Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Ernesto de Carvalho (NYU)

Minicurrículo

    Ernesto de Carvalho é realizador de filmes e antropólogo. Participa do projeto Vídeo nas Aldeias há 10 anos, onde tem estimulado a produção e formação de realizadoras e realizadores indígenas. Atualmente conclui seu Doutorado em Antropologia pela NYU – New York University. Também autuou intensamente na produção audiovisual do Movimento Ocupe Estelita, do Recife. É co-diretor de Martírio, ao lado de Vincent Carelli e Tita, além de outros filmes dentro da produção do Vídeo nas Aldeias.

Ficha do Trabalho

Título

    A aldeia das imagens

Seminário

    O comum e o cinema

Resumo

    O trabalho busca um caminho para pensar um cinema que não separe o que está nas imagens do que se faz com elas. Colocando lado a lado a experiência em oficinas e produção de filmes em aldeias indígenas dentro do contexto do Vídeo nas Aldeias, a emergência de um cinema engajado por parte de movimentos sociais urbanos, e intenções de comentário político dentro de vertentes do cinema “comercial”, encontramos um percurso de pressuposições acerca das relações entre a política e a sua representação.

Resumo expandido

    A aldeia das imagens

    Cena 1: Durante as exibições, em salas de shopping centers, de “Que horas ela volta”, nos momentos em que o filme pareceria querer provocar uma espécie de constrangimento, na forma de um comentário acerca do Brasil contemporâneo e suas transformações sociais, pessoas da alta classe média riam. Riam da cara da protagonista.

    Pergunta 1: O que está na tela basta? Será que faz sentido pensar o cinema hoje sem que ele esteja acompanhado de debate? Existe possibilidade de intencionalidade no cinema descolada de vida social?

    Cena 2: Um filme realizado em uma oficina de vídeo em uma comunidade Mbyá-Guarani é exibido em um festival de cinema. Logo em seguida um debate insiste sobre a questão do “ponto de vista nativo”. Um investigador insiste que na imagem se revela uma ontologia própria.

    Pergunta 2: O que ocorre com a recepção do cinema indígena? Quais os riscos no processo de reconstrução e agenciamento desse objeto artístico?

    Cena 3: Um movimento social produz uma série de vídeos para discutir o processo de gentrificação e transformação urbana provocada a partir de interesses privados. Os vídeos utilizam as ferramentas e procedimentos do documentário. Quando assistidos por pessoas que concordam com a gentrificação, eles não parecem críticos.

    Pergunta 3: Como provocar posicionamento dentro do documentário mantendo a atitude de uma pedagogia emancipatória?

    Cena 4: Produções americanas de grande orçamento retratam aspectos criminosos do governo Estado-Unidense. Em uma cena de Sicário (2015) de Denis Villeneuve, a CIA atravessa a fronteira com o México intervindo diretamente na guerra entre os cartéis.

    Pergunta 4: O que exatamente essa aparente transgressão produz no mundo. Se ela não produz nada, como é exatamente que ela não produz nada?

    ***

    Uma certa pedagogia da dissociação tem fundamentado a ideia de um cinema descolado de seu contexto social, de sua circulação, de sua apropriação, de sua vida. A aldeia das imagens pretende criar itinerários de situações na tela e fora da tela para recusar de diversas formas essa ideia de cinema, e indagar o que sobra.

Bibliografia

    FROGER, MARION, Le cinéma à l’épreuve de la communauté (2010)
    RANCIERE, JACQUES, O espectador emancipado (2009)
    BRASIL, ANDRE, “DESMANCHAR O CINEMA: VARIAÇÕES DO FORA-DE-CAMPO EM FILMES INDÍGENA” (2016)