Seminários Temáticos para o biênio 2015-2017

Cinema Queer e Feminista

Resumo

    Se, por um lado, parte da teoria do cinema reconhece a cumplicidade do cinema com a normatização do desejo e a objetificação da mulher, por outro lado, são os próprios filmes que sugerem novas formas de articular representação, desejo e materialidade fílmica. Abre-se, assim, um espaço para a produção audiovisual e crítica dissensual que busca por em cheque a hetero e a homonormatividade e as visões vitimizantes e despotencializadoras das mulheres e sujeitos queer. O Seminário Temático Cinemas Queer e Feministas procura criar um espaço de debate e provocação, de promoção e apoio aos estudos históricos, teóricos e críticos que dão conta das problemáticas queer e feminista.

Resumo expandido

    Vemos, nos últimos anos, um crescente interesse de pesquisas brasileiras em questões relacionadas ao desejo, à sexualidade e ao gênero no cinema. Esta proposta de Seminário Temático procura criar um espaço de debate e provocação, de promoção e apoio aos estudos históricos, teóricos e críticos que dão conta das problemáticas queer e feminista. Se, por um lado, parte da teoria do cinema reconhece a cumplicidade do cinema com a normatização do desejo e a objetificação da mulher, por outro lado, são os próprios filmes que sugerem novas formas de articular representação, desejo e materialidade fílmica. Abre-se, assim, um espaço para a produção audiovisual e crítica dissensual que busca por em cheque a hetero e a homonormatividade e as visões vitimizantes e despotencializadoras das mulheres e sujeitos queer.
    Jane Pilcher e Imelda Whelehan chamam a atenção para a relevância de abordagens queer que desafiam e interrogam os privilégios da heteronormatividade e que questionam noções dominantes de “normalidade”. As autoras lembram, ainda, que a adoção do termo queer sugere o borramento das fronteiras entre as sexualidades hetero e gay e valida sujeitos que, no passado, seriam considerados – de maneira perjorativa – “marginais” (2004, p. 129). Ao trazer à tona questões de sexualidade, desejo e prazer (e como esses participam na construção dos sujeitos), os estudos queer desafiam as políticas das identidades tradicionais e propõem a recusa de categorias fixas. Interessa, aqui, pois, o que há de desvio, de negação, de resistência e de produção de alternativas às normas sociais; pois o queer não apenas rejeita a normatividade mas faz da sua rejeição um projeto para o novo. Como bem lembra Judith Butler,
    If the term “queer” is to be a site of collective contestation, the point of departure for a set of historical reflections and futural imaginings, it will have to remain that which is, in the present, never fully owned, but always and only redeployed, twisted, queered from a prior usage and in the direction of urgent and expanding political purposes’ (1993, p. 19)
    O cinema tem papel importante na produção e disseminação de narrativas e imagens queer e, consequentemente, na circulação de projetos anti-hegemônicos, da mesma forma que o cinema feminista. Estudiosas como Alison Butler e Claire Johnston procuram entender o cinema feito por mulheres como um “contra-cinema”, um “cinema menor” que existe dentro de outros cinemas. O mesmo poderia ser dito pelo cinema produzido por homens gays, por transexuais e outras minorias, que quase sempre são vistas, numa perspectiva dominante, como alegorias de si. A idéia de “cinema menor” pode ser comparada à discussão proposta por Gilles Deleuze e Félix Guattari a propósito de uma “literatura menor”, que, para Butler “is not like a literary genre or period, nor is classification as minor an artistic evaluation (…). A minor literature is the literature of a minority or marginalized group, written, not in a minor language, but in a major one” (19). O “cinema menor” feito por mulheres, por exemplo, ajuda a revelar a condição “desterritorializada” deste grupo social que produz não apenas uma estética “contra”, mas apresenta-se como força contestadora que emprega estratégias de apropriação, re-escrita e re-visão dos cinemas hegemônicos. Por isso Butler comenta que “women’s cinema is not at home in any of the host cinematic or national discourses it inhabits, but […] it is always an inflected mode, incorporating, re-working and contesting the conventions of established traditions”.
    Assim, interessa ao ST QUEEF discussões sobre:
    Histórias queer e feministas do/no cinema; Políticas de resistência queer e feminista; Perspectivas críticas contemporâneas e suas intersecções com o cinema queer e feminista: ecocrítica e o antropoceno no cinema; questões raciais e de classe; Cinema popular queer e feminista; Autoria no cinema queer e feminista; Teoria queer e feminista do cinema; Pornografias queer e feminista

Bibliografia

    BUTLER,Alison. Women’s Cinema: The Contested Screen. Londres: Wallflower, 2002.
    DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Felix. Kafka. Minneapolis e Oxford: University of Minnesota Press, 1986.
    KAPLAN, E. Ann. A mulher e o cinema: os dois lados da câmera. Rio de Janeiro: Rocco, 1995.
    MAYNE, Judith. The Woman at the Keyhole: Feminism and Women’s Cinema. Bloomington: Indiana University Press, 1990.
    BUTLER, Judith. Critically Queer. GLQ: A Journal of Lesbian and Gay Studies 1(1): 17–32, 1993.
    PILCHER, Jane Pilcher; WHELEHAN, Imelda. 50 key concepts in gender studies. Londres: SAGE, 2004.
    GARCIA, Wilton. Introdução ao cinema queer no Brasil: anotações. In: MACHADO Jr, Rubens; SOARES, Rosana; ARAÚJO, Luciana. VII Estudos de cinema e audiovisual. São Paulo: Socine, 2006. 457-466.
    DE LAURETIS, Teresa. Queer texts, bad habits, and the issue of a futue. GLQ: a journal of lesbian and gay studies. 17 (2-3): 242-263, 2011.

Coordenadores

    Ramayana Lira de Sousa
    Mauricio Reinaldo Gonçalves
    José Gatti