Seminários Temáticos para o biênio 2015-2017

Teoria dos Cineastas

Resumo

    O principal objetivo do Seminário Temático Teoria dos Cineastas é aproximar a teoria do cinema da reflexão dos próprios cineastas no seu contributo para abordarem e compreenderem quer a sua própria obra, quer o cinema. Pretendemos estimular a reflexão teórica que tenha como referência fundamental e principal, fontes diretas, ou seja, os próprios filmes, as entrevistas, os livros ou textos dos cineastas.
    Entendemos que o conceito de cineasta abrange não apenas o diretor, como todos os que contribuem para a criação cinematográfica: atores, roteiristas, montadores, diretores de fotografia, etc.
    Estudar o cinema a partir dos cineastas e integrar a teoria do cinema com a teoria que alguns cineastas elaboram é uma alternativa ao apoio que a teoria do cinema tem ido buscar a outras disciplinas como a História, a Sociologia, a Psicanálise ou a Teoria Cognitiva. Pretendemos estimular e testar a potencialidade e originalidade que o estudo teórico sobre o cinema pode receber dos cineastas.

Resumo expandido

    Para compreendermos como a teoria do cinema pode se beneficiar da teoria dos cineastas, é preciso definir as diferentes formas pelas quais os que trabalham na praxis cinematográfica se fazem potencialmente enunciadores de uma teoria. Longe de se pretender uma cartografia exaustiva onde se deve buscar a teoria dos cineastas, pretendemos apontar diferentes possibilidades de abordagem para a investigação de tal teoria.
    Está em jogo, entre outras coisas, um modelo epistemológico que possa articular os métodos e processos de criação dos cineastas com os pressupostos teóricos que eles tenham formulado. O objetivo não é analisar as obras dos cineastas à luz das declarações teóricas feitas por eles. Muitas investigações sobre a teoria dos cineastas, em especial aquelas voltadas a diretores ciosos de princípios e métodos rigorosos (Bresson, Tarkovski, Straub/Huillet), acabam se limitando a uma verificação de como o diretor cumpre, na prática, o credo estilístico que defende. Nosso intuito é outro. Interessam-nos tanto a teoria escrita ou falada quanto a teoria em ato criativo, mas sem necessariamente cobrar coerência entre ambas.
    O caminho mais direto para acessar as teorias dos cineastas é examinar o pensamento daqueles que, lançando-se à “teoria exposta na forma verbal” (AUMONT, 2004), compuseram livros volumosos com seus escritos teóricos, como os primeiros grandes cineastas-teóricos da era do silencioso (Jean Epstein, Sergei Eisenstein), as conhecidas reflexões de Walter Murch em torno da montagem ou o ensaio ambicioso de Paul Schrader sobre o “estilo transcendental” – sem esquecer as poéticas cinematográficas escritas por Bresson, Raúl Ruiz, Michael Powell, Eugène Green.
    Um segundo caminho é abordar os textos de cineastas que atuaram como críticos. Alguns (Bertrand Tavernier, André Téchiné), a despeito da excelente qualidade do que escreviam, não chegaram a conceber uma obra teórica propriamente dita. Já outros, como Éric Rohmer, Jacques Rivette, Jean-Claude Biette e Rogério Sganzerla, apresentaram em seus escritos uma ambição conceitual evidente, produzindo textos que começavam onde o anterior havia parado, revisitando certas ideias obsessivamente, sinalizando que havia um verdadeiro sistema teórico a construir.
    Aos cineastas-críticos e aos que escreveram livros, acrescentamos os que tentaram sistematizar seu pensamento em textos curtos e esparsos, vez ou outra se aventurando em artigos de maior fôlego, como fizeram Hollis Frampton, Stan Brakhage e Michelangelo Antonioni.
    Um outro grupo é o dos cineastas que nunca chegaram a escrever sobre cinema, mas que, nas entrevistas e/ou palestras que concederam, deixaram fragmentos de pensamento cujo fio conector pode ser perseguido, como os casos de Alfred Hitchcock e Eduardo Coutinho.
    Ainda, um aspecto fundamental de nossas investigações é a possibilidade de teorias artísticas nas obras fílmicas dos cineastas. Em alguns casos, cineastas conceberam seus dispositivos de encenação como atos de reflexão teórica, reflexões estéticas que não se expressam na linguagem verbal, mas nas próprias imagens e sons, os quais se dispõem como “formas pensantes”, respostas dadas através de signos icônicos a problemas que são de ordem não só dramatúrgico-ficcional como também teórico-conceitual.
    Muitos diretores expuseram suas teorias sobre o cinema na forma menos de escritos conceituais do que de ideias audiovisuais, notadamente Hitchcock, Brian De Palma e Abbas Kiarostami, assim como os cineastas experimentais cujos filmes são, em essência, reflexões metacinematográficas (Kurt Kren, Michael Snow, David Rimmer, Ken Jacobs).
    Nos interessam também investigações sobre outras possibilidades de abordagem e/ou vários outros cineastas, mas que mantenham o eixo central de contribuição, ou seja, cujo pensamento e obra seja colocada em diálogo e venha refrescar os conceitos e temáticas da teoria do cinema.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques (1997), “Le cinéma comme acte de théorie: Notes sur l’oeuvre de Kurt Kren”, in Revue Cinémathèque, n. 11, pp. 93-107.
    ________ (2008), “Pode um filme ser um ato de teoria?”, in Revista Educação e Realidade, nº 33 (1), jan/jun pp 21-34.
    ________ (2004), As Teorias dos Cineastas, São Paulo: Papirus Editora [2002].
    DELUZE, Gilles (1987), “Qu’est-ce que l’acte de création?”, conferência na FEMIS. Disponível em:http://www.lepeuplequimanque.org/acte-de-creation-gilles-deleuze.html (versão escrita) e em:https://www.youtube.com/watch?v=a_hifamdISs (versão vídeo legendado em inglês)
    BREDEKAMP, Horst (2015), Théorie de l’acte d’image, Paris: Éditions La Découverte.
    STOICHITA, Victor I. (1999), L’instauration du tableau. Métapeinture à l’aube des temps modernes, Genebra: Droz.
    VANCHERI, Luc (2002), Film, Forme, Théorie, Paris: L’Harmattan.

Coordenadores

    Eduardo Tulio Baggio
    Luiz Carlos Oliveira Junior
    Manuela Penafria