Ficha do Proponente
Proponente
- Valéria Fabri Carneiro Marques (UFJF)
Minicurrículo
- Mestranda em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) na linha de pesquisa “Cultura, Narrativas e Produção de Sentidos”. Concluiu a graduação em Comunicação Social, habilitação Jornalismo em 2017, pela UFJF. Realizou intercâmbio para a Universidade de Belas-Artes de Lisboa. É integrante do grupo de pesquisa Comunicação, Cidade e Memória – COMCIME. Atualmente, pesquisa a construção de identidades e sociabilidades construídas pelos cinemas de rua.
Ficha do Trabalho
Título
- A memória da cidade na websérie “Cinema de Rua em Juiz de Fora”
Resumo
- Os chamados cinemas de rua, salas exibidoras com as portas abertas para as vias públicas, constituíram-se como uma forma sigular de experiência da cidade. O ritual de ir ao cinema motivou a criação de laços de sociabilidade e de um imaginário urbano intrinsecamente ligado à experimentação fílmica. Esta pesquisa trabalha com a atualização da memória audiovisual da cidade promovida pela websérie “Cinema de Rua em Juiz de Fora”, construída através de imagens de arquivo e depoimentos.
Resumo expandido
- INTRODUÇÃO
Os cinemas de rua funcionaram na modernidade como importantes geradores de laços sociais e como articuladores de sociabilidades diversas. Nas cidades em que esta atividade floresceu, como foi o caso de Juiz de Fora (cidade da Zona da Mata mineira), os cinemas influenciaram de forma muito intensa os processos de criação de identidades locais. O estudo deste fenômeno pode, assim, auxiliar a compreender as produções de memórias mobilizadas pelas salas de cinema.
No intuito de recuperar um pouco da rica memória audiovisual juizforana o grupo de pesquisa Comunicação, Cidade e Memória da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) tem produzido a websérie Cinemas de Rua em Juiz de Fora. Esta série de pequenos episódios audiovisuais para web trabalha com relatos pessoas que vivenciaram não só o período áureo da atividade exibidora na cidade em tentativa de reconstruir os trajetos imaginários dos frequentadores desses cinemas e as formas de sociabilidades construídas em torno da exibição audiovisual.
DESENVOLVIMENTO
A memória é mais do que o simples ato de recordar, seus conceitos “Revelam os fundamentos da existência, fazendo com que a experiência existencial, através da narrativa, integre-se ao cotidiano fornecendo-lhe significado e evitando, dessa forma, que a humanidade perca raízes, lastros e identidades” (DELGADO, 2004, p.17).
Assim a memória se difere da história pois está mais ligada à ficção, a uma reconstrução que confere importância a algo que passou, atualizando-o. O esforço por rememorar passa pela criação de narrativas na tentativa de significar o passado “A memória é sempre transitória, notoriamente não confiável e passível de esquecimento; em suma ela é humana e social” (HUYSSEN, 2000, p.37).
Partindo dessa concepção a websérie “Cinemas de Rua em Juiz de Fora” busca ressignificar a memória juizforana ligada ao audiovisual atualizando-a. A relação de Juiz de Fora com a atividade cinematográfica se estabelece desde os primórdios da sétima arte no Brasil, do cinema dos primeiros tempos . Na cidade teria ocorrido a primeira exibição fílmica do Estado de Minas Gerais no dia 23 de julho de 1897. Dentro do período de recorte desta pesquisa, anos 1950 a 2015, foi verificada a existência de cerca de 18 cinemas de rua.
É necessário fazer aqui uma distinção entre os cinemas localizados em prédios comerciais, shoppings centers em sua maioria, locais que Marc Augé (1994) define como não-lugares , e os chamados cinemas localizados em vias públicas, os quais podem-se compreender como espaços de encontro e de sociabilidade (FERRAZ, 2008). Esses cinemas estabelecem uma relação direta com o espaço em que estão inseridos, são lugares de afeto ou “afecção” (DELEUZE, 2002).
A partir deste panorama foi a concebida a websérie estudada. A produção da série foi dividida em 3 grandes capítulos: Cinemas da rua Halfeld, outros cinemas do centro e cinemas de bairro. Cada episódio tem como tema central um dos cinemas de rua da cidade. A estrutura central de cada episódio é guiada por um limite de tempo, em geral de 3 a 6 minutos. Atualmente cinco episódios foram produzidos e estão disponíveis no YouTube. O conteúdo é disponível para todo o público e aberto para debates e interação dos espectadores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através desta pesquisa foi possível perceber como os cinemas de rua estiveram presentes na cidade de Juiz de Fora e constituíram muito do imaginário urbano da cidade. A websérie ao recontar as histórias dos frequentadores e trabalhadores desses espaços possibilitou a atualização da memória ligada à atividade exibidora na cidade. Isso pode ser percebido através do acompanhamento das interações dos conteúdos relativos a websérie, onde foi possível observar como a memória desses cinemas desperta um desejo de participação em muitos usuários da rede, em alguns comentários os espectadores chegam a repensar a valorização e o lugar da cultura.
Bibliografia
- AUGÉ, Marc. Não-lugares – Introdução a uma antropologia da sobremodernidade. Trad. Maria Lúcia Pereira. 3. ed. Campinas, São Paulo: Papirus, 1994.
DELEUZE, Gilles. Espinosa: Filosofia prática. Tradução: Daniel Lins e Fabien Pascal Lins. São Paulo: Escuta, 2002.
DELGADO, Lucília de Almeida Neves. História oral e narrativa: tempo, memória e identidades. História Oral, nº6, 2003.
FERRAZ, Thalita. Cinema de rua e construções de memórias no espaço urbano da Praça Saens Peña. In: Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho, 6., 2008, Rio de Janeiro. Anais… Disponível em: .
HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória – arquitetura, monumentos, mídia. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000.
CINEMA DE RUA EM JUIZ DE FORA. Comcime, 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/channel/UC11mhvrELqyFny1xyC4ysVQ