversas de articulação da palavra (literária ou não) com a imagem em movimento – não apenas no cinema de ficção, mas também no documentário, no filme-ensaio e em manifestações como videoarte, videoinstalação, videopoesia, cinemas de vanguarda etc. Com o intuito de mapear autores, quadros conceituais e metodologias, pretende-se criar parcerias e consolidar um campo de pesquisa que apresenta, com a virada intermedial e transdisciplinar, novos direcionamentos de análise e reflexão. Neste sentido, podem contribuir para o debate pesquisas oriundas de áreas diversas como audiovisual, artes plásticas, literatura, estudos discursivos e estudos midiáticos.

Resumo expandido

    Com a virada intermedial e transdisciplinar, o campo de pesquisa voltado para as relações entre o visual e o verbal, que por muito tempo se restringiu ao comparatismo entre cinema e literatura, amplia-se e atualiza-se, ganhando novos direcionamentos de análise e reflexão. O objetivo deste seminário é mapear autores, quadros conceituais e metodologias que auxiliem na construção de novas abordagens acerca da articulação entre a palavra e a imagem. Pretende-se criar parcerias e enriquecer o debate a partir de contribuições de áreas diversas como audiovisual, artes plásticas, literatura, estudos discursivos e estudos midiáticos.

    Grande parte dos trabalhos sobre a relação entre cinema e literatura passa pela aproximação dos filmes aos romances, a qual se dá em função do caráter predominantemente narrativo de ambos. Buscamos abordagens do encontro entre o cinema e a literatura que, para além dos limites narrativos de um filme ou livro, orientem-se a partir de novas perspectivas, norteadas por conceitos que atravessam as artes, como os de materialidade, virtualidade, ambiência, presença, memória, fabulação, autoficção, dentre tantos outros. Neste sentido, uma discussão orientada pela dissolução das fronteiras entre o pares real e ficcional, experiência e performance, contribuiria para a reflexão sobre como a atual fusão entre as mídias embaralha, por meio de usos particulares de imagens e palavras, nossas crenças do que é realidade e invenção.

    É característico de uma virada subjetiva nas artes em geral, e no cinema e na literatura de forma contundente, o uso do narrador em primeira pessoa. Neste momento histórico marcado pela inflação do teor confessional-testemunhal da cultura, em que práticas confessionais são como que banalizadas, a presença autobiográfica do cineasta nos próprios filmes pode vir a consolidar novas formas de enunciação, entre os âmbitos privado e político, reatualizando os debates sobre mediação e autoria. Gêneros ou modos do discurso, como o ensaio e o documentário performativo, são constantes escolhas formais do cinema contemporâneo, marcado pelas presenças do testemunho e da autoficção.

    O seminário se interessa igualmente pelas afinidades do cinema com a poesia. Embora tenham sido apontadas desde a década de 1920 (no plano teórico, com os formalistas russos, e no cinema de vanguarda), essas afinidades foram, de modo geral, relegadas a um segundo plano. No contexto contemporâneo, entretanto, novas relações se delineiam. A distinção entre um cinema de prosa e um cinema de poesia ganha novos contornos com a chegada da videoarte. Pensando os gêneros artísticos de acordo com o uso que fazem de sua linguagem (prevalência dos procedimentos técnico-formais, no caso da poesia, e dos procedimentos narrativos e semânticos, no caso da prosa), é possível, como defendem alguns autores, transcender a questão do meio (a imagem ou a palavra) e do suporte (a película e a página) para alinhar, de um lado, a videoarte e o poema, e, de outro, o cinema narrativo e a prosa de ficção.

    Trata-se, portanto, de compreender as modalidades de articulação entre o audiovisual e o verbal, em um contexto contemporâneo fortemente marcado pelo cruzamento ou indistinção das fronteiras artísticas. Visando produzir reflexões sobre tal relação em uma dimensão ampliada, que também leve em conta produções híbridas e articulações outras, alguns dos eixos de pesquisa que pretendemos abordar são: a) relações entre o audiovisual e a literatura, da perspectiva da intermedialidade, dos estudos culturais, da literatura comparada, dos estudos de mídia, dentre outros; b) revisão de conceitos como os de narrativa, autobiografia, autoficção, autoria, dentre outros; c) relações entre o verbal e o visual em manifestações como videopoesia, videoarte, videoinstalação e nos cinemas de vanguarda. Propostas não contempladas por estes itens, mas que apresentem discussões concernentes ao tema do seminário, serão bem-vindas.

Bibliografia

    ARFUCH, L. O espaço biográfico. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2010.
    DINIZ, T. (Org.). Intermidialidades e estudos interartes. Belo Horizonte: UFMG, 2012.
    FOUCAULT, M. Estética: Literatura e pintura, música e cinema. Coleção Ditos & Escritos III. Rio de Janeiro: Forense universitária, 2001.
    ISER, W. O fictício e o imaginário. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2013.
    KLINGER, D. Escritas de si, escritas do outro. Rio de janeiro: 7Letras, 2007.
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    MARTELO, R. O cinema da poesia. Lisboa: Documenta, 2012.
    MULLER, A. Linhas imaginárias: poesia, cinema, mídia. Porto Alegre: Sulina, 2012.
    RANCIÈRE, J. O destino das imagens. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.
    REZENDE, R; MACIEL, K. Poesia e videoarte. Rio de Janeiro: Circuito; Funarte, 2013.
    SARLO, B. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo: Cia das Letras, 2007.
    STAM, R. A literatura através do cinema. Belo Horizonte: UFMG, 2008.

Coordenadores

    Ilana Feldman
    Julia Scamparini
    Carla Miguelote